Disputa por controle da Itapemirim é desafio à compra da Passaredo

De Valor Por João José Oliveira Imagem Diego Almeida Araújo / Weiller Alves A proposta de compra da companhia aérea regional Passaredo pela empresa de transporte rodoviário Itapemirim, anunciada na ...
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De Valor
Por João José Oliveira
Imagem Diego Almeida Araújo / Weiller Alves

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A proposta de compra da companhia aérea regional Passaredo pela empresa de transporte rodoviário Itapemirim, anunciada na segunda-feira à noite, tem obstáculos legais para seguir adiante, segundo Andrea Cola, neta do fundador da Itapemirim, Camilo Cola, que pede na Justiça a retomada do controle da empresa de ônibus.

Segundo Andrea, a transferência de controle da Itapemirim para os empresários Sidnei Piva de Jesus e Camila de Souza Valdívia – em outubro do ano passado – foi feita de forma irregular. Ela aponta que o negócio original deveria valer apenas para as linhas operadas diretamente pela Itapemirim, mas acabou envolvendo todas as empresas do grupo, incluindo imobiliárias e imóveis. “Havia um memorando inicial, que foi assinado por meu pai, mas que foi transformado depois em outros contratos com vários anexos, com falsas assinaturas”, disse Andrea, filha do ex-deputado federal Camilo Cola Filho (PMDB).

Em maio último, a família Cola entrou com ações na 13ª Vara Civil Especializada Empresarial de Recuperação Judicial e Falência de Vitória (ES) para anular a transferência de controle da companhia e para bloquear a venda de ativos da empresa.

“Eles estão demitindo trabalhadores sem pagamento de rescisões e transferindo ativos para outras empresas”, acusa Andrea Cola, referindo-se aos empresários Sidnei Piva de Jesus e Camila de Souza Valdívia. A informação das demissões sem pagamento de direitos foi confirmada pelo sindicato dos motoristas de Vitória.

Foi nessa mesma 13ª Vara que a Itapemirim entrou, em março de 2016, com o pedido de recuperação judicial — processo que envolve dívidas trabalhistas e com fornecedores de R$ 330 milhões e passivos tributários da ordem de R$ 1 bilhão.

Andrea afirma que a transferência de controle da Itapemirim foi adiante porque a família estava afastada da empresa desde junho de 2015. “Meu pai confiou no Anísio [José Fioresi]”, disse ela, referindo-se ao diretor-presidente da Itapemirim, amigo de infância do pai dela.

Procurados pelo Valor, os empresários Sidnei Piva de Jesus e Camila de Souza Valdívia, bem commo os atuais executivos da Itapemirim, não quiseram se pronunciar. Jesus e Camila têm sociedade em dez empresas, que somam menos de R$ 4 milhões em capital social, tais como a provedora de serviços de hospedagem na internet Procarta Informática, e a prestadora de serviços de tecnologia DeltaX.

A Itapemirim, que foi a maior empresa de transporte rodoviário de passageiros do país – e nos anos 90 chegou a ser dona até de montadora de ônibus, a Tecnobus, e fazer transporte de carga aérea -, entrou em crise em 2008.

A companhia foi afetada pela migração de passageiros para o modal aéreo, pelo encarecimento do crédito na crise financeira e pela migração de passageiros para o modal aéreo, pelo encarecimento do crédito na crise financeira e pelo impasse na regulação do setor pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) – que começou em 2008 e só foi resolvido em 2015, quando finalmente concessões foram substituídas por um modelo de autorização por linhas.

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Outro obstáculo para a Itapemirim comprar a Passaredo é que a empresa de ônibus ainda não teve aprovado em assembleia de credores o plano de recuperação judicial.

A Passaredo, com sede em Ribeirão Preto (SP), por sua vez, também enfrenta seu próprio processo de recuperação judicial, desde 19 de outubro de 2012. O plano – que envolvia dívidas superiores a R$ 150 milhões – foi aprovado pelos credores em maio de 2013 mas ainda não foi concluído.

A companhia aérea não divulga balanços desde 2014, quando registrava ativos de R$ 284,1 milhões para um patrimônio líquido negativo de R$ 110,29 milhões. Em junho de 2016, a Passaredo anunciou a demissão de 300 funcionários, para 700 pessoas, e reduziu a frota, de 14 para sete aeronaves. Os destinos atendidos diminuíram de 26 para 20.

O atual controlador da Passaredo, José Luiz Felício Filho, e o presidente da aérea, Adalberto Bogsan, não quiseram responder as perguntas da reportagem.

Os atuais donos da Itapemirim dizem que o plano de negócios é integrar as malhas aérea e terrestre de passageiros e de carga das duas companhias, com ampliação da frota da Passaredo dos atuais sete para 27 aviões até o fim de 2018.

O fechamento da compra da Passaredo pela Itapemirim, segundo comunicado divulgado pelas duas companhias na segunda-feira, “aguarda cumprimento de condições suspensivas”. Durante esse período, estimado em 60 dias, a gestão da Passaredo seria feita de forma compartilhada. Depois, Piva de Jesus assumiria o comando executivo da Passaredo.

O Grupo Itapemirim – que reúne as empresas Viação Itapemirim, Transportadora Itapemirim, Itapemirim Transportes, Imobiliária Bianca, Cola Comercial e Distribuidora e Flecha Turismo Comércio e Indústria. – atua em 22 Estados com uma frota de 1,2 mil ônibus.Transportou 9,8 milhões de passageiros no ano passado.