204 Cristo – O martírio continua

Fonte: Portal Ônibus ParaibanosMatéria / Texto: Kristofer OliveiraFotos: Rodrigo Gomes / Valério Junior Como alguns devem saber, resido no bairro do Cristo desde 2013 e sou usuário das linhas 204 ...
Fonte: Portal Ônibus Paraibanos
Matéria / Texto: Kristofer Oliveira
Fotos: Rodrigo Gomes / Valério Junior

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Como
alguns devem saber, resido no bairro do Cristo desde 2013 e sou usuário das
linhas 204 (principalmente desta) e 208, utilizando-as nos dias úteis para ir e
regressar do trabalho no centro. A priori foi uma grande mudança sair do
“conforto” das linhas 101/ A101 (quando eu residia nos Funcionários II colado
ao terminal do bairro) e passar a usar as que mencionei, que é um verdadeiro
martírio. Já é do conhecimento de todos os visitantes deste portal que a linha
204 desde o mês passado passou a ser operado no regime dupla-função, em que o
motorista acumula o cargo de cobrador, e desde o último dia 02 que a frota de
férias acabou, devido ao aumento da demanda de passageiros. É este ponto que
quero abordar, a minha narrativa acerca da operação da linha 204 a partir de
então.

O
Josivandro Avelar inúmeras vezes abordou o problema de distribuição das linhas
no bairro do Cristo e o transtorno gerando em algumas áreas (http://josivandroavelar.com/a-vida-nao-e-mole-para-quem-usa-o-204/).
Eu pego o ônibus todos os dias na Rua da Fraternidade, antes de entrar na José
Francisco da Silva, justamente dentro de um perímetro crítico (operados pelas
204, 208 e 5204) em que determinadas vezes não tem mais como ninguém entrar
dentro do ônibus nos horários de pico, ou, se consegue, a viagem até o centro
não é das mais confortáveis (felizmente a trajetória até lá não demora tanto).
Devido a quantidade de usuários que essas linhas possuem, os ônibus boa parte
do dia rodam cheios, especialmente a 204. Se andar especialmente nesta linha já
era um problema, a situação se agravou com a dupla-função que o motorista
passou a exercer. Confesso que não compreendi o critério que a Semob, a
Unitrans ou seja lá quem for se fez valer para colocar a linha no patamar com
baixo índice de passageiros.
No
ano passado com a inversão do fluxo dentro dos ônibus até comentava com algumas
pessoas que o objetivo apresentado para tal até poderia ser válido, mas que o
principal seria aumentar o número de linhas sem a presença do cobrador, ou
seja, a inversão seria apenas para a população ir se acostumando, inculcando
uma nova cultura. As outras capitais do país e grandes cidades até podem ter
esse fluxo a um bom tempo, mas isso jamais poderia ser uma justificativa para
implantar aqui. Tenho ciência de que todas as linhas que rodam na capital
passarão por esse processo. Outra justificativa apresentada seria a praticidade
do embarque, coisa que até funcionou, mas basta andar nas linhas sem o cobrador
para ver o argumento ser desconstruído. A AETC investiu bastante em campanha e
publicidade desde 2007 quando a bilhetagem eletrônica passou a vigorar, a parte
dela foi muito bem feita, mas sempre existirão aqueles que pagarão a passagem
com dinheiro, por inúmeras circunstâncias.

