Do entrudo ao mela-mela nos ônibus

Fonte: Portal Ônibus Paraibanos Matéria / Texto: Kristofer Oliveira Fotos: Acervo histórico Paraíba Bus Team Estamos na época do carnaval, para o delírio de uns e tormento para outros. É a época em ...
Fonte:
Portal Ônibus Paraibanos
Matéria / Texto: Kristofer Oliveira
Fotos: Acervo histórico Paraíba Bus Team



Estamos
na época do carnaval, para o delírio de uns e tormento para outros. É a época
em que tudo é permitido para uns, e para outros, a “festa da carne” é a época
em que o satanás está a solta aprontando. Uns vão para cidades em que possuem
grandes conglomerados de foliões, outros participam de retiros espirituais. E
tem aqueles que simplesmente ficam em casa ou viajam para um local tranquilo.
Cada um aproveita o feriadão carnavalesco à sua maneira, de acordo com suas
crenças, convicções e valores.

Independente das pessoas inseridas nos mais diferentes contextos acima, todas
que utilizam ônibus nesta época do ano estão na mesma situação, no mesmo
“barco”, com o medo de serem vítimas do mela-mela que alguns populares ainda
promovem nos ônibus.


Essa “brincadeira” tem origens remotas, na época colonial brasileira, em que a
brincadeira do mela-mela feita por populares no carnaval era conhecido como
entrudo. Farinha, ovo podre, água de esgoto e lama de porco faziam parte da
guerra de brincadeira, para o desespero dos colonos nobres, que para não
presenciarem o “horror”, passavam a época do carnaval longe em propriedades
rurais. Entretanto, séculos depois, a nobreza manteve a essência do “mela-mela”
em bailes, porém substituindo as nojeiras por serpentina e confetes.

O mela-mela foi popularizado no Nordeste e inserido na cultura local
carnavalesca em determinados lugares, permanecendo com o mesmo “modus operandi”
de outrora. E justamente uma das vítimas foi o transporte público,
especialmente os ônibus. Em João Pessoa não foi diferente, atingindo o seu
ápice nos anos 80 e parte dos 90 em que praticamente todos os ônibus nesta
época, além de semanas antecedentes ao carnaval, andavam imundos com ovo podre
e regado com água de esgoto. Andar de ônibus era um sufoco, e como ninguém
gostaria de ser vítima, todas as janelas ficavam fechadas mesmo de dia sob o
sol escaldante. E como os ônibus não tinham ar condicionado…
A
molecada tinha uma grande criatividade, fazendo bombas d’água com cano, pau de
vassoura e borracha de sandália, e mantendo ovo semi cozido enterrado por vários
dias para garantir a fedentina. Os amigos se reuniam para promover o mela-mela
em ruas principais e que fossem fáceis de correr e se esconder caso algum
ônibus parasse ou a polícia passasse. As empresas de ônibus não se davam ao
trabalho de lavarem os carros, pois o trabalho seria em vão. A Setusa ia mais
além, besuntando os seus veículos com óleo queimado, deixando-os com uma
aparência sinistra.


Atualmente ainda existe o mela-mela, porém, com uma intensidade menor, mais
restritos a determinadas áreas periféricas da cidade. Infelizmente os ovos
podres e bombas foram substituídos por pedras, pois os menores que antes só
pensavam em se divertir e até brincavam de forma inocente hoje só pensam em
depredarem e assaltarem.

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