Trens: Odebrecht e Itapemirim formam consórcio

O primeiro projeto deverá ser a concorrência do governo paulista para as Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda da CPTM, programada para 2 de março de 2021.
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Por Valor Econômico
Imagem Beth Santos (Secretaria Geral da PR / Agência Brasil)

A Odebrecht (agora Novonor) e a Itapemirim firmaram uma parceria para tentar disputar leilões de infraestrutura. O primeiro projeto deverá ser a concorrência do governo paulista para as Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), programada para 2 de março de 2021. As companhias ainda estão em busca de um sócio com fôlego financeiro para a licitação, mas já vislumbram outros alvos.

“Esperamos que a parceria se estenda para rodovias, aeroportos, linhas de VLT [Veículo Leve sobre Trilhos]”, afirmou Sidnei Piva, presidente e acionista majoritário da Itapemirim. “É um casamento de duas empresas brasileiras, com intenção de desenvolvimento nacional”, completa Marco Siqueira, presidente da Odebrecht Engenharia e Construção (OEC).

A concessão das Linhas 8 e 9 deverá ser um dos grandes projetos de 2021. Os investimentos previstos somam R$ 3,2 bilhões, ao longo de 30 anos. Além disso, vencerá a disputa quem pagar o maior valor de outorga – o que demanda um aporte já de início.

“Temos várias conversas com fundos internacionais de grande porte. Estamos prospectando desde março”, diz Piva.

Em fevereiro, o executivo participou de uma comitiva do governador João Doria (PSDB) aos Emirados Árabes. Na viagem, anunciou o recebimento de US$ 500 milhões de um fundo soberano do país – com os quais lançará um novo negócio de aviação. Também foi nesta viagem que nasceu o interesse pelo projeto de mobilidade do Estado, afirma. O financiamento, porém, não necessariamente virá desse mesmo fundo. “Temos outras opções, em Cingapura, nos EUA.”

A OEC está em fase final de reestruturação das suas dívidas, e sua controladora Novonor, em recuperação judicial, tampouco teria capacidade para alocar grandes volumes de recursos no curto prazo. Para a construtora, o principal objetivo é ganhar a obra. A empresa, que viu seu portfólio enxugar drasticamente nos últimos anos, é a principal aposta da Odebrecht para se reerguer.

A Itapemirim também está em recuperação judicial. A previsão de Piva é encerrar o processo até fevereiro de 2021, antes do leilão. Ainda restam R$ 180 milhões de dívidas a serem quitadas, mas o executivo diz que tem caixa para fazer frente aos compromissos, apesar de seu principal negócio, o transporte de passageiros por ônibus, ter sido um dos mais prejudicados pela pandemia.

Ele afirma que a retomada foi possível pelo aumento da demanda no transporte de cargas, e pelos cortes de custos relevantes no período, com centenas de demissões. Além disso, o grupo tem levantado recursos junto a investidores de médio porte, diz.

Piva preferiu não dar uma projeção de receita do grupo para 2020. Pelos números de janeiro a junho (os dados mais recentes entregues à administradora judicial), a Viação Itapemirim registrava prejuízo líquido acumulado de R$ 37,8 milhões, e a Viação Caiçara, de R$ 10,7 milhões – o relatório não trouxe resultados dos demais negócios do grupo, como a transportadora.

Para conseguir encerrar seu processo de recuperação judicial, o grupo Itapemirim ainda terá que obter a aprovação dos credores em uma assembleia geral.

O processo tem sido conflituoso: a administradora judicial, EXM Partners, relatou atrasos na quitação de algumas das dívidas e informou que parte dos recursos arrecadados com a venda de ativos foram destinados a outros fins, inclusive a investimentos no novo negócio de aviação do grupo. A Justiça, porém, descartou a possibilidade de falência da companhia, defendeu a importância social de sua recuperação econômica e afirmou que o plano de pagamento está sendo substancialmente cumprido.

“Acredito que em 60, no máximo 80 dias, poderemos pagar os credores. Já temos a reserva de recursos e ainda temos uma infinidade de bens e imóveis [não vendidos no processo]. A recuperação judicial já é um passado para nós”, afirmou o presidente.

Em relação aos questionamentos da administradora, Piva avalia que os conflitos foram apaziguados. “Eventualmente, há uma petição ou outra, mas a Justiça está fazendo seu trabalho. Hoje, é uma recuperação tranquila.

O ânimo de Piva com a possibilidade de novos negócios é enorme. A nova companhia de aviação do grupo deverá ser lançada no início de 2021. Já foram compradas dez aeronaves, que deverão chegar até meados de janeiro, diz ele. O investimento foi de R$ 150 milhões.

Os planos vão muito além. O executivo demonstra entusiasmo em relação aos leilões de rodovias – de preferência, em parceria com a Odebrecht. “Diante do volume de oportunidades, acho quase impossível ficarmos de fora”, avalia. Também estão na lista de planos o lançamento de um banco digital e uma abertura de capital entre 2024 e 2025.


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