De Brasília a Cajazeiras pela Viação Planalto

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Por Pereira Filho
Imagens Acervo histórico Paraíba Bus Team

Todo trabalhador tem o direito de gozar férias e nada melhor do que você pensar que entrar de férias e fazer uma viagem para sua cidade natal. É uma felicidade imensa. Pensar que chegando em Cajazeiras, você vai encontrar familiares, amigos e acima de tudo, andar pelas ruas para matar a saudade e observar que a cidade está crescendo a cada ano que se passa.

Me lembro da primeira viagem que fiz a Cajazeiras como visitante, em 1973, após ter saído de lá às 10 horas da noite do dia 13 de dezembro de 1971. Ou seja, após dois anos. Eu trabalhava no IBGE de Brasília como Técnico em Estatística e morava em uma pensão na Avenida W3 Sul – a principal de Brasília, juntamente com meu irmão Sales.

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Uma semana antes de entrar de férias, eu fui até a Bi Ba Bô, Casas Nordeste e Vestilar – lojas de enxoval de viagem -, para comprar a mala, roupas, calçados e ainda o relógio e o óculos. Quem mora há muitos anos em Brasília deve se lembrar destas lojas, porque as mesmas não existem mais.

Pois bem. A passagem eu comprei uns 15 dias antes e na época só tinha uma empresa de ônibus que fazia a linha Brasília à Natal via Cajazeiras. Era a Viação Planalto de Campina Grande. Comprei com antecedência de 15 dias, porque compraria as primeiras poltronas – 1, 2, 3 ou 4. Se comprasse de última hora, com certeza iria viajar perto do toallet e viajar próximo a esse ambiente, teria que viajar tomando uns gorós (cachaça) para não sofrer mais ainda. Ainda mais que a viagem durava nada menos do que 40 horas, 2.250 quilômetros de estradas.

A saída do ônibus sempre era às 21 horas. Chegava à Rodoviária pessoas que iam viajar para Cajazeiras bem como para outras cidades do Nordeste. O ônibus encostava no ponto de embarque e começava o tumulto para colocar as malas, caixas e sacos de todo tamanho no porta malas. Na porta do ônibus o motorista confere a passagem e autoriza os passageiros a entrarem e se acomodarem nas poltronas, muitos com famílias – mulher e filhos. Aliás, esses passageiros são nordestinos que moram em Brasília e não têm mais o hábito de levar farofa de frango para comer durante a viagem, a exemplo dos nordestinos que viajam pela primeira vez ao sair de suas cidades para morar ou passear em cidades grandes. Pelo menos acredito que até hoje existe essa tradição. Quando eu saí de Cajazeiras para morar em São Paulo, pequei carona no caminhão de João Nestor – cunhado de minha mãe – e depois de quatro meses em São Paulo eu me mudei para Brasília.

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Pontualmente às 21 horas, o ônibus sai de Brasília e vai rodando estrada a dentro e nesse momento as pessoas vão se preparando para dormir durante a viagem, ou tentar dormir, porque não tem como você dormir direito. Dormir sentado na cadeira por 40 horas, não é mole não, porque a cadeira de ônibus não te oferece nenhum conforto, não tinha ar condicionado e muitas vezes as janelas tinham que ficar abertas devido o calor intenso, e o pior de tudo, era permitido fumar cigarro dentro do ônibus, menos cachimbo, charuto e cigarro de palha. Naquele tempo só andava de avião quem tinha muita grana. Era coisa de rico.

Durante a viagem, o motorista sempre faz algumas paradas para tomar um cafezinho, ou para tomar café da manhã, para almoçar, para merendar, para jantar e por aí vai. A pior coisa de uma viagem de ônibus é porque o motorista faz paradas em locais nada agradável. Lanchonetes e restaurantes que não oferecem nenhum conforto com banheiros imundos, comidas às vezes requentadas, café requentado feito com a borra . Tinha certas comidas que não dava para encarar, porque se não você corria o risco de ir ao toallet do ônibus toda hora. Era melhor não comer nada durante a viagem. Só beber goró.

Quando o ônibus entrava no estado da Bahia, era aquele sufoco, porque a maioria das estradas era ruim mesmo, estradas cheias de buracos e em certos trechos, o motorista era obrigado desviar para o acostamento. A Bahia tinha as piores estradas do Brasil. Quando o ônibus não quebrava devido os buracos, a gente dava graças a Deus por não atrasar a viagem.

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As horas vão se passando e o ônibus segue ora na estrada, ora no asfalto, ora nos buracos e da janela vou apreciando as belezas das matas, das serras, das chácaras, sítios, fazendas, do gado, dos cavalos, bichos e dos açudes, etc. A certa altura o ônibus vai se aproximando de uma cidade pequena ou grande. Entra no Terminal Rodoviário e naquele momento desembarcam passageiros e outros embarcam.

Depois de longas horas andando, ele se aproxima de Juazeiro, na Bahia, e atravessa a Ponte Presidente Dutra entrando em Petrolina, no Pernambuco. O ônibus entra no Terminal Rodoviário desta cidade e já penso que está próximo de chegarmos na Paraíba. Depois de mais algumas horas de viagem chega-se a Salgueiro (PE) e mais alguns minutos estamos em Jatí e Brejo Santo, no Ceará.

Com mais umas poucas horas, passa na cidade de Barro (CE), 20 quilômetros a seguir entra no trevo para a Paraíba, mais adiante passa em Cachoeira dos Índios (PB) e, mais adiante já se vê as placas de propagandas na beira da estrada, do comércio de Cajazeiras – Rovecol, Hotel Oriente, Cavalcante & Primo – a partir daí o coração se abre em saber que daqui a pouco estarei em casa. O ônibus vai seguindo e avista-se o morro do Cristo Rei, a torre da Catedral, passa pela Praça Camilo de Holanda, Rua Engenheiro Carlos Pires de Sá, passa em frente a cadeia e vai se aproximando da Rodoviário Antônio Ferreira.

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Até que em fim, estou na minha Cajazeiras. Peguei um táxi e falei que o endereço era a Rua Pedro Américo, número 36 e lá chegando perguntei ao taxista: “quanto foi a corrida?” Ele me disse: “um conto”. Paguei e, em fim, bati palmas e gritei “ô de casa”, uma voz veio lá de dentro e disse “ô de fora”, quem vem me atender? Minha mãe com seu lindo sorriso. Entrei em casa, abracei e a beijei.


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