BRT ou qualquer outra fórmula mágica: você realmente esperava algo diferente?

O BRT é só mais uma das famosas “fórmulas mágicas” prometidas para resolver um problema nacional
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Por Blog Josivandro Avelar
Imagens Acervo Ônibus Paraibanos / Adriano Minervino

Sejamos sinceros: olhe bem para o viário de João Pessoa. Conhece algum dos sete corredores viários da capital? Se a sua resposta for sim, você vai entender o que eu quero dizer sobre esta matéria do Portal Correio cuja manchete é “Projeto de ônibus rápido para João Pessoa é descartado“. Vocês ainda acreditam em fórmula mágica? Digam-me. Só isso.

A quem essa notícia empolgou, só se forem aqueles que esperavam que aqui circulassem aqueles ônibus grandões de dois vagões. Mas se você conhece muito bem a cidade, sabe muito bem o quanto as ruas daqui são apertadas, sabe muito bem que não dá pra instalar corredor em muitas vias, enfim. Você já sabe o resultado do corredor da Josefa Taveira.

O BRT é só mais uma das famosas “fórmulas mágicas” prometidas para resolver um problema nacional, mas sabe como é João Pessoa: cidade micro em tamanho e número de habitantes, solução macro para atender sempre aos mesmos locais e valorizar sempre os mesmos pontos, ignorando que a cidade cresce, a dinâmica muda.

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E o resultado você já conhece. Mas se não se lembra, já viu antes; só muda o veículo

Promessas de ontem…

Enviei ao Ônibus Paraibanos há quatro anos um texto chamado “Tem bonde na linha, só que não” onde eu me baseando em recortes de jornais da época, escrevi sobre a fórmula mágica da vez: um bonde moderno. Leia o trecho abaixo e me diga: isso não te lembra o que você leu na matéria do Portal Correio?

Em 1990, a Prefeitura de João Pessoa conseguiu a aprovação de um projeto que previa a instalação de um sistema de bondes modernos na cidade – que na realidade seria um VLT, tal como o que está sendo construído no centro do Rio de Janeiro – no que poderia ser uma experiência pioneira na América do Sul. O projeto teria contado com o apoio decisivo do então ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega. Cada bonde levaria 300 passageiros e a primeira linha ligaria o Centro ao Valentina passando pela Pedro II e Mangabeira. O projeto foi inspirado em ideias semelhantes no Leste Europeu.

Trecho da matéria “Tem bonde na linha, só que não”, publicado no Ônibus Paraibanos no dia de 30 de abril de 2016

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Na ocasião, mencionei o VLT do Rio – que pelo menos foi concluído e funciona. E veja onde o bonde iria passar. Será que o maravilhoso trânsito de João Pessoa hoje suportaria?

…Que se parecem demais com as de hoje.

Mas calma que vou mais além, porque se hoje os estúdios americanos de cinema apostam bastante na refilmagem dos grandes clássicos, nós apostamos na refilmagem das mesmas promessas de sempre. E o pior é que tentamos acreditar.

O projeto previa que o sistema seria integrado aos ônibus, com a previsão de construção de três terminais de integração; um na área central, um nas proximidades da UFPB, e um em Mangabeira. A frota que sobraria da implantação do sistema de bondes seria usada em outros bairros, como Bairro das Indústrias, Ilha do Bispo, Alto do Mateus e Praia da Penha.

Trecho da matéria “Tem bonde na linha, só que não”, publicado no Ônibus Paraibanos no dia de 30 de abril de 2016

Opa, opa, me lembra isso aqui ó:

O projeto apontou cinco corredores de maior movimentação de João Pessoa que seriam contemplados com rotas para os modernos ônibus e os bairros dessas vias ganhariam quatro imponentes terminais de integração: Avenida Cruz das Armas (Cruz das Armas/acesso à Zona Oeste), Avenida 2 de Fevereiro (Rangel/acesso às Zonas Sul e Oeste), Avenida Pedro II (acesso à Zona Sul) e Epitácio Pessoa (acesso à Zona Leste/praias). A obra seria iniciada em março de 2014 pela Avenida Cruz das Armas.

Trecho da matéria “Projeto de ônibus rápido para João Pessoa é descartado”, publicado no Portal Correio no dia 2 de março de 2020.

Pode ser bonde, metrô, VLT, ônibus espacial, a fórmula mágica é sempre a mesma. E olha que na concorrência do bonde – sim, teve – teve vencedor, verba de 16 milhões de cruzeiros, mas nada de bonde.

Não espere nada diferente – a realidade é essa

A realidade é essa: não espere fórmulas mágicas nem promessas mirabolantes para a mobilidade urbana de uma cidade com quase 800 mil habitantes como João Pessoa. E já jogo o alerta porque na eleição municipal desse ano você vai ouvir muitas, porque político não desiste delas para chegar lá.

Essa é a realidade de um sistema que não vê melhorias significativas mesmo com o preço que se cobra na passagem – só ônibus recauchutados de outros municípios e olhe lá. E nada de colocar esperanças em quem na mesma ocasião metia o malho nos empresários, para depois virar uma mãe para eles. De onde menos se espera, é que não sai nada mesmo.

Por causa dessa “fórmula mágica” repetida e para conhecimento da população pessoense que essas coisas não são novidade para ninguém, reprisei no post anterior do Blog Josivandro Avelar a matéria do bonde na linha do Ônibus Paraibanos. Neste post destaquei alguns trechos daquele texto e comparar com trechos desse do Portal Correio, para você ver como as coisas nunca mudam.

Tem bonde na linha, só que não

Antes de qualquer fórmula mágica, o importante é pensar a curto prazo numa reforma do sistema, porque como sempre ressalto, não adianta colocar uma frota novinha com ar condicionado se a sua linha continua atrasando e você continua encarando ônibus lotado.

Melhorias nas linhas, na frota e no sistema como um todo tem que partir de um conjunto, pois nada funciona isoladamente.

E o principal, reconhecer a limitação das vias. Saber que nem em todas elas dá para se implantar um corredor exclusivo de ônibus – lembra do caso da Josefa Taveira que eu mencionei no início do post?

Da próxima vez que você ouvir fórmulas mágicas como essas na eleição de 2020, fique com o pé atrás. De cara nem acredite.


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