Empresas de ônibus têm perdas de R$ 2,5 bi e buscam socorro federal

O prejuízo resulta do forte desequilíbrio entre oferta e demanda.
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Por Biodieselbr
Imagens JC Barboza

As empresas de ônibus urbanos acumulam perdas de R$ 2,5 bilhões, somente nos últimos 30 dias, por causa de medidas restritivas à circulação adotadas com o avanço do coronavírus no país, segundo levantamento da principal entidade representativa do setor.

O prejuízo resulta do forte desequilíbrio entre oferta e demanda. A frota de veículos operando encolheu 25% em média, obedecendo determinações das prefeituras, mas houve redução de 80% do volume de passageiros transportados – cerca de 32 milhões de viagens individuais por dia.

Diante da crise atual, já foram contabilizadas 1.413 demissões e 2.023 suspensões de contrato de trabalho, segundo Otávio Cunha, presidente-executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), responsável pela pesquisa recém-concluída. Em meio aos problemas de caixa no setor, uma viação faliu em Guarulhos (SP) e outras duas estão próximas de encerrar as atividades no Paraná.

“Estamos numa situação de pré-colapso. Não é sofisma, não é ameaça, é a pura realidade. A conta [do prejuízo] só aumenta”, disse Cunha ao Valor. “O endividamento do setor já é alto, muitas empresas não têm condições de tomar crédito novo e só oferecer capital de giro não vai adiantar.”

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Em contatos com a equipe econômica e com o ministro de Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, a NTU pediu socorro da União por meio de um “programa emergencial de transporte social”. Seria uma aquisição de créditos eletrônicos de passagens de ônibus no valor mensal de R$ 2,5 bilhões – enquanto durar a pandemia. O dinheiro iria para as empresas de ônibus urbanos e as passagens poderiam ser usadas pelos inscritos no Cadastro Único de programas sociais do governo.

Além do diálogo aberto com o Executivo, a NTU deposita suas esperanças no andamento da MP 936, a medida provisória sobre manutenção do emprego e da renda que foi assinada pelo presidente Jair Bolsonaro e está no Congresso Nacional. Uma emenda aditiva do deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) inclui essa mesma proposta na MP. Cada crédito eletrônico de passagem corresponderia a uma tarifa pública vigente no sistema de transporte coletivo por ônibus de cada município ou região metropolitana.

Outro pedido da NTU ao governo é o fornecimento de óleo diesel pelas distribuidoras, a preço de custo, para as empresas de ônibus.

O levantamento da associação obteve informações relativas aos sistemas de transporte de 26 capitais, do Distrito Federal e de 14 regiões metropolitanas, além de diversas cidades de grande, médio e pequeno porte que cobrem um universo de 148 milhões de habitantes (70% da população do país).

Existem hoje 1,8 mil operadoras em 2.901 municípios. O faturamento anual do setor chega a R$ 42 bilhões. Apenas 11 sistemas têm algum tipo de subsídio público – em sua maioria para arcar com políticas sociais, como gratuidades de estudantes e idosos. Isso significa que, com raras exceções, os sistemas são custeados unicamente pelas tarifas dos passageiros e dependem da relação oferta-demanda do serviço.

É por isso que o impacto foi tão sentido pelas empresas quando prefeituras determinaram uma redução dos ônibus circulando nas ruas para favorecer o isolamento social. Apesar de imagens indicando veículos rodando cheios em algumas cidades, Cunha assegura que essa não tem sido a prática e a demanda caiu muito mais, provocando desajuste geral nas contas.

No Distrito Federal, houve diminuição de 22% da oferta e de 67% da demanda. Em Curitiba, a oferta encolheu 50% e a demanda ficou 91% menor. Em Aracaju, 30% da frota foi retirada de circulação e o número de passageiros baixou 72%. São Paulo, principal sistema do país e onde se distribui o maior volume de subsídios (cerca de R$ 3 bilhões por ano), teve uma relação mais equilibrada. Ambos os indicadores caíram perto de 55%.

O levantamento abrange o período entre 16 de março e 15 de abril. Houve paralisação total dos serviços em 180 municípios: Araguaína (TO), Ilhéus (BA), Jaboticabal (SP), João Pessoa (PB), Nova Pádua (RS) e 175 cidades de Santa Catarina por decisão estadual. Apenas o sistema de Criciúma (SC) manteve-se em funcionamento por liminar da Justiça.

Segundo o presidente da NTU, a pandemia de coronavírus encontra o setor em uma trajetória de dificuldades acentuadas desde as manifestações de 2013, cujo estopim foi justamente o aumento dos preços das passagens de ônibus. “A crise não é de hoje e se agudiza a partir daquele ano, com inflação mais alta e pressões para segurar tarifas. Desde então, houve perda de 25% dos passageiros.”

Essa redução já ocorreu sobre uma base achatada, depois que muitas pessoas deixaram os ônibus para usar seus próprios carros, graças ao crescimento econômico dos anos 2000 e a facilitação do crédito pelas concessionárias de veículos (automóveis e motocicletas). “Nos anos 1990, a velocidade média era de 25 km/h. Hoje, caiu para 13 km/h. Para ter o mesmo atendimento, é preciso rodar com o dobro da frota”, conclui Cunha.


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