Carrocerias Eliziário – A história de um pioneiro

Fonte: Imagens do passado Matéria / Texto: Marcos Jeremias Fotos: Acervo Tudo começou por volta do ano de 1916, Eliziário Goulart da Silva, um jovem de apenas 15 anos de idade, começou a trabalhar em ...

Fonte:
Imagens do passado

Matéria
/ Texto: Marcos Jeremias

Fotos:
Acervo

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Tudo
começou por volta do ano de 1916, Eliziário Goulart da Silva, um jovem de
apenas 15 anos de idade, começou a trabalhar em uma pequena marcenaria
auxiliando na produção de móveis.

Com
o passar do tempo o jovem Eliziário demonstrou grande interesse e habilidade no
trabalho, passando logo para marceneiro.
Em
certa ocasião seu patrão pediu-lhe que adaptasse sobre a carroceria
de um caminhão GM uma pequena carroceria.

Figura

Nesta
época os chamados “baús” eram construídos somente em São Paulo e devido
aos altos custos, o patrão acabou pedindo ao funcionário habilidoso,
perfeccionista e atencioso que construísse algo similar.
O
serviço acabou ficando melhor do que o esperado, e ainda melhor do que os
serviços executados em São Paulo, tudo ficou perfeito e por ser um trabalho
artesanal logo acabou chamando a atenção das pessoas.
A
partir daí, o jovem marceneiro começou a fazer um, dois, três, quatro baús,
tendo grande reconhecimento pela sua mão de obra.

Eliziário
acabou percebendo o valor da sua mão de obra e decidiu trabalhar para si mesmo.
Em
1928, sob um pé de plátano no bairro Passo da Mangueira em Porto Alegre, surgiu
a primeira oficina do encarroçadora que trabalhava com um dos seus filhos,
chamado Astrogildo, dando os passos iniciais  de uma das principais
empresas de ônibus da capital.

Como
todo pioneiro Eliziário, começou aos poucos, mas foi ganhando cada vez mais a
confiança de seus clientes.
O
sucesso de Eliziário crescia e com o passar do tempo e sua fama acabou
indo além.
Na
ocasião em que a Coca-Cola estava se instalando aqui no Brasil, Eliziário e sua
equipe foram contratados para produzir as primeiras “gaiolas” sobre o chassi de
caminhões para transporte de bebidas.
Em
1928, Eliziário recebeu o primeiro grande lote de serviços: foram 18 caminhões
feitos à sombra das folhas alaranjadas do plátamo.
“Fui
a primeira pessoa a tomar Coca-Cola no Brasil”, disse Astrogildo, filho de
Eliziário.
A
Coca-Cola ao contratar-nos mandou dos EUA, uma caixa de madeira com garrafas
cheias, para que pudéssemos ter a noção de tamanho e peso para a construção das
carrocerias.
Como
era novidade resolvi abrir uma garrafa e tomar, a bebida estava quente e o
gosto daquilo era horrível.
Logo
disse ao pai… “isso não vai vender aqui não e ainda vai nos afundar junto”.
Quem
diria tanto a Eliziário, quanto a Coca-Cola foi sucesso mundial.
Em
1930, partiram para a construção de “jardineiras” com chassi Ford e
Chevrolet e anos mais tarde com DeSoto e International.

no início da década de 40 produziram também os conhecidos “Woodies” que se
transformavam em pequenas lotações.

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Eliziário ” micro-ônibus “, construído sobre chassi comercial Chevrolet Gigante 1944

Na
primeira fotografia uma “Chevrolet Woddie” construída sobre um chassi comercial
provavelmente 1941.
Na terceira
fotografia, mais uma Woddie, desta vez sobre um chassi Chevrolet, que era
especificado como “Eliziário Micro – Ônibus Rodoviário”.
O
Ford 1948  da fotografia acima, pertenceu a Empresa Erechim de Porto
Alegre, atualmente conhecida como Unesul.

