Voltando ao passado: Águia Branca e Catarinense compram linhas da Itapemirim e Penha

Fonte: Mobilidade em Foco Matéria / Texto: Carlos Alberto Ribeiro Fotos: Acervo Paraíba Bus Team O ano era 1999. Fernando Henrique Cardoso o presidente. Segundo ano do segundo mandato e a crise dos ...

Fonte: Mobilidade em Foco

Matéria / Texto: Carlos Alberto Ribeiro

Fotos: Acervo Paraíba Bus Team
DSC00423O ano era 1999. Fernando Henrique Cardoso o presidente.
Segundo ano do segundo mandato e a crise dos Tigres Asiáticos assombrando as finanças de vários países, inclusive o Brasil. Mas não foi só. Rússia,
Inglaterra, foram algo em torno de 11 os blecautes econômicos vividos naqueles
tempos. FHC já não tinha mais a popularidade de 1995, havia desgaste político,
inflação querendo sair do plano de metas, problemas de câmbio, reservas
internacionais diminuindo e empréstimo de dinheiro do FMI para tentar
estabilizar a economia. 

Um cenário perfeito para pegar no contrapé empresas cujo planejamento
orçamentário anual não previa aporte de recursos significativo para capital de
giro. Que não fazia um contingenciamento de numerário para créditos duvidosos e
para possível queda de receita fruto da conjuntura de mercado vivida. Se o
faturamento se manifestasse de forma ascendente, tudo bem, os ativos da companhia
preservavam os seus valores, os custos fixos e variáveis da planilha de custos
poderiam serem suportados e até a remuneração do capital e de possíveis
acionistas justamente contemplado.

Do contrário, um cenário adverso, com curva descendente, fruto de
mercado recessivo e queda da receita, os ativos se deterioram, ações perdem
valores, o passivo da empresa aumenta significativamente, o mercado perde
confiança e até a tomada de empréstimo de recursos, caso necessário, fica
restrita e a mercê de taxas de juros mais altas. Caso a receita não volte a
subir o suficiente para gerar divisas necessárias para equilibrar a relação
faturamento/custo, o jeito, muitas vezes, é tomar empréstimo em bancos, ou
abrir o controle societário da empresa para a entrada de dinheiro para capital
de giro ou então vender bens imóveis ou móveis da empresa. 

Pois bem, informações dão conta de que este era o cenário vivido pelo
Grupo Itapemirim no final dos anos 90. Um conglomerado de várias empresas, que
se estende desde fazendas de plantação de café, agropecuária, exploração de
mármore, do qual é a maior exportadora do Brasil, concessionárias de autos, a
divisão de ônibus e a divisão de cargas. O faturamento conjunto do grupo, hoje,
em torno de R$ 1,1 bilhão, do qual, a divisão de ônibus responde por algo como
R$ 355 milhões, mas com prejuízo de cerca de R$ 40 milhões. Ou seja, a divisão
de ônibus, a que mais fatura do grupo, vem operando no vermelho. Segundo
analistas, o sangradouro que vem consumindo a vitalidade econômica da Viação
Itapemirim, outrora tão saudável e ainda a maior do Brasil, atende pelo nome de
Itapemirim Cargas, o braço deficitário do grupo.


E isso não vem de hoje, pelo contrário, já vem dos anos 90. Tudo fruto,
segundo experts e versões já dadas em inúmeras matérias, do espírito agressivo
do grupo, cujo “norte” sempre foi o investimento, as aquisições, as ampliações.
Nada contra, afinal tal agressividade levou a divisão de ônibus a ser um ícone
das estradas, a maior empresa do Brasil e da América Latina. Mas, por outro
lado, tudo na vida tem um ciclo e nem sempre é época de “vacas gordas”.
Parece-me que o período de “vacas magras” começou já naquela época. 

