Double Decker 8×2 ganha espaço no transporte turístico

A evolução desse modelo de veículo ampliou a segurança e o conforto a bordo e é a nova aposta para as empresas de ônibus.
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Por Estadão
Imagens JC Barboza  / Rodrigo Gomes / Paulo Rafael Viana

O mercado de ônibus Double Decker (ou DD, sigla para dois andares) é relativamente novo no País. Começou a crescer a partir de 2016, com a Lei 13.281, do Código Brasileiro de Trânsito, que permitiu a produção desses modelos com 15 metros de comprimento. No entanto, a lei obriga que esses veículos sejam configurados com o quarto eixo adicional.

Isso serviu de incentivo para que empresas de transporte de passageiros com foco no turismo de alto padrão migrassem do ônibus 6×2 de 14 metros para o 8×2 de 15 metros. Trata-se de um segmento mais exigente com relação ao nível de conforto. Os veículos precisam de mais espaço a bordo para os passageiros e para acomodar bagageiros.

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Embora 1 metro possa parecer pouco, frente ao 6×2, a versão 8×2 se traduz em maior rentabilidade na operação de transporte, podendo compensar as perdas ocasionadas pela gratuidade.

Muitas possibilidades para operar

De acordo com Fábio D’Angelo, gerente de vendas de ônibus da Scania, dependendo da configuração do salão, o ônibus 8×2 pode receber de quatro a oito poltronas adicionais. A versatilidade se complementa pelas variadas configurações das carrocerias tanto no piso inferior como no superior.

Existem configurações com leito no piso inferior ou semileito no superior. Há outros frotistas que optam por assentos executivos no piso superior e semileito na parte inferior, por exemplo. A configuração mais convencional do salão é semileito embaixo e executivo na parte de cima.

Para ter uma ideia do quanto esse segmento se tornou representativo, até 2015 o mercado de veículos DD – até então representado por chassis 6×2 – girava em torno de 50 ônibus por ano.

Em 2019, o mercado de Double Decker, composto por modelos 6×2 e 8×2, representou cerca de 25% do mercado total de chassis rodoviários. Mas, se contar apenas com a participação do 8×2 DD, chegou a 63%.

A expectativa neste ano era de que o veículo 8×2 DD ganhasse ainda mais espaço no mercado não fosse a crise pandêmica. “O mercado de aplicação de piso duplo vem se consolidando ano a ano.

A versão 8×2 já ocupa entre 11% e 15% do mercado total de veículos para a aplicação rodoviária. Mas, quando se observa especificamente a operação de piso duplo, de janeiro a maio deste ano, o chassi 8×2 representa 70% das vendas”, explica D’Angelo.

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Empresas motivadas por essa maior flexibilidade do veículo de dois andares começaram a adquiri-lo. Grupos como Guanabara, JCA, Águia Branca e Eucatur têm em suas frotas ônibus 8×2 DD.

Ônibus DD é referência em segurança embarcada

Três fabricantes estão presentes no mercado de chassis 8×2: ScaniaVolvo e Mercedes-Benz. E também são três marcas que produzem a carroceria: a Marcopolo (mais popular) produz a carroceria Paradiso 1800 DD, a Comil é representada com a versão de carroceria chamada Campione Invictus DD e, por fim, a Busscar faz a carroceria Vista Buss DD.

Com relação aos chassis, o diferencial é a segurança embarcada. Tanto é que uma exigência imposta por lei e que vale para todos os veículos DD 8×2 produzidos no País é o sistema antitombamento, necessário por causa da maior altura desses modelos. Além disso, as marcas também oferecem sistemas de segurança ativa, sendo que alguns desses itens entram no pacote de série.

Por causa de suas dimensões e capacidades, esses chassis são equipados com motorização superior a 400 cv. No que se refere ao conforto, todos contam com suspensão pneumática e transmissão automatizada como itens de série.

Motor mais potente e menos consumo de combustível

O representante da marca da estrela de três pontas é o O500 RSDD 8×2. O veículo já é conhecido na versão com motorização de 408 cv e, recentemente, a Mercedes-Benz apresentou um novo modelo com potência de 430 cv desenvolvidos a partir de 1.900 rpm e torque de 214 mkgf a 1.100 rpm.

Com a demanda do mercado por motores mais potentes, a Mercedes, mesmo em meio à crise pandêmica, optou por não adiar o lançamento do O500 2743 RSDD.

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Mercedes-Benz O500 RSDD 8×2

Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing de ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, acredita que, com a retomada do mercado e o turismo em alta, o novo chassi de 430 cv deverá ser o protagonista da família.