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Eliziário sobre chassi comercial Ford Hércules 1942

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O
Plátano do Passo da Mangueira em Porto Alegre foi à primeira oficina de
Eliziário, que ajudou nos passos iniciais das principais empresas de ônibus da
capital.
Algum
tempo depois Eliziário montou um galpão e depois do galpão o veio à fábrica.
Artista,
artesão, criativo, Eliziário canalizou sua imaginação para o ofício de
construir caminhonetes e caminhões de carga.
Foi
muito mais longe que a sua imaginação, então começava a serem colocadas em
prática, na Rua Domingos Martins, no bairro Cristo Redentor, as ideias do jovem
marceneiro.
Na
década de quarenta, o bairro Cristo Redentor toma uma configuração industrial,
com as instalações das empresas Fogões Wallig, Tintas Renner e Metalúrgica
Matarazzo e junto a isso começam as obras de alargamento da Av. Assis
Brasil.
Em
1946 Eliziário Goulart da Silva, casado com Elvira Martinelli, com quem teve
quatro filhos, sendo eles, Astrogildo Goulart da Silva, Aldo, Alexandre e 
Aldamira Goulart inaugura o seu novo parque fabril e inaugura oficialmente
a razão social “Carrocerias Eliziário Indústria de Ônibus”.
Eliziário
foi desportista, filantropo, e colabora assim com a construção e fundação do
Hospital Cristo Redentor, que existe até hoje.
O
crescimento econômico da cidade reflete no bairro Cristo Redentor, que começa a
receber moradores não só de outros bairros da cidade, como também do interior
do estado.
Rua
Domingos Rubbo nº  863 em 1948, onde futuramente seria construído o prédio
nº 3 da Carrocerias Eliziário.
Na
primeira fotografia nota-se ao fundo a Igreja Cristo Redentor existente até
hoje na Av. Assis Brasil, em outro ângulo podemos ver a presença de alguns
chassis comerciais para encarroçamento.
No
final da década de quarenta, nos Estados Unidos, já existiam os “Twin Coach” –
ônibus adaptados em carrocerias de alumínio.

Figura+7

Figura+8

Rua
Domingos Rubbo nº  863 em 1948, onde futuramente seria construído o prédio
nº 3 da Carrocerias Eliziário.
Na
primeira fotografia nota-se ao fundo a Igreja Cristo Redentor, existente até
hoje na Av. Assís Brasil, em outro ângulo podemos ver a presença de alguns
chassis comerciais para encarroçamento.

Fotografia
gentilmente cedida pelo amigo Tulio Goulart da Silva.
Eliziário
acabou importando um desses ônibus para estudá-lo em Porto Alegre.
E
assim iniciou-se  uma trajetória  que ajudou a desenvolver o
transporte coletivo nacional e a fortalecer a maior indústria de ônibus do
Brasil.
Produzir
um ônibus naquela época era um trabalho totalmente artesanal, pois não existiam
chassis para encarroçamento, era preciso desmontar caminhões e fazer
adaptações, muitas vezes cortando ou emendando, tanto no comprimento como na
largura.

A
parte interna e a estrutura do ônibus eram feitas com madeira de lei, como
canela e açoita-cavalo, os vidros eram cortados um a um com riscador de
diamante, enfim, um grande e valoroso trabalho.
   
A
fábrica foi crescendo, até que o elevado número de vendas acabou exigindo a
contratação de novos funcionários e o aumento das instalações da mesma.
A
necessidade de adaptar um chassi consumia muitas horas e uma perícia muito
grande dos operários, a madeira era trazida do interior paranaense e era
cuidadosamente trabalhada.
As
forjas reduziam o tempo na produção de para-choques e demais peças metálicas,
mas muitas ainda eram desenhadas e dobradas a mão e martelo na “bigorna”.
Os
vidros eram de seis mm  e logo em Porto Alegre a indústria acabou
desenvolvendo o “vidro temperado”, onde a Eliziário enviava o molde de seus
vidros ao fornecedor e o corte já vinha pronto.
E
isto acabou sendo um marco na evolução tecnológica da indústria de carrocerias
de ônibus.