Senão, vejamos: 


1) A criação da Itapemirim Cargas Aéreas no final dos anos 80 revelou-se
um fracasso e toda a sua estrutura, incluindo aviões cargueiros foi vendida
tempos depois, em 1998, para a TAM; 

2) A divisão de cargas terrestres, Itapemirim Cargas, consumiu
significativo aporte de recursos da “empresa-mãe”, a divisão de ônibus. Consta
que jamais o capital empregado na divisão de cargas aéreas e terrestres foi
amortizado, zerado. Melhor ainda, não é somente a amortização, o capital
precisa também gerar dividendos, o que também nunca gerou. O significativo
aporte de recursos para a construção da Tecnobus, cuja produção em larga escala
de carroçarias pra ônibus encerrou-se em 1997, não sabemos ao todo se o mesmo
foi plenamente amortizado na planilha de custos. 

Talvez não. Tanto é que no ano de 1999 ocorreu a primeira grande venda
de ativo do patrimônio da empresa, que foi a venda para a:


1) Auto Viação Catarinense de nada mais nada menos do que 17 linhas e
mais 120 ônibus;

2) Águia Branca, repassado 12 linhas e algo estimado em torno de 50
ônibus;

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TOTAL VENDIDO ÁGUIA BRANCA/CATARINENSE: 29 linhas e 170 ônibus.


VALOR ESTIMADO: mais de R$ 100 milhões (reais). 

PARA A CATARINENSE

Foram
110 ônibus com carroçarias Tecnobus, dos modelos Tribus 3 e Superbus 3, sendo o
primeiro com chassi trucado e o segundo com chassi no “toco”, 4 x 2. Todos com
ano de fabricação de 1990 a 1996. Quanto ao grupo motopropulsor, a composição
era de Scania KT 112, K 113, K 113 CL e Mercedes-Benz O-371/O-400.

30007 Catarinense

Catarinense+30017

Ainda fez parte do pacote cinco O-400 RSD (Rodonave/Leito) e mais cinco
Busscar Vissta Buss, que operavam no serviço da empresa denominado de “Golden”.
Devido ao fato do Vissta Buss ter sido lançado em 1997, tinham dois anos de
idade e eram os carros mais novos da frota vendida. 

catarinense33105

mono+cat

As linhas, extremamente rentáveis, com um índice excepcional de IPK
(índice de passageiros por quilômetro), em rodovias bem conservadas e
pavimentadas, foi um ótimo negócio para a holding JCA (Jelson Carlos Antunes),
controlador da Catarinense, 1001, Cometa e outras empresas de menor porte.

Cito
algumas das linhas:

Rio do Sul (SC) x São Paulo (Leito e Convencional); Rio do Sul x
Curitiba (Convencional); Ituporanga (SC) x Curitiba (Convencional); Indaial
(SC) x Curitiba (Convencional); Blumenau (SC) x Curitiba (Convencional);
Blumenau x São Paulo (Leito e Convencional); Jaraguá do Sul (SC) x Curitiba (Convencional).
Algumas dessas linhas com vários horários diários de partidas e bom número de
assentos ocupados.

PARA A ÁGUIA BRANCA

12
linhas e 50 ônibus.

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%25C3%25A1guia+branca+20260

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As linhas, muito rentáveis, foram as seguintes:


Campos x Rio de Janeiro; Campos x Queluz; Campos x São Mateus; Vitória x
Rio de Janeiro (explorada pela Penha e Itapemirim). A Penha fazia essa linha
via Vila Velha, passando pelo litoral. E a Itapemirim via BR-101.

Continuando, Campos x Vitória; Rio de Janeiro x Salvador (via BR-101);
Rio de Janeiro x Colatinha; Rio de Janeiro x Aracruz; Vitória x São Paulo (via
Vila Velha); Colatina x São Paulo; Campos x São Paulo. A maioria dessas linhas
eram exploradas pela Penha.

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Aguia+Branca+15050

Os ônibus revendidos para a Águia Branca, que já operavam nessas linhas,
eram dos modelos monobloco O-400 RSD, da série 33001 a 33099. Também vários
carros Tecnobus Tribus 3 fizeram parte do pacote de aquisição “linha/ônibus”.


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