A longa estrada das startups para inovar nas viagens de ônibus

Com pelo menos 80 milhões de passageiros por ano, setor engessado e cheio de burocracia precisa de renovação; startups buscam trazer novidades enquanto empresas tradicionais correm atrás
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Por Estadão
Imagem Thiago Martins de Souza

Até alguns meses atrás, em pleno 2019, não era possível comprar uma passagem de ônibus pela internet e embarcar direto na rodoviária. Quem comprava um bilhete online precisava, antes do embarque, trocá-lo por um comprovante físico. A situação só mudou com pressão de startups que, aos poucos, buscam trazer o transporte rodoviário de passageiros brasileiro para o século 21. É o caso da ClickBus, que tenta fazer uma viagem de ônibus ser tão digital quanto a experiência de quem se desloca de avião.

“Queremos aposentar o papel. Esperávamos desde a criação da ClickBus por essa mudança”, diz Fernando Prado, presidente executivo da startup. Fundada em 2013, a startup é dona de uma plataforma digital que reúne ofertas de passagens a vários destinos, com comparação de preços, horários e serviços de várias companhias. Hoje, a empresa paulistana tem 115 funcionários e pretende vender mais de R$ 1 bilhão em passagens em 2019. “Muita gente não comprava a passagem na internet porque sabia que ia precisar trocar na rodoviária. Isso vai mudar”, avalia Prado.

O mercado de transporte rodoviário de passageiros é grande. Só as viagens interestaduais transportam cerca de 80 milhões de passageiros por ano, segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Propor inovação no setor rodoviário, porém, não é trabalho fácil. “É um mercado muito regulado pelo Estado e operado por poucas empresas tradicionais”, afirma Paulo Resende, professor de infraestrutura da Fundação Dom Cabral.

O bilhete digital é um sinal explícito desse atraso – nos últimos anos, burocracias atrapalharam sua implementação. A adoção de passagens eletrônicas só passou a ser incentivada este ano após uma mudança da legislação articulada pelas Secretarias da Fazenda no País. Em São Paulo, as empresas de ônibus serão obrigadas a aposentar o comprovante físico a partir do ano que vem.

“Até a mudança, existiam legislações esparsas que dificultavam a emissão do bilhete eletrônico”, esclarece o advogado Paulo Brancher, sócio do escritório Mattos Filho. Ele afirma que a passagem digital demorou a emplacar porque havia a necessidade de emissão de um cupom fiscal impresso – o que tornava mais cômodo que tanto o bilhete como o cupom fossem de papel.

É uma situação que fez não só as empresas do setor, mas também muita gente, perder tempo. É o caso da empresária Joyce Abreu, de 22 anos, que desistiu de comprar com antecedência uma passagem pela internet para Curitiba. Ao chegar no dia da viagem ao Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo, a viagem que ela queria já estava com assentos esgotados – a frustração resultou em chá de cadeira de uma manhã na rodoviária.