Empresário restaura ônibus clássico Ciferal 1966 nos mínimos detalhes

Fonte: Vrum Fotos: Divulgação Não há como olhar no retrovisor do transporte de passageiros, sobretudo em Minas, sem falar da carioca Ciferal. Fabricante de carrocerias para ônibus que marcou época com ...
Fonte:
Vrum
Fotos: Divulgação

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Não há como olhar no retrovisor do transporte de
passageiros, sobretudo em Minas, sem falar da carioca Ciferal. Fabricante de
carrocerias para ônibus que marcou época com populares modelos revestidos de
alumínio – mais leves, e por isso apropriados para vencer as empoeiradas
estradas das décadas de 1960 e 1970 –, a extinta marca, então sediada na
Avenida Brasil, no subúrbio do Rio, deixou saudades. Nada mais natural que seja
hoje uma das mais procuradas, junto da Mercedes-Benz – fornecedora de chassis,
plataformas e monoblocos (ônibus de estrutura integral) –, na restauração de
ônibus antigos, em voga entre as empresas mineiras.

Última iniciativa nesse sentido foi além ao
reconstruir um modelo Ciferal Rodoviário, ou Flecha de Prata para os mais
íntimos, por completo, refazendo peças como grade frontal e faróis, não mais
encontradas nem mesmo em ferros-velhos do interior, onde a marca Ciferal era
artigo comum há 20, 30, 40 anos… A originalidade do coletivo ano 1966 nas
cores vermelho-mustang e bege causa as mais diversas reações – como numa manhã
de sábado, quando ele foi cercado para fotos num breve passeio pelas ruas de
Contagem.
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ÍCONE 

“Sempre quis reformar um ônibus antigo e o Ciferal
Rodoviário foi o que me marcou, por ter viajado muito nele na época em que ia
de Belo Vale, onde nasci, a Belo Horizonte. Embora a marca tenha lançado outros
modelos, considero este um ícone por conter vários detalhes arrojados para a
época”, conta o autor da reforma, o empresário Julio Cézar Diniz, da empresa
Rouxinol.
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O primeiro passo, segundo ele, foi encontrar uma
unidade em bom estado de conservação, o que não foi tarefa fácil. “É sabido que
esses ônibus trafegaram muito tempo em estradas vicinais e não havia uma
manutenção adequada”, pondera. Localizado o modelo restaurado, que pertencia à
Prefeitura de São Sebastião do Oeste (região Centro-Oeste de Minas), Júlio
contou com o auxílio de Geraldo Matoso, profissional especializado em Ciferal,
na execução do projeto. Do início ao fim, foram três anos, do desmanche,
separação de peças aproveitáveis e compra de novos componentes à montagem
final.
 
NOVELA 
Um
dos pontos mais difíceis da reforma foi substituir os espelhos retrovisores.
“Foi uma novela à parte. Com o modelo original, procurei uma fábrica de panelas
de alumínio em Patrocínio (Triângulo Mineiro) e o reproduzimos. Também cheguei
a ir a Ribeirão Preto em busca de peças ao ser informado de que um ferro-velho
adquiriu o almoxarifado da extinta Transoto. Em vão. Também visitei
ferro-velhos em Lavras, Nova Era, São José dos Campos, Guarulhos e alguns em
Belo Horizonte.” O resultado final foi um veículo antigo com aparência fiel aos
que deixaram a linha de produção e detalhes atuais, como os vidros em tom de
verde, interior marfim, poltronas avermelhadas e o próprio nome da Rouxinol
envelhecido na tipografia – a empresa de fretamento surgiu em 1989. “Tudo isso
somado à satisfação e ao prazer de poder observar como as pessoas que viajaram
em ônibus como este se emocionam ao encontrá-lo”, acrescenta.
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Júlio agora planeja expor o ônibus num memorial da empresa, em construção na
Cidade Industrial. Além dele, o empresário conclui a reforma de um segundo
Ciferal: um modelo leito 1972, chamado de Rodonave, utilizado pela Viação
Itapemirim. Uma das peças mais difíceis de ser encontrada, uma caixa luminosa
de cor vermelha fixada ao centro da traseira, foi garimpada no interior do
Maranhão. “Nele vamos adotar o mesmo processo de envelhecimento, como se a
Rouxinol existisse naquela época, porém com muito luxo a bordo”, adianta.

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Outras empresas mineiras, como a Gontijo, Lopes (de Nova Era), Irmãos Teixeira,
Rodap e Goretti (de Juiz de Fora), têm unidades semelhantes do Ciferal
Rodoviário, com aparições constantes em encontros de carros antigos.

Extinção 

Hoje de propriedade da gaúcha Marcopolo, a
marca Ciferal deixou de existir no ano passado, quando a fábrica de Xerém foi
rebatizada Marcopolo Rio. A justificativa foi de que o mercado confundia a
unidade produtiva, que produz ônibus urbanos da Marcopolo, com os modelos
antigos.