Transporte coletivo entra na agenda das empresas

Fonte: Valor EconômicoMatéria / Texto: Suzana Liskauskas Foto: Thiago Martins de Souza As discussões em torno da mobilidade urbana afetam diretamente a produtividade do setor privado. Além dos ...
Fonte: Valor Econômico
Matéria / Texto: Suzana Liskauskas
Foto: Thiago Martins de Souza


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As discussões em torno da mobilidade urbana afetam diretamente a produtividade
do setor privado. Além dos impactos relacionados à questão ambiental, as
empresas sofrem com os reflexos negativos dos congestionamentos das grandes
metrópoles, que alteram o bem-estar dos colaboradores e diminuem sua
produtividade. Embora a discussão esteja em estágio inicial no Brasil, os
empresários começam a analisar com mais interesse questões relacionadas à
flexibilização dos horários, ao trabalho remoto e a investimentos em
alternativas de transporte para colaboradores, como ônibus fretados e
vestiários e treinamento para ciclistas.

O
engajamento do setor privado na construção de metrópoles com opções mais
racionais e sustentáveis de transporte foi um dos temas do Etransport. O painel
“Mobilidade Corporativa: o impacto nos negócios e nas cidades”
mostrou iniciativas do setor privado para reduzir o tempo gasto no deslocamento
para o local de trabalho e diminuir os percentuais de estresse.
 
Segundo
pesquisa realizada pela Robert Half, uma das líderes mundiais na área de
recrutamento, em 2012 o Brasil foi o país com a terceira maior taxa anual de
crescimento de trabalho remoto. Em média, o segmento brasileiro de teletrabalho
cresce anualmente em torno de 47%. Em primeiro lugar, está a China, com 54% de
crescimento, seguida da Cingapura, com 50%. Os números dos EUA não foram
considerados porque o teletrabalho é uma realidade na cultura americana há
décadas.
 
Para
os especialistas em recursos humanos, o crescimento da adesão às práticas de
teletrabalho pelas empresas brasileiras está diretamente ligado à preocupação
com o impacto negativo da mobilidade urbana no ambiente corporativo. A advogada
trabalhista, especializada em gestão de RH, Monica Carvalho, sócia da
consultoria Brasil Labore, mostrou no painel que o trabalho remoto traz
diversos benefícios para as empresas, além de uma considerável redução de
custos. Segundo a consultora, no Brasil, o problema está na formalização do
modelo.
 
“O
home office não precisa ser 100%, mas deve atingir 100% dos colaboradores de
uma empresa. É preciso adotar o modelo de maneira formal, respeitando a
obrigatoriedades da legislação a fim de não gerar passivos trabalhistas. É
imprescindível cumprir todas as etapas para a implantação do trabalho remoto, a
fim de evitar o preconceito. O modelo não pode ser visto como um benefício para
um pequeno grupo dentro de uma organização”, diz a consultora.
 

Andrea Leal, consultora de políticas públicas do Banco Mundial e do World
Resources Institute (WRI), mostrou resultados de uma pesquisa feita entre março
de 2012 e março de 2013 com dez empresas na região da avenida Luís Carlos
Berrini, em São Paulo. Segundo Andrea, um das participantes, uma empresa do segmento
de TI, conseguiu reduzir 50% a área de locação com a implantação de um
projeto-piloto de teletrabalho.
 
“A
ideia do projeto surgiu a partir da falta de dados sobre mobilidade
corporativa. Ao buscar métricas sobre o envolvimento das empresas com a questão
da mobilidade, o Banco Mundial concluiu que não havia dados e mapeou as áreas
com a maior concentração de automóveis na capital paulista. Elegemos dois
condomínios na região da Berrini, que reúnem 20 empresas, onde a concentração
de colaboradores chega a 6 mil pessoas, e o tempo médio de espera para sair das
garagens na hora de pico é de 30 minutos”, conta Andrea.
 
Depois
da implantação do projeto, que foi adotado em dez empresas, de todos os portes,
com um universo total de 1.500 colaboradores, Andrea conta que houve avanços
importantes na redução do tempo de deslocamento até o local de trabalho e dos
custos. Na média, nas dez empresas, a taxa de pessoas que se deslocavam de casa
para o trabalho sozinhas em seus automóveis caiu de 53% para 50%. Em alguns
casos, como na Toyota, esse percentual caiu de 55% para 30%.
“Além
disso, subiu o número de usuários de transporte fretado oferecido pela empresa.
Ao final do projeto, os colaboradores da Toyota que usavam esse tipo de
transporte passaram de 9% para 26%”. Segundo Andrea, medidas simples, com
divulgação de informações sobre as opções de transporte e alguma flexibilização
de horários provocam impactos significativos. Com relação ao teletrabalho, ela
diz que os resultados são mais expressivos, mas é preciso seguir rigorosamente
a lei e envolver os sindicatos no início dos projetos.

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