O transporte público precisa se reinventar diante dos desafios da queda acentuada de passageiros

Essa percepção e realidade, os desafios e as soluções para reverter esse quadro, que requer empenho e atenção tanto das empresas, quanto do poder público e soluções inovadoras, foram debatidas durante ...
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Por News Comunicação
Imagens Divulgação / JC Barboza

Em 2014, o sistema de transporte público por ônibus da capital paraibana transportou 110 milhões de passageiros. Este ano, a projeção mais otimista, aponta que esse número não ultrapassará os 77 milhões. Ou seja, nos últimos cinco anos, o sistema de transporte público de João Pessoa perdeu 33 milhões de passageiros, o equivalente a 32% de toda a operação. Essa crise que se acentua há alguns anos não atinge somente a capital paraibana. Ela ocorre em todos os sistemas do país que agora precisam se reinventar, buscar novas fontes de custeio, adotar novas tecnologias, para atrair os passageiros de volta para o ônibus. Essa percepção e realidade, os desafios e as soluções para reverter esse quadro, que requer empenho e atenção tanto das empresas, quanto do poder público e soluções inovadoras, foram debatidas durante um evento promovido pelo SINTUR-JP, nesta terça-feira (17), em João Pessoa.

O empresário e presiente do Sintur JP Alberto Pereira abordou as dificuldades do setor e a perda de passageiros

Coube ao diretor institucional do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de João Pessoa- Sintur-JP, Isaac Moreira, abrir o encontro, que contou ainda com a participação do presidente do Sindicato, Alberto Pereira e do presidente do Sindiônibus (CE), Dimas Barreiro. Isaac lembrou dos diferenciais do sistema de transporte público, a exemplo do funcionamento ininterrupto, incluindo feriados e finais de semana, e de alguns diferenciais implantados em nível local, como a biometria facial, a disponibilidade de mais de 80 pontos de recarga do cartão, além da recarga pela Internet, a disponibilidade de câmeras nos ônibus, a integração temporal, e ainda o Jampa Bus, um aplicativo que informa em tempo real a movimentação dos ônibus, possibilitando que os passageiros possam se programar melhor para fazer suas viagens. “O Jampa Bus estabeleceu uma nova relação com os nossos passageiros, que agora podem se programar para fazer suas viagens”, afirmou Isaac. Ele ainda projetou um vídeo onde se destacavam cinco programas de qualificação do transporte público que ao serem implementados mudarão esse cenário, inclusive, em João Pessoa.

Mudanças no sistema viário das cidades, dando prioridade ao transporte público, com corredores exclusivos que melhorem a velocidade dos ônibus; tarifa subsidiada a partir de financiamento de custeios dos sistemas, a fim de tornar mais acessível o preço das passagens; a adoção de padrões de qualidade e uso da tecnologia como atrativo para recuperação de passageiros; a implantação de uma cultura de maior transparência na divulgação dos custos do transporte para a população entender como se processa as despesas com maior detalhamento, além da adoção de ações inovadoras que atraiam mais passageiros, são os cinco pilares do programa sugerido para aperfeiçoar os sistemas de transporte no país.

O empresário Alberto Pereira, que atua há 33 anos no setor de transporte de passageiros, afirma que além da iniciativa das empresas, o poder público também tem que fazer sua parte para que os sistemas consigam superar as crises e, principalmente, ofertar para a população um serviço mais atrativo e de melhor qualidade. “O planejamento de nosso sistema, por exemplo, ainda mantém intactos há 30 anos, os cinco principais corredores por onde trafegamos, a maior parte das linhas vai e volta para o terminal de integração no Centro e voltam para a Lagoa, onde os congestionamentos são frequentes e os atrasos nas viagens por conta disso, inevitáveis. Portanto, há que se buscar soluções que tornem o sistema mais eficiente, rápido e atrativo. E esse deve ser um esforço conjunto”, destacou o empresário.

