10 anos do trágico acidente do 40229 da Itapemirim

Fonte: Portal Ônibus Paraibanos Matéria / Texto: Carlos Alberto Ribeiro Fotos: O beabá do sertão / Andrey Mayrink Montagem: Adriano Floro dos Santos Um terrível acidente envolvendo um ônibus da ...

Fonte: Portal Ônibus Paraibanos
Matéria / Texto: Carlos Alberto Ribeiro
Fotos: O beabá do sertão / Andrey Mayrink
Montagem: Adriano Floro dos Santos

40229

Um terrível acidente envolvendo um ônibus da empresa Viação Itapemirim ocorreu há 10 anos atrás, matando todos os seus 42 passageiros naquele que é considerado o mais macabro e triste sinistro envolvendo um veículo automotor de transporte coletivo rodoviário de passageiro. Na madrugada do dia 21 de fevereiro de 2004, numa sexta-feira, assim como essa semana (21.02.2014), parece que a soma de todos os azares possíveis se uniram, apesar de não ser uma sexta-feira 13, e resolveram incidir como um raio fulminante em cima de um ônibus da Itapemirim.

O acidente não foi causado por falha mecânica, pane seca, falta de freios ou outros argumentos costumeiramente usados. Pelo contrário, não foi uma condição insegura do ônibus. Da pista há sérias suspeitas, mas de falha do trem de força do ônibus, não. Relatos dão conta de que a tragédia ocorreu por ato inseguro/condição insegura.

Acidentes têm duas causas: ato inseguro ou condição insegura. Neste caso foram duas causas. A rodovia, no trecho do acidente, era pura cratera (buracos), obrigando a rodar em zigue zague. O coletivo utilizado era de ano de fabricação 1994 a 1996. Sua idade se situava entre 8 a 10 anos. Não era um ônibus velho. Este fato aliado ao rigor e a excelência dos trabalhos da equipe de manutenção da Viação Itapemirim descartam a hipótese de falta de freio ou de outra pane.

E um ônibus com opção de dois estágios do freio motor, que segura muito, de eficiente freio de serviço, a ar, da opção de redução de marchas e até do freio de estacionamento não pode falhar pelo costumeiro e mentiroso argumento de “falta de freio”. Freios só deixam de atuar quando a velocidade já se tornou criminosamente e irresponsavelmente perigosa. Aí já é um caso de ato inseguro, de imprudência, imperícia ou cochilar ao volante com o ônibus em tráfego. O ônibus que encerrou sua trajetória de serviços prestados naquela noite era um monobloco fabricado pela Mercedes-Benz, modelo O-400 RSD, configuração de chassi 6 x 2, trucado e de prefixo número 40229.

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O mesmo operava no serviço denominado pela Itapemirim como StarBus. Havia outras classes de serviços, como o Golden, Rodonave e Bombom. O StarBus era bem completo e até ar condicionado no teto tinha, portanto não era um ônibus qualquer. Naquela fatídica noite este carro 40229 estava escalado para fazer a linha Fortaleza x Salvador. Uma viagem e tanto, do Estado do Ceará ao da Bahia, unindo duas capitais. Com lotação completa a viagem que começou não terminou, pois foi interrompida antes quando o ônibus saiu da pista rodante e caiu num açude próximo a cidade de Barro, ainda no Ceará, na divisa com a cidade de Cajazeiras, Paraíba.

A queda na água do açude naquela madrugada foi fatal e resultou na morte de todos os 42 passageiros por asfixia e afogamento. A verdadeira causa do acidente, da saída da pista, até hoje não se sabe. Relatos de caminhoneiros que passaram pelo ônibus dão conta de que o motorista tentou desviar de um obstáculo na pista. Não se sabe qual foi. Outras hipóteses divulgadas foram de ataque cardíaco e de cochilo ao volante. Transeuntes pelo ônibus da Itapemirim naquela noite disseram que o coletivo estava rodando em zigue-zague na rodovia, culminando na saída da estrada, descendo uma ribanceira e caindo no Açude Cipó.

