Insatisfação do usuário atinge 70% em Natal

Fonte: Tribuna do Norte Matéria / Texto: Nadjara Martins Fotos: Rodrigo Gomes / Divulgação O ambulante Wellington Mendes do Nascimento começou a trabalhar na parada de ônibus do cemitério do Alecrim, ...
Fonte:
Tribuna do Norte
Matéria / Texto: Nadjara Martins
Fotos: Rodrigo Gomes / Divulgação

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O ambulante Wellington Mendes do Nascimento começou
a trabalhar na parada de ônibus do cemitério do Alecrim, na Avenida Mário
Negócio, há quatro meses, assim que trocaram o telhado do ponto de ônibus.
Entretanto, parte da cobertura já caiu. “Ela só cai à noite, vai se quebrando
aos poucos. Mas pelo menos nunca ficamos no sol”, relata. Seguindo na Mário
Negócio, após a linha do trem, quem precisa de coletivo não escapa do sol e da
chuva, como é o caso da dona de casa Luzimar Lourdes, moradora da Zona Norte.
“A gente que não é daqui fica até sem saber onde é uma parada. Não tem placa,
nem telhado”, reclama. O único indicativo é uma pequena placa azul com a
ilustração de um ônibus.

Frequência, lotação, qualidade das paradas de
ônibus, segurança e confiabilidade são apenas cinco dos itens com maior
reprovação entre os usuários do transporte público da capital. Estudo inédito
realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte com 1067 estudantes
avaliou, durante três meses, a percepção da população sobre o serviço
oferecido. A pesquisa mostra que 70% dos entrevistados estão “insatisfeitos” ou
“muito insatisfeitos” com os 12 tópicos citados.

A pesquisa “Transporte público: percepção dos estudantes quanto à utilização do
mobile de internet na qualidade dos serviços na cidade do Natal/RN” foi
defendida em dezembro como monografia pelo administrador Davisson Barbosa
Avelino, 31 anos. Estudante e usuário do transporte público, Davisson tinha
como foco trabalhar o uso de tecnologia por passageiros nos coletivos. Entretanto,
acabou topando em dados sobre a eficiência do sistema. Na maioria dos 24
questionamentos, a satisfação usuário com o item foi inversamente proporcional
à importância atribuída a ele.
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Estudo mostra que 86% dos usuários consideram a manutenção das paradas um item importante. Mais da metade está insatisfeita com a qualidade das estruturas

Um dos itens, por exemplo, foi o sistema de integração. Principal discussão
entre prefeitura, permissionários e coletivos, o sistema de integração temporal
da rede de transporte foi considerada importante por 84,25% dos entrevistados.
Entretanto, 49% deles reprovavam a integração como existe hoje.


“Dentro de Natal não acontece 100% da integração, por exemplo, com os ônibus
Eucaliptos (linhas semiurbanas), por isso a insatisfação”, comenta Davisson
Barbosa.
 
O Município ainda tenta, atualmente, dar
prosseguimento à Bilhetagem Unificada – sistema de integração da passagem entre
permissionários e coletivos, instituída por lei desde 2013. Em dezembro último,
a prefeitura anunciou que retomará a venda e unificação da tecnologia. Um termo
de referência está sendo elaborado.

O orientador da pesquisa, professor João Vianei, explica que o ponto principal
da pesquisa é a insatisfação do usuário com a rede de transportes como um todo:
desde a frequência das linhas à qualidade das pistas. A demora nas viagens foi
objeto de insatisfação para 63,54% dos entrevistados.  Tempo de viagem
também foi questionado por 46% dos usuários; 79% reclamou da qualidade das
paradas de ônibus; 76,94% da insegurança dentro e fora dos veículos. O
atendimento por parte dos cobradores e motoristas (operadores do sistema) foi
reprovado por 49,86% dos usuários.

Professor do Departamento de Administração e consultor em transporte público,
João Vianei acrescenta que grande parte das melhorias esperadas para a rede
está mais relacionada aos itens de suporte. Na opinião do pesquisador, de pouco
adianta investir em ar-condicionado dentro dos ônibus se você não avança na
mobilidade, por exemplo, ou melhoria da estrutura viária.
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“Todo mundo fala em conforto no ônibus, mas o item que apareceu mais na
pesquisa foi parada de ônibus, viagem mais rápidas, ônibus mais pontuais,
qualidade das vias. Ar condicionado no ônibus talvez se tornasse desnecessário
se você diminuísse o tempo de viagem.  As pessoas querem confiabilidade:
chegar no trabalho pontualmente, contar com aquele ônibus naquele local. Tenho
certeza que essa pesquisa reflete o usuário do transporte público de Natal”,
arrematou.