Por Hélio Luiz de Oliveira
Informações G1 Espírito Santo
Imagens Acervo histórico Paraíba Bus Team
A história da Viação Itapemirim pode ser contada inicialmente pela compra de um caminhão Ford ano 46 movido a diesel por Camilo Cola. A cidade era Castelo, no Espírito Santo, e o gosto pela mecânica e experiência adquiridas na segunda grande guerra mundial, nasceriam os primeiros passos como transportador de cargas (mais precisamente de pneus entre os estados capixaba, fluminense e paulista – eram tempos difíceis: Rio X São Paulo eram 5 dias de viagem).
Em setembro de 1948 surge a chance de ingressar no transporte coletivo de passageiros, atividade que identificaria Camilo Cola como empresário.
Era especial a dedicação no segmento de passageiros onde em Florença, Itália, conheceu a Companhia Italiana de Transportes por ônibus e devido ao cenário de guerra, Camilo Cola examinaria com muito interesse os inúmeros ônibus da empresa que estavam ali parados.
Com seu sócio Vitório Perim, adquire a linha Castelo X Cachoeiro: nasceria em fins de 1948 a ETA – Empresa de Transportes Auto Ltda, com apenas um ônibus, percorrendo um trecho de 40 km em duas horas e meia de viagem.
No ano de 1949, dois ônibus foram comprados pela empresa: um Ford ano 1939 e um 1941, e surge a linha rodoviária até Alegre (distando cerce de 65 km de Cachoeiro), cujo principal concorrente era o trem, que aos poucos foram ganhando confiança em ofertas de lugares nos ônibus pela população da região.
Para o ano de 1951 são incorporados oito novos e modernos veículos da marca General Motors à frota, assim a ETA associaria as empresas São José, São Jorge e Ramos, compondo 18 ônibus e 10 linhas rodoviárias. Em 30/06/1953, a mesma encerraria atividades.
Nasce a Itapemirim
Em 04 de julho de 1953 é a data de fundação da Viação Itapemirim LTDA., com um porte expressivo composto por sete sócios e a maior empresa de transporte capixaba com 29 veículos. Com visão alicerçada na expansão da frota, inicia o projeto do Parque de Manutenção nas cercanias de Cachoeiro, onde em 29 de junho de 1956 o inaugura. Graças a qualidade de seus serviços prestados e dedicação exclusiva ao transporte de passageiros, surge a primeira linha interestadual ligando Vitória ao Rio de Janeiro.
Os contatos e entendimentos mantidos com a FNM – Fábrica Nacional de Motores, a Itapemirim adquire os seis primeiros ônibus da marca montados com carroceria Grassi de 42 passageiros que circulariam na linha Vitória X Cachoeiro X Rio – um ano depois eram 30 unidades com as bandeiras FNM/Grassi.
Já por volta de 1960, adquire de uma só vez 30 ônibus da marca Mercedes-Benz dotados de motor OM-312, moderníssimos e confortáveis veículos. Com a linha Vitória X Rio X Vitória, outros 40 monoblocos da são incorporados a frota.
A Itapemirim estava com excelentes meios de transporte: a maior quantidade de ônibus monoblocos do país e projetando-se para 300 veículos no ano de 1965, que segundo Camilo Cola, este foi o ano divisor de águas na história da empresa adotando uma força motriz no planejamento das ações empresariais.
Em 1969 começa a utilizar a cor amarela em seus ônibus, cria e estabelece o desenvolvimento dos serviços de transporte de passageiros em todo os país. Vão surgindo a partir de então as principais ligaçõs rodoviárias do país: Rio X Salvador (1967 – primeira ligação para o nordeste), Rio X Brasília (1968), Belo Horizonte X Brasília (1969), Recife X Rio, Campina Grande X São Paulo e João Pessoa X Rio (1970 – a frota já era de 600 ônibus), Fortaleza para Rio e São Paulo (1973) e a linha Teresina X São Paulo (1975). No ano de 1973, incorpora a Empresa Nossa Senhora da Penha sediada em Curitiba, PR, possibilitando assim as ligações dirigidas para o sul brasileiro.
Novos planejamentos e a realização de estudos técnicos alcança números surpreendentes na elevação de ofertas de passageiros em seus ônibus. Três anos depois, experimentaria uma projeto audacioso de um ônibus rodoviário de três eixos montado num monobloco Mercedes-Benz O-326.