Nem é preciso muita imaginação para perceber a tragédia, os gritos e o desespero dos passageiros que foram abruptamente acordados quando o ônibus caiu no açude e afundou rapidamente. Escuridão total, inclinação da carroceria que impedia a locomoção no corredor, pessoas sendo jogadas umas sobre as outras, o caos total. Ninguém conseguiu sair. A pressão da água e a vedação das janelas para garantir o isolamento térmico do ar condicionado dificultaram a abertura até das saídas de emergência, atestaram os bombeiros que participaram do resgate dos corpos. O relatório da perícia constatou que muitos passageiros correram para a porta da frente, numa tentativa desesperada de sair.

Mas isso somente agravou a tragédia, pois o excesso de peso na parte dianteira, aliado a inclinação da carroceria, pois desceu uma ribanceira e já estava em contato com a água do açude, culminou no seu rápido afundamento. Um sinistro de grande proporção, considerado o mais macabro já ocorrido, tanto pelas 42 mortes quanto pelo cenário de desespero ocorrido no salão de passageiros naqueles minutos finais de vida coletiva, constatado depois pelos bombeiros. O resgate dos corpos foi de grande comoção pelas pessoas que acompanharam o trabalho dos mergulhadores. Havia até crianças a bordo.

Resgatado todos os corpos, o ônibus O-400 RSD também foi guinchado do fundo do açude para criteriosa análise pericial. Havia um grande inquérito policial a ser montado. Muita coisa há em jogo em um acidente deste naipe. Devolvido alguns meses depois a garagem da Viação Itapemirim a carroceria do monobloco foi sucateada. Mas o chassi não. Foi reaproveitado. Com certeza o motor foi retificado ou trocado por outro bloco, assim como todo o “powertrain”. Muito se comentava na época e era assunto de acalorados debates que um chassi monobloco não poderia receber outro tipo de carroceria que não fosse à fabricada pela Mercedes-Benz.

Ledo engano, debate sobre certo aspecto infantil e despido de provas técnicas. Como não poderia o chassi O-400 ou qualquer outro chassi anterior da marca da estrela receber outras carrocerias se o mesmo foi homologado para tal finalidade e pelo Brasil afora circulou milhares de unidades dele tendo carrocerias da Marcopolo, Nielson, Comil e de outras montadoras? Nesta condição, tempo depois o chassi do monobloco O-400 RSD daquele terrível acidente voltou as estradas. E com uma carroceria novinha, da Marcopolo, Geração 6 (G6), modelo Paradiso 1200 HD. Reprefixado com o número 5813, foi configurado para operar no serviço Golden da Itapemirim.

5813+ +MRD 4215
O 40229 atualmente

Carro novo? Nem tanto, sua placa o traiu, era a mesma do “falecido” 40229. MRD-4215. Apesar de novo o seu DNA estava definitivamente marcado por uma tragédia que não se desfaz da noite para o dia. Disso resulta que o ônibus de prefixo 5813 passasse a ser conhecido por lendas macabras, com pessoas que viajaram nele relatando que durante suas viagens, nas noites e madrugadas, escutaram gritos, sussurros e choros de pessoas desesperadas. Isso tudo remete ao terrível acidente da madrugada do dia 21 de fevereiro de 2004, com o monobloco O-400 RSD.

Naquele final de semana, na cidade mais próxima do acidente, Barro, o carnaval foi cancelado e o prefeito decretou luto oficial por causa da tragédia. Acidentes de grande monta, além desse com o coletivo da Itapemirim, também ocorreram em véspera de carnaval. Há 13 anos, num sábado de festividades carnavalescas em inúmeras cidades do Brasil, nesta mesma data, um ônibus da empresa Expresso de Luxo, linha Recife x Fortaleza, caiu de uma ponte sobre o Rio Jaguaribe na cidade de Aracati, distante 150 quilômetros da capital cearense. O terrível acidente resultou em 41 mortes de passageiros. Apenas nove conseguiram se salvar.