Magirus-Deutz, o primeiro e único chassi para ônibus com motor diesel, refrigerado a ar, fabricado no Brasil

Fonte: Mobilidade em FocoMatéria/Texto: Carlos Alberto RibeiroFotos: Show Room – Imagens do Passado Parte 1 – A Magirus-Deutz, ontem e dos dias de hoje A Magirus-Deutz, Klockner-Humboldt-Detuz ...
Fonte: Mobilidade em Foco
Matéria/Texto: Carlos Alberto Ribeiro
Fotos: Show Room – Imagens do Passado


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Parte 1 – A Magirus-Deutz, ontem e dos dias de hoje
A Magirus-Deutz, Klockner-Humboldt-Detuz Ag., é uma fabricante de motores de combustão, diesel, com nome e renome mundial. Fundada em 1864, segundo alguns em 1894, por Nicolais August Otto e Eugen Langen, foi batizada como “N.A. Otto & Cia.. Da pequena fábrica de motores nascida na cidade de Colônia, na Alemanha, a Magirus-Deutz evoluiu para detentora de tecnologia de ponta em motores de combustão. Os últimos registros disponibilizados asseguram que a empresa possui seis mil funcionários e presença marcante de seus motores em 130 países nos cinco continentes.

Como é praxe em tudo que é fabricado na Alemanha ou detém “know-how”, licença de produção deles, os motores Deutz são classificados como produtos extremamente avançados quanto a arquitetura, relação peso/cv, vida útil e consumo em Gr/Kw/Hora. E atendem a Norma Euro 6. Os seus motores equipam tratores agrícolas, grupos geradores de energia elétrica, compressores de ar e empilhadeiras, apenas para citar alguns dos segmentos em que a Magirus-Deutz atua. Outro setor onde tem presença marcante é a fabricação de veículos para bombeiros, onde as famosas “escadas Magirus” são mundialmente conhecidas.
Parte 2 – Tratores Agrícolas Magirus-Deutz, os “The Best” entre 1900 a 1960
Os primeiros tratores foram desenvolvidos em 1894, com potência de 26 cv, a gasolina. Em 1927 lançaram a sua segunda geração de tratores, a 222 MTH. Nove anos depois, 1936, foi lançado o “Infa-Deutz – Trator Farm”, grande sucesso de vendas, com motor refrigerado a ar, a gasolina. Dele foram comercializados 35.000 unidades entre 1936 a 1959. O motor monocilindro F1L514 equipou o primeiro trator de uma nova série e chegou a ter versão de 65 cv. Em 1953 os tratores da já renomada fabricante foram os primeiros do mundo a ter tomada de força para acionar implementos como roçadeiras, batedeiras de cereais, pulverizadores, entre outros.
Parte 3 – A Magirus-Deutz no Brasil
Os produtos da Magirus-Deutz começaram a chamar a atenção dos brasileiros em meados da década de 1950 na exposição do IV Centenário de São Paulo. Não era uma marca totalmente desconhecida do mercado, afinal já existiam tratores da marca no Brasil desde os anos 30. A reputação era boa, os tratores eram considerados como muito bons e, por serem refrigerados a ar, existia o conceito de que eram superiores, não ferviam, menos peças, manutenção mais barata e vida útil mais longa.
Obviamente que assim que a Valmet e a Massey Ferguson instalaram suas fábricas no Brasil, no fim dos anos 50 e início dos anos 60, a fama dos Deutz foi por água abaixo, gradativamente. De importados, nos anos da década de 1960 os Deutz passaram a ser fabricados no Brasil, com os modelos DM 40, com motor de dois cilindros; DM 55, motor de três cilindros e o DM 75, motor de quatro cilindros, todos com motor diesel e refrigerados a ar.
Parte 4 – Indústria Automotores do Nordeste S.A., a Magirus-Deutz avança para outros segmentos: ônibus e caminhões
Em 1960 a direção da Magirus-Deutz na Alemanha começou a projetar à implantação de uma fábrica no Brasil. A tramitação da papelada junto as autoridades brasileiras e compra de terreno concretizou-se no ano de 1966. A inauguração da fábrica ocorreu no dia 11 de novembro de 1967, no Centro Industrial de Aratu, na capital da Bahia, Salvador, com pompa e muita divulgação nos grandes jornais e revistas da época.
Construída numa área de 170.000 metros quadrados, o objetivo inicial era fabricar 1.500 ônibus/ano com chassi e motor Deutz
A fabricante definiu seus chassis como sendo “integrais”, com versões para uso rodoviário e urbano. Catalogando para os dias de hoje, seriam chassis médios, pois foram homologados tecnicamente para 13.000 quilos. A peculiaridade mais interessante estava no motor, com refrigeração a ar. A publicidade dizia o seguinte: “Esse motor não possui radiador, mangueiras, bombas d’água ou outro qualquer inconveniente dos motores refrigerados a água”. Por ser novidade, por ter tecnologia alemã, várias empresas passaram a incorporar em suas frotas ônibus com esses chassis, como a Itapemirim, Fortaleza, Garcia, Única, Reunidas (de Santa Catarina), Princesa dos Campos, entre outras.
O chassi Magirus-Deutz, para uso urbano ou rodoviário, recebeu o motor da mesma marca, modelo F6L 1014E, diesel, seis cilindros, aspirado, refrigerado a ar, potência de 150 cv, posicionado na traseira do chassi. Um dos catálogos de publicidade dizia que ele arrancava instantaneamente, o que é uma mentira. Nenhum motor diesel tem essa condição. Somente os motores elétricos conseguem partir com 100% de carga, os de combustão precisam partir em ponto morto ou com a embreagem acionada. Da publicidade inicial aos primeiros problemas a insatisfação dos clientes não demorou muito.
Pelo contrário, pouco tempo de uso nas estradas e ruas bastou para comprovar que os motores Deutz refrigerados a ar até poderiam serem bons no clima frio da Europa, mas ruins para o clima tropical do Brasil, pois começaram a apresentar problema crônico de super aquecimento, consumo elevado, perda de desempenho, vida útil reduzida. Ônibus com esses chassis, seminovos, com quilometragem percorrida ainda baixíssima tiveram de terem seus motores trocados, não por um novo Deutz, mas por outros refrigerados a água, das marcas Mercedes-Benz, Scania e FNM. O prejuízo das empresas que compraram foi grande.
A perda de clientes foi avassaladora para a Magirus-Deutz brasileira, que não foi capaz de resolver rapidamente o problema do super aquecimento de seus motores. Com isso, não restou outro caminho senão o de fechar as portas da sua fábrica no Brasil, cujo parque industrial foi adquirido pela multinacional americana Cummins. Na Europa, onde também não estava tão bem das pernas, em 1975 o seu controle acionário majoritário passou para o Grupo Fiat. Mais tarde, início dos anos 80, Magirus-Deutz e a Fiat Caminhões, juntamente com a Unic, OM e a Lancia juntaram seu capital, parques fabris e tecnologia para fundarem a Iveco, hoje, uma “player” mundial na fabricação de caminhões, vans e chassis pra ônibus.