Dimas Barreiro de Fortaleza e Issac Moreira e Alberto Pereira do Sintur JP

Alberto lembrou ainda do impacto das gratuidades sem fonte de custeio, reiterando que as empresas não são contra os benefícios de concessão de gratuidade, desde que esses venham com suas respectivas fontes de pagamento. “Atualmente, somente o passageiro pagante é quem arca com os custos do sistema, em função disso, quanto menos passageiros pagando, mais alta fica a tarifa, porque o rateio se dá por cada vez menos pessoas”, reiterou Alberto, lembrando que 1/3 dos passageiros do sistema de transporte da capital paraibana hoje responde pelo contingente de gratuidades, o equivalente a 33% de todas as pessoas que andam de ônibus.

O presidente do Sindiônibus, Dimas Barreiro, o principal palestrante do evento, deu um panorama do sistema de transporte público de Fortaleza, que é formado por cinco consórcios, 18 empresas, 1.742 ônibus, transporta 25 milhões de passageiros/mês, conta com sete terminais de integração, mais integração temporal com bilhete único, tem seis mil pontos de ônibus, dispõe de 118 km de faixas exclusivas e trabalha com multitarifas e linhas sazonais. “Hoje, temos um ótimo índice de cumprimento de viagens planejadas pelo sistema que são cumpridas com a devida frequência e pontualidade, mas, isso é resultado de muitas ações que tornaram o ônibus mais atrativo em Fortaleza”, disse ele. Entre essas ações, destacam-se a adoção de câmeras em todos os ônibus, a disponibilidade de wi-fi em toda a frota, a ampliação de corredores exclusivos, a adoção de aplicativos que mostram em tempo real o deslocamento e posição dos veículos, as linhas sazonais, no bairro ou interbairros, com tarifa diferenciada e até a adoção de um projeto piloto, o Top Bus + que que é um serviço opcional de transporte por demanda, chamado em aplicativo, com tarifa diferenciada.

“Em Fortaleza temos os sistemas regular, complementar e especial todos operacionalizados pelas empresas regulares e com essas opções temos conseguido atrair de volta os nossos passageiros, mas, tudo isso é fruto de um planejamento entre as empresas e órgão gestor que buscam, harmonicamente, ofertar à população o melhor sistema que ela pode dispor”, destacou o empresário, lembrando que sem o transporte coletivo, não há funcionamento das cidades. “Mesmo quem não anda de ônibus, depende do sistema em algum aspecto”, reiterou Dimas. Em Fortaleza, segundo ele, não há incidência de tributo municipal na tarifa, o que faz o preço das passagens lá custar, atualmente, R$ 3,60, o mesmo valor que poderia ser praticado na capital paraibana se houvesse isenção dos R$ 0,20 incidentes no preço das passagens da cidade que correspondem ao ISS pago a Prefeitura. A tarifa única de João Pessoa, atualmente, é de R$ 3,80.

O público prestigiou o evento do Sintur JP

Como soluções a curto e médio prazo para tornar mais atrativo o sistema de transporte público por ônibus, o empresário cearense apontou a desoneração tarifária, como uma questão crucial e ainda a regulação dos aplicativos, a fim de coibir uma concorrência desleal, a fiscalização do transporte clandestino, a limitação de gratuidades ou a concessão de benefícios apenas com fontes de custeio pré-definidas e ainda a adoção de políticas públicas que priorizem o transporte de massa em detrimento do uso individual de veículos. “Em Fortaleza, a simples criação de corredores exclusivos no Centro da cidade permitiu que os ônibus voltassem a circular naquela área, uma vez que antes desses espaços próprios era praticamente inviável esse deslocamento por causa dos congestionamentos. O ônibus simplesmente não andava e as pessoas preferiam descer e continuar o percurso a pé”, disse o empresário, lembrando que essa ação requereu do ente público apenas a boa vontade de delimitar um espaço exclusivo para o ônibus e sinalizar as faixas exclusivas.