A partir de então, a Itapemirim visa o aperfeiçoamento e amplitude nos negócios (juntamente com a Penha, crai a empresa Pensatur dirigida ao segmento de turismo) e em 1980 (já a maior frota de ônibus do país com 1.500 veículos) apresenta o Tribus (efetivamente o primeiro ônibus de 3 eixos do mercado nacional – plataformas Mercedes-Benz e carrocerias Nielson e Ciferal) com forte e intensiva campanha publicitária, pois o início de operação desses novos ônibus teria a estréia na ligação rodoviária mais importante do país: a Rio de Janeiro X São Paulo, com a aquisição da empresa Única que pertencia ao Grupo Caio. Antes, porém, os primeiros modelos dos novos ônibus já haviam sido testados na ligação entre o Rio e São Luiz.
Nesse contexto, a Itapemirim participaria do pool entre empresas na ligação paulista e carioca. surgindo a Ponte Rodoviária numa expressiva economia de combustível.
No comando de Camilo Cola, a empresa diversifica sua atividades empresariais e industriais: no ano de 1986, num aperfeiçoamento da fábrica de ônibus em Cachoeiro de Itapemirim, (agora chamada de Tecnobus Serviços, Comércio e Indústria Ltda.) inicia a fabricação do modelo rodoviário Tecnobus I. Outras empresas de ônibus também passam a integrar a holding como: Expresso Continental, Viação Sudeste e Centauro Transportes e Turismo.
Atendendo a demanda na fabricação de carrocerias de ônibus para o grupo, em 1988 apresenta a versão número 2 das carrocerias Tribus. Para o ano de 1992, surge a carroceria Superbus (de dois eixos) e três anos mais tarde o Starbus.
A empresa passa os próximos anos a ser administrada pela Corporação Itapemirim (com quase 20 mil funcionários) englobando 30 empresas. Em 1998 apresenta o Golden Service (serviço concebido pela empresa que agrega o conforto de um ônibus leito e a tarifa econômica de um executivo) com carroceria da marca Busscar, juntamente na linha Rio X São Paulo mostra o Cinebus (primeiro ônibus do Brasil a possuir um telão a bordo para exibição de dois filmes durante as viagens). A Tecnobus passa também a produzir furgões para transporte de cargas leves e a versão número 4 do Tribus.
Em seus tempos áureos, a Viação Itapemirim figurava entre uma das maiores da América Latina. Atualmente é uma empresa endividada, em recuperação judicial, e não pertence mais à família Cola, que vendeu o controle acionário da companhia no final de 2016.
Segundo o ex-presidente da empresa, Camilo Cola Filho, a decadência é resultado de uma combinação de fatores: “No início dos anos 2000, começamos a sofrer muito com transporte clandestino, principalmente no Nordeste. A fiscalização era fraca e havia lugares, como Pará e Maranhão, em que o transporte pirata ocupava 60% do mercado”.
Outro ponto foi a queda nos preços das passagens aéreas e incentivos fiscais dados às empresas de aviação, a partir de 2003. Somado a isso, pontua Camilinho, estão leis aprovadas na década que deram gratuidade a estudantes que atestem pobreza e a idosos, por exemplo.
No entanto, o principal problema que atingiu a empresa foi um impasse na regulação pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que começou em 2008 e só foi resolvido em 2015. As concessões foram substituídas por um modelo de autorização por linhas. A demora, no entanto, provocou queda no faturamento das empresas, enquanto que o crédito ficou mais caro.
“Começamos a vender empresas para pagar outros negócios. Até 2008, o nosso passivo tributário era zero. Com a crise internacional, a empresa deixou de pagar alguns impostos e as multas e juros são altos. Sem certidão negativa, o crédito ficou mais caro e, se as vendas não reagiam, não conseguíamos cobrir”, explica Camilinho.
Em junho de 2015, com a definição da ANTT, a Itapemirim repassou, por R$ 100 milhões, 68 das 118 linhas que operava à Kaissara, empresa que detinha uma linha, cujos sócios eram funcionários da Itapemirim.
Atualmente a empresa tenta se reeguer e procura se manter entre as maiores empresa de ônibus do país.