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Solenidade para a apresentação da maquete do Eliziário Coach
Figura+13
Lançamento de peso na década de quarenta –   Eliziário Coach Intermunicipal GMC  PDI – 3703 1947
Figura+10

Em
1947 a Eliziário começava a mudar o cenário do mercado de carrocerias de
ônibus, colocava na linha de montagem um novo projeto, que já traria uma série
de inovações, pois já marcava uma nova era em ônibus.
Capuz
do motor com isolamento porta com acionamento pneumático, poltronas estofadas com
maior espaço e uma disposição de 38 lugares, este modelo seria produzido até
1949 e era conhecido apenas como Coach derivado do americano que Eliziário
havia importado para estudos.
O
Coach da Eliziário era encarroçado sob chassi GM PDI 3703 de 211 hp,
importados de Detroit.
A
sigla PDI significava “Parlor Diesel Intercity” ou veículo
intermunicipal a diesel.
Em
1948 o “Plano Salte”, tinha como objetivo ordenar gastos públicos e
reduzir as importações, o que acabou beneficiando indiretamente a Carrocerias
Eliziário, que passou a ser a principal referência em matéria de ônibus no
país.
Um
processo quase que totalmente artesanal, transformava lata e ferro em um
produto de grande qualidade.
As
tintas para pintura eram todas importadas da Sherwin – Williams, mais tarde a
Tintas Renner, empresa vizinha da Carrocerias Eliziário na Av. Assis Brasil,
começou a desenvolver as tintas e testar nos veículos em processo de pintura.
Inúmeros
modelos foram produzidos, desde jardineiras, lotações, ônibus urbanos até
chegarem aos rodoviários. Naquela época os veículos produzidos pela Carrocerias
Eliziário, não possuíam nenhuma especificação de nome (modelo) eram todos
conhecidos apenas como Eliziário.
Foi
nesta mesma época também que a Carrocerias Eliziário lançou  no
mercado uma série especial com 50 unidades produzidas, sendo seis delas
adquiridas pela empresa Unetral de Erechim/RS, hoje atualmente conhecida como
Unesul.

Tratava-se
de uma nova tentativa no setor rodoviário, um projeto desenvolvido em
conjunto com a Scania-Vabis a partir de um caminhão B-75.
No
início da década de cinquenta surgia no mercado os primeiros chassis especiais
para ônibus, os famosos “LPO”, reduzindo assim o tempo do produto na linha de
montagem.
Porém
na ocasião somente alguns clientes adquiriam os novos chassis próprios para
ônibus da Aclo , Scania – Vabis , Mercedes – Benz ou os importados Delahaye ,
pois muitos ainda preferiam encarroçar ou reencarroçar sob caminhões adaptados.
Em
1951, a madeira começa a perder espaço, sendo gradativamente substituída
pelas estruturas metálicas, o que acabou sendo mais um avanço no setor do
transporte urbano.
Substituir
a madeira e entrar na era metálica, além de ser uma novidade, tinha também uma
grande vantagem – “A redução do peso do ônibus”, o que acabava influenciando
diretamente no bolso dos empresários na hora de escolher a marca do seu
produto.
Ainda
em 1951 começaram a sair às designações dos produtos Eliziário sendo assim
lançado o “Eliziário Belveder”.
A
partir do Belveder,  a Eliziário começou a equipar os seus ônibus
rodoviários com poltronas Pullman, projeto originário do americano George 
Pullman de 1897, o que deixava estes modelos com um item de acabamento,
conforto e requinte à frente dos rivais.

Figura+19
Eliziário Belveder ” Pullman ” mecânica Mercedes-Benz

Em 1952 ocorre o lançamento do “Eliziário Gostosão”, que teve até uma série
especial sobre o chassi importado Delahaye com 168 hp, na época muito potente,
mas com grande consumo, estes veículos deixavam a fábrica com o nome” Pullman”
estampados em suas laterais, simbolizando e deixando visível o item conforto.
Em
contrapartida a Mercedes – Benz lança sem monobloco “zero- 321 HL ”
rodoviário uma novidade, mas não uma preocupação, pois o sucesso da Eliziário
era tão grande devido a sua qualidade e aceitação no mercado que as principais
empresas nacionais como NSª Penha , Cerro Azul, Garcia, Real Expresso, Catarinense,
Viação Cometa e muitas outras tinham veículos Eliziário em suas frotas e
também pela  questão das exportações, pois naquela época a Eliziário já
estava presente em países como Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Venezuela.
Em
1955, a Carrocerias Eliziário foi a primeira empresa a encarroçar um ”
Gostosão ” urbano em um chassi Volvo importado, era o resultado de mais um
avanço da empresa gaúcha, que no mesmo ano decidi redesenhar o modelo Belveder,
perdendo assim o desnível do teto.
“Em
1956 seria lançado o “modelo “ “Imperador “ e logo “o “ Imperador Diplomata “,
nas versões urbana,  rodoviário e micro – ônibus.

