Recife busca outras alternativas para o transporte coletivo

Fonte: Diário de PernambucoFoto: JC Barbozaa / Divulgação Mesmo tendo carro, o professor Joel Ferreira, 65, usa ônibus sempre que vem ao Recife. Ele mora em Pau Amarelo, Paulista, e prefere deixar o ...
Fonte: Diário de Pernambuco
Foto: JC Barbozaa / Divulgação


IMG 2670


Mesmo tendo carro, o professor Joel Ferreira, 65, usa ônibus sempre que vem ao Recife. Ele mora em Pau Amarelo, Paulista, e prefere deixar o veículo perto do Terminal Integrado Pelópidas Silveira a enfrentar o trânsito da capital. Trocar o veículo individual pelo coletivo é a solução apontada pelos especialistas para melhorar o trânsito.

Na década de 1970, Pernambuco tinha frota de 210 mil, dez vezes menor que a atual, carros e a mobilidade era pouco discutida. Na época, no entanto, a ideia de deixar carros estacionados para motoristas irem de ônibus ao Centro era realidade. Em 1978, o Recife abria seu primeiro estacionamento periférico, na Rua da Aurora. Menos de dois anos depois, a ideia fracassou, recebida negativamente por uma sociedade que, nas palavras do então prefeito Gustavo Krause, já era súdita de “sua majestade, o automóvel”. Hoje, o município aposta em outras alternativas. 


A discussão sobre o assunto foi levantada pelo blog Direto da Redação. Em 12 de dezembro de 1978, o Diario noticiou a inauguração do projeto. “O primeiro destes estacionamentos começará a funcionar no dia 18 (de dezembro de 1978), na Rua da Aurora e será servido de 4 em 4 minutos por um ônibus opcional que fará a ligação com o Centro da Cidade”, informava a matéria. Da Aurora, os coletivos faziam dois intinerários. O primeiro passava pelas avenidas Norte, Cabugá, Conde da Boa Vista, Dantas Barreto e Nossa Senhora do Carmo.

20151111084540469673a
Rua da Aurora em 1978. Foto: Diogenes Montenegro/DP/D.A Press

Na segunda rota, passavam pela Ponte do Limoeiro, Cais do Apolo, Avenida Guararapes e Ponte Duarte Coelho. Hoje, as áreas de estacionamento ainda existem na Aurora, encolhidas pela construção de equipamentos de lazer na via e sem os ônibus para levar os condutores. O segundo estacionamento foi aberto na Joana Bezerra e o terceiro seria disponibilizado no Complexo de Salgadinho.

“Lembro desse projeto. Se existisse hoje, usaria”, afirma Joel. Morador da Rua da Aurora nos anos 1970, o aposentado Manoel Ulisses, 67, lembra que pegava carona nos ônibus com ar-condicionado, chamados de “Tranquilão” nas propagandas divulgadas pela Empresa de Urbanização do Recife (URB). Em 13 de dezembro de 1979, o Diario publicava anúncio da URB, pouco antes de o projeto fracassar. “Eram confortáveis e seguiam quase vazios para o Bairro do Recife. Como eu morava perto, descia e pegava carona para passear pelo Centro”, recorda Manoel.

Segundo o ex-prefeito Gustavo Krause,  os estacionamentos faziam parte de um plano de mobilidade custeado com apoio dos governos estadual e federal e financiados com recursos do Banco Mundial. “O projeto foi encerrado porque a reação negativa foi muito forte. É um problema com raízes profundas”, lembra.

O arquiteto Paulo Roberto Barros, presidente URB na época, lembra que o tema mobilidade não era discutido como hoje. Em 1979, a frota de Pernambuco era de 210 mil, contra 2,7 milhões de hoje, sendo 670 mil na capital. “Os congestionamentos estavam concentrados no centro expandido; da Agamenon ao Bairro do Recife. A resistência foi gigantesca, e poucos usaram os estacionamentos. Do ponto de vista do planejamento urbano, a ideia era correta. Culturalmente, era impensável.”

Faixas para ônibus e bike são a atual prioridade

O estímulo ao uso de transporte público com estacionamentos periféricos é descartado na gestão atual. O secretário de Mobilidade e Controle Urbano, João Braga, pontua que as ações para diminuir o número de pessoas usando veículos individuais se concentram na implementação de Faixa Azul, melhoria das calçadas e construção de ciclofaixas.

Em 2012, o então prefeito João da Costa anunciou a construção de edifícios-garagem na cidade, que iriam criar mais de 10 mil vagas de estacionamento. A implantação seria desenvolvida em parceria entre os poderes público e privado. As empresas iriam entrar com o capital, enquanto a prefeitura cederia terrenos. “Não demos continuidade porque entendemos que a iniciativa privada já constrói e gere estacionamentos, como nos shoppings”, diz Braga.

Os shoppings, porém, não oferecem o serviço de ônibus refrigerado e com intervalos reduzidos. “Quando pensaram nisso, a cidade tinha espaço para esses estacionamentos. A cidade cresceu, a frota também e não podemos mais pensar da mesma forma”