Homem rouba ônibus no Rio para visitar a família no Nordeste

Fonte: G1 Rio de Janeiro Matéria / Texto: Mariucha Machado Foto: JC Barboza  O alagoano José Gilson dos Santos, de 25 anos, que roubou um ônibus e dirigiu por quatro quilômetros na madrugada ...
Fonte: G1 Rio de Janeiro
Matéria / Texto: Mariucha
Machado
Foto: JC Barboza 

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O alagoano José Gilson dos
Santos, de 25 anos, que roubou um ônibus e dirigiu por quatro quilômetros na
madrugada desta segunda-feira (7), na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, contou
ao G1 que cometeu o crime porque queria apenas o dinheiro arrecadado para
voltar para Alagoas, onde nasceu. Disse que precisava de R$ 380, o valor da
passagem. Com lágrimas nos olhos, reconheceu que tinha bebido cachaça antes do
crime, mas afirmou ter consciência do que estava fazendo.

“O cara [motorista]
deixou o ônibus ligado. Eu já dirigi ônibus, caminhão, carro pequeno, moto.
Desde 2007, meu ex-sogro tem um caminhão e ele me ensinou. Eu não sabia que ele
ia parar o ônibus ali. Foi sem esperar”, disse o suspeito, que jura não
ter planejado o roubo.
José Gilson disse que chegou
a oferecer para o motorista um pneu de moto que tinha achado no lixo em troca
de dinheiro. “Eu ia pegar o dinheiro e iria direto pra rodoviária. Eu não
queria o ônibus, só o dinheiro mesmo pra eu ir embora. O ônibus eu ia deixar lá
mesmo. Eu tirei o ônibus do lugar para quando ele [motorista] viesse ele não me
visse. Eu pensei que tirando daria tempo de caçar o dinheiro. Certo é certo,
vou mentir por quê? A minha mãe sofre noite e dia porque não tem condições de
mandar o dinheiro da passagem pra mim.”
Segundo a delegada
assistente de 32ª DP (Taquara), o alagoano vai responder por furto simples. A
pena para o crime varia de um a quatro anos. Uma fiança no valor de R$ 800 foi
estabelecida, mas ninguém tinha quitado até as 14h desta segunda.
Vivendo na rua
Morador de rua há um ano e
meio, contou que veio para o Rio procurar emprego. Para sobreviver, comia
alimentos que encontrava nos lixos. “Já vivo há um ano e seis meses
dormindo na rua. Cato latinhas, pet, faço bico. Olha, as minhas mãos estão suja
de graxa. Todo mundo sabe na Cidade de Deus, Curicica, porque eu já morei ali.
Aqui eu não tenho parente nenhum, família nenhuma.”
O alagoano contou que uma
pessoa que conheceu em Madureira, na Zona Norte, jogou os documentos dele fora
sem querer. “Eu deixei os meus documentos em uma birosca lá em Madureira,
mas quando a senhora dele [dono da birosca] chegou e foi fazer a limpeza, ai ela
pegou a sacolinha branca, sem olhar o que tinha dentro, e colocou no lixo. A
minha mãe é de Alagoas, de uma cidade perto de Maceió. Eu liguei pra minha mãe
ir em Campo Alegre, onde eu nasci, para pegar a segunda via do registro. Mas
está muito difícil. Ninguém quer dar emprego para a pessoa que não tem
documento, esse povo fica com medo, desconfiado. A pessoa fica só trabalhando
de bico, pra ganhar R$ 30, R$ 40 e, as vezes, só um prato de comida”,
declarou o pai de um menino de três anos, dizendo que a família não sabe que
ele foi preso.
“Coração a três mil”, diz
motorista
Todos os passageiros já
haviam desembarcado do ônibus quando ele foi roubado. O coletivo estava parado
no ponto final após sua última viagem do dia, quando o motorista Ivaldo Brasil
desceu para ir ao banheiro. Na volta, moradores deram o alerta ao condutor, mas
o veículo já havia desaparecido.
“O coração foi a três
mil. Eu corri, entrei na Cidade de Deus e perguntei: Você viu um ônibus
passando por aqui?”, contou o motorista.
Sujo e sem camisa, o homem
chamou atenção de policiais militares na rua. O coletivo foi parado quase 4 km
depois, longe do trajeto que fazia entre a Gávea e a Cidade de Deus. De
madrugada, o suspeito prestou depoimento na delegacia.
Depois de recuperar o
ônibus, o motorista, que trabalha na linha há mais de 10 anos, contou que
estava aliviado. “Imagina se essa pessoa atropela uma criança, uma família
ou alguém?”.