Figura+20
Eliziário ” Gostosão ” 1955, o primeiro ônibus produzido sobre chassi Volvo
Figura+21
Imperador Diplomata Mercedes – Benz  LP 312 1958 Empresa Crucero Del Norte

Figura+24
Eliziário ” Gostosão “, construído sobre chassi Delahaye  1953 motor com 168 hp, vinte e cinco veículos vendidos para a Venezuela.

Em
meados da década de 50 e início da década de 60 as cidades cresciam assim
como a população.
“Algumas
linhas de ônibus necessitavam de veículos maiores, de alta capacidade, surgindo
assim os “chamados “ Papa – Filas “, uma espécie de carreta para passageiros
utilizados quase que exclusivamente em São Paulo.
Mas
ao mesmo tempo em que a cidade exigia em algumas linhas  veículos maiores,
algumas outras ligações precisavam de um serviço diferenciado.
“Surgiram
então as “chamadas “ lotações “, veículos menores, já muito usados por empresas
particulares que atuaram em várias cidades antes mesmo desta época.
Foi
a partir desta data que motoristas empregados, eram os próprios donos dos
veículos e faziam diversas atividades ao mesmo tempo.
As
lotações duraram alguns anos, mas depois foram substituídos por veículos
maiores, por causa do aumento da demanda e da reivindicação dos profissionais
do transporte contra o acumulo de funções, dirigir e cobrar.
Em
1954 acontece à expansão do parque fabril da Carrocerias Eliziário, chegando a
2.050 m² de área construída.
São
implantados também diversos setores na fábrica, tais como: galvanoplastia,
estamparia, fabricação de janelas, chapeação, estofaria, polimento e cabine de
pintura.
Astrogildo
Goulart,  contabilista, estudioso e dedicado à empresa, organizou e
implantou o departamento de recursos humanos e também o cartão ponto na
Carrocerias Eliziário.
“Porém
ainda em 1954, Astrogildo que acompanhou as atividades da Eliziário desde o
princípio acaba deixando a empresa, fundando na Av. Assis Brasil “a “
Carrocerias Azirma “, passando a ser concorrente do pai. Infelizmente
Astrogildo conseguiu manter a sua nova empresa somente até 1968, pois esta só
conquistou posição de mercado na região norte.

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Nesta fotografia podemos ver um Eliziário Bi- Campeão Urbano na Av. Brasil no Rio de Janeiro, veículo estacionado sobre a calçada no lado esquerdo.
(Fonte da Imagem: Revista Veja )
Eliziário
tinha poucas paixões na vida além do seu trabalho, levava uma vida discreta,
sem muitas diversões além da pescaria e da caça.
“Ele
andou de bicicleta durante bons anos “, recorda a filha Aldamira Goulart”.
Nos
finais de semana, atravessava o Guaíba atrás de alguma caça, juntamente com o
genro Humberto Barbieri.
Eliziário
chegava a ir pescar na Argentina, mas na segunda-feira às 06h50min, já estava
na empresa cuidando para que a semana começa-se de forma impecável, ficava
louco de bravo quando alguma coisa não dava certo. “Eliziário pegava um
serviço construía e concluía a carroceria e depois informava o preço ao
cliente”.
Dava
prazos enormes para os clientes da casa, por algumas vezes chegou a perder
dinheiro para não protestar alguns títulos.
“Foi
assim que ele venceu na vida, com honestidade “, diz o genro”.
Era
começo dos anos 60, algumas pequenas novas empresas estavam surgindo e para se
manter na frente Eliziário consulta seus fiéis frotistas que necessitavam de um
carro diferenciado.
“O
empresário Humberto Albino Bianchi da Viação Minuano sugeriu o uso de uma
de suas invenções, “a “ poltrão leito “.
“Foi
então, mais precisamente no ano de 1963, ano do Bi- Campeonato da Seleção
Brasileira, em homenagem à mesma é lançado o “modelo “ Bi – Campeão “nas
configurações urbano, rodoviário e rodoviário superluxo, derivando assim nas
séries I, II e III”.