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Bom,
o que eu percebi na 204 foi uma piora e a prova de que no momento a linha sem o
cobrador é algo problemático. Pela quantidade de passageiros que a linha
possui, a probabilidade da passagem ser paga com dinheiro é maior, o que vai
atrasando a viagem. Em nenhum dos dias eu consegui pegar a linha no horário que
passava regularmente, utilizando-me da 208 que normalmente passa após, no
intervalo de 2 a 5 minutos. Nos dias que eu peguei a 204 retornando para casa,
o trajeto que rotineiramente é gasto em 20 a 25 minutos, foi feito em tempo
superior, de até 43 minutos. Também está sendo normal dois carros da 204 andarem
juntos, pois o que sai na frente acaba se atrasando, acontecendo um
desequilíbrio na quantidade de passageiros por carro. Se antes o fator do
trânsito era o principal responsável, a dupla-função também supostamente passou
a ser o vilão.
Adentrando
na questão do atraso, certamente os operadores recebem pressão para cumprirem
seu horário, o que vai acarretando nas imprudências e falta de direção
defensiva. Os da 204 a partir de então passaram a andarem mais acelerados e
percebi o aumento da queima do sinal vermelho e em momentos o desrespeito e
falta de gentileza com os veículos menores. Somando a velocidade dos veículos
com a qualidade de determinadas ruas em João Pessoa e com a inversão de fluxo
que obrigou os idosos e deficientes a ocuparem o posto de trás do ônibus, é
iminente o aumento da probabilidade de acidentes dentro dos ônibus. Dentre
essas viagens que realizei quase que uma senhora que estava em pé caía nos
degraus após uma curva somada com o sopapo causado por uma saliência no
asfalto.

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Desde
quando o fluxo foi invertido que aumentou a quantidade de calote na viagens,
com as pessoas se aproveitando da oportunidade da porta traseira ou do meio
estarem abertas para andarem de graça, ainda mais quando o ônibus está lotado.
Se com o cobrador já era dessa forma, com apenas o motorista a festa é
garantido. E se tratando do jeito peculiar brasileiro adotado por alguns, que
busca vantagem em detrimento do prejuízo de outrem, infelizmente uma parcela
considerável dos usuários da linha em questão possui este perfil. Entretanto,
nem tudo está perdido, pois sempre tem uma pessoa com criança no colo ou
gestante que espera o ônibus vagar para pagar a passagem…“daí de César o que
é de César”.
Com
todas essas questões elencadas, a principal vítima é o operador da linha, e
para alguns ele passou a ser o principal vilão quando ocorre alguma falha, tal
como imprensar alguém na porta, uma freada brusca necessária, dar partida
quando um idoso ainda sobe as escadas ou não se acomodou de forma segura ou os
sopapos na alta velocidade que faz sacudir as pessoas podendo causar um
acidente. Quando isto ocorre já ouvi bastante insultos, palavras de baixo calão
e até ameaça de linchamento por parte dos passageiros direcionado ao motorista
(pois pensam que o motorista consegue enxergar o que acontece atrás, mas
poderia ter sua vida facilitada se no painel do motorista tivesse uma tela
mostrando todo o movimento do salão e das portas através de um circuito interno
de câmeras, tal como ocorre no Parque Nacional do Iguaçu/PR). Com essa pressão
causado pelo acúmulo de atribuições não tem como um bom serviço ser
prestado…dirigir no trânsito caótico, passar troco, liberar catraca, operar o
elevador para cadeirantes e prestar atenção no embarque e desembarque apenas
pelo jogo de retrovisor e pela comunicação dos usuários (PODE IR MOTÔ! VAI
DESCER!). Não vai tardar para o problema de absenteísmo começar a ser uma
constante, a exemplo do ocorre com os carteiros, bancários. O que está em jogo
é a qualidade da relação humana dentro do transporte.

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Tenho
ciência de que em outras cidades do país e no exterior não existe mais a figura
do cobrador, e que o sistema funciona muito bem. Em Dublin, segundo o meu amigo
Massilon que já residiu por lá, a passagem é paga por um tíquete ou um cartão (não
recordo qual dos dois) e se o passageiro pagar com dinheiro não trocado, ele
recebe um voucher para pegar o troco na garagem da empresa. Com a remodelação
do nosso sistema de transporte pode ser que alcancemos um patamar superior, mas
por enquanto estamos dentro de uma realidade peculiar em que a figura do
cobrador ainda é importante. Em João Pessoa o ônibus é o principal meio de
transporte, não existe ciclofaixa sem o objetivo desportivo e um outro meio de
transporte rápido em massa, diferente do que ocorre em diversas cidades
mencionadas neste parágrafo, na qual o ônibus apenas é um transporte
complementar. Até João Pessoa não ganhar um sistema de transporte como o
prometido BRT (que na verdade será um BRS) e se de fato funcionar bem, os
usuários da 204 “carregarão a sua cruz” diariamente, inclusive eu.