Isso porque o motor mais potente contribui para melhor velocidade média e o torque mais forte possibilita que o ônibus trafegue em baixa rotação. E isso pode trazer economia de combustível de até 10%.

Esse motor é combinado a uma transmissão automatizada produzida pela Mercedes, denominada GO 240, de seis marchas. Com relação aos equipamentos de segurança, a lista conta com todos os itens de série.

Com isso, o chassi da Mercedes-Benz se destaca em relação aos concorrentes, que também oferecem sistemas de segurança ativa, porém a maioria como opcionais.

A lista de sistemas da Mercedes inclui controle de cruzeiro adaptativo ou piloto automático (ACC), sistema avançado de fenagem de emergência (AEBS), recurso que aciona os freios de modo automático em caso de risco iminente de colisão frontal.

E o LDWS, sistema que alerta quando o veículo sai de forma involuntária da faixa de rolamento. Além de aviso sonoro e visual, por meio de luzes no painel, é possível agregar um dispositivo que faz vibrar o banco do motorista.

A fabricante Scania oferece duas opções de potência no segmento DD 8×2. O K 400, de 400 cv, e o K 440, de 440 cv, sendo o modelo de maior potência o topo de linha da fabricante. Ele é equipado com motor Scania com torque de 234,6 mkgf entre 1.000 e 1.300 rpm, o maior torque da categoria.

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O motor trabalha com a transmissão automatizada Opticruise de 12 marchas. De série, a Scania oferece o freio retarder e o piloto automático. A suspensão é pneumática e conta com sistema de elevação e rebaixamento.

O Scania ainda oferece o item chamado Drive Support. Ele auxilia o condutor a tirar a melhor performance do veículo, por meio de dicas apresentadas no painel de instrumentos. A vantagem é que, no final de cada viagem, o sistema avalia a forma como o motorista conduziu o ônibus. Essa ferramenta ajuda a economizar combustível.

Outro sistema que Fábio D’Angelo, gerente de vendas de ônibus da Scania, destaca é o Actcruise. Ele monitora a rota do veículo por ser conectado ao GPS. “Com isso, ele ajuda a racionalizar combustível, já que elege a melhor marcha de acordo com a velocidade do veículo.”

A lista de itens de segurança é vasta, oferecida por meio do Advanced Driver Assistance Systems (Adas). Ele é constituído por sistemas que utilizam câmera e radares instalados no para-brisa e no para-choque do ônibus. São três dispositivos: o sistema de frenagem de emergência avançada (AEB), que mede a distância e a velocidade relativa de qualquer veículo na pista para intervir e evitar acidentes.

O segundo componente é o aviso de saída de faixa (LDW), que monitora as faixas de rolagem da pista e avisa o motorista quando o ônibus sai da pista de forma involuntária.

O terceiro elemento que compõe o Adas é o controle de cruzeiro adaptativo (ACC), cuja função é auxiliar o condutor a manter um intervalo de distância constante em relação ao veículo da frente. Esses sistemas são opcionais.

Ideal para turismo de luxo

Os representantes da Volvo dentro da categoria de veículos de dois andares são B380R, B420R e B450R, todos com configuração 8×2. Mas o mais popular é o B450R, por ter motor Volvo de 450 cv, o mais potente da categoria.

Um diferencial para o operador que atua no transporte de médias a longas viagens rodoviárias, por possibilitar maior velocidade média. Esse propulsor trabalha em conjunto com a transmissão automatizada I-Shift de 12 marchas como item de série.

A Volvo foi a primeira fabricante a introduzir sistemas de segurança ativos em seus ônibus. Isso antes mesmo de o DD ganhar as rodovias brasileiras. Paulo Arabian, diretor comercial da Volvo do Brasil, explica que os sistemas de segurança estrearam nos chassis rodoviários convencionais da marca e depois se estenderam para os demais chassis da Volvo.

Mas a demanda é maior para o 8×2 devido ao maior rebuscamento do equipamento. “São veículos que custam cerca de R$ 1 milhão e irão atuar no turismo de luxo. Por isso, o operador muitas vezes busca por um veículo completo.”

Os sistemas são oferecidos como opcionais e incluem freio retarder, sensor de faixa e sensor de proximidade. É modelo standard no chassi Volvo, tem suspensão pneumática com controle eletrônico e freio motor VEB, com capacidade de frenagem de 390 cv.

O freio a disco conta com ABS, por força de lei, e agrega sistema EBS, de frenagem eletrônica de quinta geração. O controle eletrônico de estabilidade (ESP) é também de série.