Chegou o ônibus que você esperava

Fonte: Mobilidade em Foco Texto: Carlos Alberto RibeiroFotomontagem: Carlos Alberto Ribeiro “A Cattani lança com primazia em todo o Brasil o O-370 da Mercedes-Benz. É a mais moderna tecnologia mundial ...
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Fonte: Mobilidade em Foco
Texto: Carlos Alberto Ribeiro
Fotomontagem: Carlos Alberto Ribeiro

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“A Cattani lança com primazia em todo o Brasil o O-370 da
Mercedes-Benz. É a mais moderna tecnologia mundial em transporte de
passageiros. Suspensão total a ar, 3º eixo (de fábrica), motor de 320 cv
(turbo), climatização individual, amplo espaço interno, visão
panorâmica, modernas poltronas. Um ônibus para você não sentir a viagem:
só o conforto”! Com essas breves linhas a empresa de ônibus Cattani,
com matriz na cidade de Pato Branco, região Sudoeste do Paraná, tornava
público através de inserção publicitária em jornal que acabava de
incorporar quatro novos ônibus (o anúncio, 1º foto a esquerda, ocorreu
em março de 1985).

E que ônibus. Poderia ter sido a Viação
Itapemirim, a Penha, Reunidas, Unesul, enfim eram tantas as grandes
empresas Brasil afora que tinham significativo número de ônibus com
chassis Mercedes-Benz ou os monoblocos da marca da estrela que foi uma
honra e um privilégio que o destino outorgou a Cattani de ser ela a
primeira a ter os novos monoblocos na frota. Deveria ter sido a
Itapemirim, maior cliente da Mercedes-Benz, mas não foi. Mas a Cattani
não era fraca em 1984, tinha os seus méritos, nada mais nada menos do
que 300 ônibus na frota, 100% com chassis Mercedes-Benz, incluindo
vários monoblocos O-352, O-362, O-364.
A fabricação dos O-370 no
Brasil começou em agosto de 1984 e as primeiras entregas ocorreram em
março de 1985, quando a Cattani recebeu quatro unidades do modelo RSD,
três eixos. Na frota da empresa eles receberam os seguintes prefixos:
385, 485, 585 e 685. Veículos de números 3, 4, 5 e 6, adquiridos no ano
de 1985. A Cattani, em 1985, só perdia em tamanho de frota no Paraná
para a Garcia e a União Cascavel (Eucatur). Sua expertise consistia na
exploração de linhas rodoviárias regulares que ligavam inúmeras cidades
do Sudoeste paranaense, se estendendo até a capital, Curitiba, e a
cidades do Oeste catarinense, incluindo Caçador, terra da Reunidas,
onde também nasceu a Cattani.
Outro foco de capilaridade
extensiva a vários municípios do Paraná, Santa Catarina e São Paulo era a
divisão de cargas, a Cattani Cargas e Encomendas. Nenhuma outra empresa
percorria tantas cidades no Sudoeste do Paraná quanto ela, dezenas de
cidades eram atendidas nas suas necessidades de locomoção pelos seus
ônibus. Ao adquirir quatro unidades do O-370 RSD passou a ser a primeira
empresa do Brasil a incorporar os novos modelos e a terceira na América
do Sul. As duas primeiras, ainda no final de 1984, foram as chilenas
Ahumada (O-370 RS, dois eixos) e Tur Bus (O-370 RSD, três eixos). Talvez
um dos méritos, que somou pontos e a fez ultrapassar outras gigantes
brasileiras no ato da compra e recebimento das primeiras unidades, foi o
fato de o Grupo Cattani ter uma concessionária que revendia caminhões e
ônibus da Mercedes-Benz
Os quatro O-370 RSD representaram uma
revolução para a Cattani, tanto pela qualidade do produto quanto pela
valorização da imagem institucional. De fábrica eles vieram sem rodoar
nos pneus e sem a divisória que separava a cabine do motorista do salão
de passageiros. Esses itens foram instalados numa concessionária da
Marcopolo em Curitiba. Eles só não eram completos porque não tinham ar
condicionado. Para eles haviam duas opções de motores: MB OM 355/6A,
turboalimentado com 285 cv de potência; MB OM 355/6 LA, turboalimentado e
com Turbocooler, 326 cv de potência. Embora mais caro, a Cattani
preferiu equipar seus ônibus com a versão mais potente. Fazia parte
ainda da configuração itens que eram exclusivos da versão Luxo, como
calefação a bordo, climatização individual e direcional com dois dutos
de saídas de ar dispostos na parte de baixo do porta-pacotes. A
iluminação era indireta no salão de passageiros e havia ainda
porta-revistas e jornais atrás dos bancos.
As poltronas tinham
revestimento em tons de cores alegres, saindo da mesmice dos ônibus da
concorrência, apoio regulável para os pés, tampas nos porta-pacotes
(como nos aviões). Não sei mencionar se as poltronas eram do tipo
“Conforto”, com nove pontos de reclinação do encosto; ou se eram do tipo
“Luxo”, com 12 pontos. Para o motorista, então, uma revolução, se
comparado aos ônibus que eles dirigiam antes, Marcopolo MP-III
Executivo, serviço Convencional, assim como os O-370 RSD. Poltrona
anatômica e regulável nos sentidos longitudinal e vertical, com
suspensão a ar, painel de instrumentos curvo e com luzes-piloto dos
símbolos que só apareciam quando acesas e tecla de check-point.
Os O-370 RSD da Cattani, para serem completos, só faltou o ar
condicionado, vidros ray-ban e o relógio digital no console do teto,
acima do espelho retrovisor interno. Do resto tinham tudo. Pára-brisa
com vidro laminado em duas peças, limpadores com temporizador e
desembaçador, portas de abertura em “L”, retrovisores com seção convexa,
caixa de câmbio com seis marchas sincronizadas a frente e três
sistemas de freios. Com design e luxo interno que lembravam visual de
avião, eles passaram a operar na linha Francisco Beltrão x Curitiba,
horários diurno e noturno, Convencional. Os seus concorrentes na mesma
linha, da empresa Reunidas, eram Nielson Diplomata 2.60, chassi Volvo
B58 4 x 2.
Sem condições de concorrência. Todo mundo queria
viajar mesmo era nos O-370 RSD da Cattani. Silenciosos, macios,
confortáveis, os reis da estrada quanto a média horária percorrida, um
avião rodoviário voando baixo. Tudo nele era superior aos ônibus da
concorrência. Na Cattani, os monoblocos chegaram para substituir quatro
Marcopolo MP-III Executivo, mas de serviço Convencional, ano de
fabricação 1981, montados sobre chassis Mercedes-Benz OM-355/5 (192 cv
de potência). Um salto e tanto, só na potência, exatos 134 cv a mais,
69,80% de potência adicional. E mantendo o mesmo consumo. Com tanto
desempenho, os 524 quilômetros de distância entre Francisco Beltrão e
Curitiba passaram a serem percorridos em tempo menor e com mais
conforto. Foi também um “chega pra lá” nos Nielson Diplomata 2.60 da
Reunidas, que tinham potência maior que os MP-III da Cattani, 245 contra
192 cv.
A primeira foto (à esquerda), é publicidade
veiculada em jornal em março de 1985, do meu acervo. Creio que ninguém
no Brasil tem essa foto, que torno pública agora. Detalhe: vou escanear
ela, ampliar, dar mais vivacidade as cores e postar a mesma em breve
numa outra matéria.