Os mercedões rodoviários

A segunda fase dos ônibus monoblocos produzidos pela Mercedes-Benz no Brasil contemplou a chegada de dois modelos mais possantes idealizados para o transporte estradeiro
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Por Revista Autobus – Antônio Ferro
Imagens Arquivo Mercedes-Benz / Irmãos Teixeira / Lineu Carneiro Saraiva

Durante os meados da década de 1960 e início dos anos de 1970, a montadora Mercedes-Benz do Brasil, dando continuidade ao seu plano de desenvolver e oferecer veículos ajustados ao transporte de passageiros, apresenta ao mercado dois modelos que se completaram pelas características que elevaram o nível operacional em uma época marcada por ônibus mais simples. A fabricante disponibilizava os chassis para encarroçamento ou as suas versões integrais, com os chamados monoblocos (carroçaria e chassi unidos de fábrica).

Dando sequência à sua linha de produtos completos, iniciada no final dos anos de 1950 com a versão O321, a marca apresenta, em 1965, seu novo modelo O326, reconhecido por ser um projetado inovador, sendo um verdadeiro ônibus, proporcionando o máximo conforto, segurança e economia. Segundo a marca na época de sua divulgação, o veículo não era um ônibus montado sobre um chassi de caminhão. Ele fora pensado sem improviso, com o intuito de promover segurança, conforto e rentabilidade, com mais estabilidade, ótimo desempenho e menor peso.

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Em seus primórdios, a operadora mineira Irmãos Teixeira apostaram no modelo O326

O novo veículo era maior, com 11,18 metros de comprimento, trazendo o motor OM 326 (nomenclatura que serviu de inspiração para o nome do ônibus) de 193 cv de potência (a primeira geração), seis cilindros, transmissão com cinco marchas, freio hidráulico conjugado com ar comprimido, direção hidráulica, suspensão por molas e freio motor com maior garantia nas frenagens.

A estética do modelo era composta pelas linhas com cantos arredondados, janelas inclinadas e uma área frontal modernizada para a época, com faróis retangulares (conceito europeu), mas sem fugir da identidade aplicada nos modelos O321, na época conhecidos por “bicudinhos”. Outro detalhe era a sua saída de emergência, composta por uma pequena porta localizada no lado esquerdo da carroçaria, próxima ao eixo traseiro. Foi o último modelo de ônibus da Mercedes a ter esse mecanismo de escape em caso de acidente -outros que viriam depois já incorporavam janelas de emergência.

Também chamado de “bicudão” ou “mercedão”, apelidos carinhosos dados ao O326 em virtude de sua frente inclinada e a maior potência do motor traseiro, mostrava a competitividade da marca Mercedes frente a concorrência (Scania e FNM) que ofereciam ao mercado os seus chassis com propulsores localizados na frente e mais possantes. Para a montadora da estrela de três pontas, ter em seu portfólio um veículo diferenciado era sua estratégia comercial para atender nichos específicos com uma configuração evoluída e viável.

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As linhas clássicas do O326

Alguns anos depois de sua apresentação, estando consagrado no transporte rodoviário e de turismo no Brasil, a Mercedes-Benz promoveu algumas modificações no desenho e na parte mecânica do referido modelo, abrindo as portas para que um novo veículo chegasse tempos mais tarde. Duas alterações marcaram a nova geração do O326 – o desenho externo de sua área frontal, mais reto, e a incorporação de um novo propulsor, o OM-355/6, com seis cilindros, quatro tempos e injeção direta, além dos 200 cv de potência, permitindo vencer aclives e manter a velocidade média constante.

Depois de aposentada a produção do O326, chegou a vez da versão O355 (nome dado em função do novo motor), modelo que ficou conhecido em muitas empresas como o “jatão 355”. Em linhas gerais, a estética manteve as mesmas formas de seu antecessor, porém com alguns detalhes novos, como os faróis dianteiros e o desenho da porta, mas sempre com os traços característicos proporcionados pela marca da estrela, o que sustentou o sucesso comercial de seus veículos no cenário nacional.

A Mercedes destacava em seu monobloco O355 a construção mecânica por meio da direção hidráulica, da suspensão que garantia mais conforto, a eficiência dos sistemas de freio (hidráulico, de serviço e motor) e os bagageiros passantes, com espaço para acomodar malas e encomendas.

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O motorzão 355 de seis cilindros

Dentre as versões citadas, ambas podiam receber WC e uma pequena copa para os serviços de refeição a bordo, permitindo conforto extra em viagens de longas distâncias. Completando a comodidade aos passageiros, eram oferecidas as poltronas em duas cores, estofadas com espessas camadas de espuma, tanto na versão convencional, como na categoria leito.

E a estrutura dos veículos, composta pela plataforma auto portante e carroçaria, formando o conceito monobloco ou integral, associava racionalmente grande resistência à torção com reduzido peso, aspecto também ressaltado pela estrela de três pontas.

De norte a sul, os monoblocos O326 e O355 cruzaram o Brasil, interligando as remotas regiões com as grandes áreas urbanizadas no contexto da integração brasileira e o peculiar ronco do motor OM-355 conquistou muitos fãs pelo País a fora.

Hoje, alguns entusiastas preservam o modelo, como é o caso da transportadora mineira Irmãos Teixeira, com seu O355 em perfeito estado de conservação.

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Número de produção:

O326 Integral: 1965 a 1975 – 2.412 unidades

Plataforma O326 (encarroçamento de terceiros): 1967 a 1974 – 376 unidades

O355 Integral: 1972 a 1978 – 3.421 unidades

Plataforma O355 (encarroçamento de terceiros): 1972 a 1978 – 1.797 unidades

Abaixo, mais algumas imagens dos referidos modelos

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O modelo O326 em sua nova versão estética
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Propaganda antiga do O326 enfatizando seu desempenho
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O monobloco O355 foi o escolhido por muitas empresas rodoviárias do Brasil

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