O
Bi- Campeão teve um toque revolucionário sob os conceitos de carroceria, seu
visual era inovador  e seus acessórios e componentes eram inéditos.
O
veículo começou a ser produzido ainda um pouco pesado, cerca de 3.300 Kg na
versão rodoviária e 2.700 Kg, na versão urbana para 32 passageiros.
A
qualidade era insuperável, suas linhas, seu charme, as novas disposições de
decoração interna e a lista de opcionais, faziam do Bi – Campeão a carroceria
com melhor custo benefício, deixando assim novamente a Eliziário em
posição privilegiada.
A
proposta do lançamento era tanta, que mesmo sem ter saído um único veículo da
linha de montagem, a empresa paranaense NSª da Penha, já havia encomendado 60
veículos, e em 1964 mais 40 veículos foram adquiridos, totalizando 100 unidades
de Bi – Campeões em sua frota.
O
sucesso foi tão grande que ao mesmo tempo a Viação Minuano adquiriu logo de
cara 20 unidades na configuração rodoviário Super Luxo Leito, sob chassi
Scania-Vabis B-75 renovando a sua frota, deixando-a mais charmosa e com um
toque inovador.

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Entrega das primeiras unidades do Eliziário Bi- Campeão Scania – Vabis, para a empresa NSª da Penha, na concessionária SUVESA em 1963.
(Fonte da Imagem: Acervo pessoal de Vladimir Monteiro)
Na
ocasião do lançamento do Eliziário Bicampeão em 1963, a empresa Viação
Minuano de Porto Alegre através do seu proprietário o Sr. Humberto Albino
Bianchi fiel e tradicional cliente da marca escolhe a dedo testar o primeiro
ônibus leito brasileiro, em sua viagem inaugural no dia  04 de Maio de
1963 com 16 passageiros.
O
ônibus seria o grande e valente,  Eliziário Bi – Campeão rodoviário leito,
montado sob o chassi Scania B-75.

As
viagens entre Porto Alegre e São Paulo, eram completadas em vinte horas, ( a
primeira viagem entre essas duas capitais data de 1959 ).

A viagem foi o maior sucesso, pois estávamos apresentando uma classe de serviço
que era novidade para todos, e a procura pelo ônibus leito foi sensacional
graças à  decisão da empresa em optar pelo melhor, aliado a qualidade dos
produtos Eliziário e Scania”.
Altamiro
Antônio Bianchi, filho do Sr. Humberto Albino Bianchi proprietário da Viação
Minuano e da Bianchi Transportes Coletivos de Porto Alegre, hoje SOPAL.
Neste
mesmo ano a Carrocerias Eliziário detinha 54%  do mercado nacional de
ônibus no território brasileiro, e tinha também grandes  concorrentes,
todos com boa qualidade.

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Porto Alegre x São Paulo com a Minuano.
Fidelidade a toda prova aos produtos Eliziário e Scania.
Material publicitário feito em 1963.
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Vista interna do Eliziário Bi – Campeão, poltronas luxuosas e confortáveis, que contavam inclusive com cinzeiros na parte de trás do encosto  e também com um pequena cozinha e toalete.

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Entre
os concorrentes da Carrocerias Eliziário, estavam: Catelli & Henneman, Incasel,
Ott, Grassi, Nielson, Decândia, Nicola, Ciferal, Metropolitana, Cermava,
Mercedes – Benz, Nilo e a própria Azirma.
Em 
nota divulgada pela FABUS, associação que reúne as empresas fabricantes de
carrocerias, entre os anos de 1950 e 1970, o Brasil teve mais de 20
encarroçadoras registradas.
Isso
sem contar empresas de outros ramos que se aventuravam a fazer ônibus e
pequenos empreendedores que trabalhavam sem registro. E a explicação por esta
decisão é muito simples. Os transportes por ônibus cresciam na medida em que as
cidades se desenvolviam economicamente e em número de população. Os bairros
estavam se desenvolvendo,  o que significava mais  pessoas para
serem  transportadas. Surgiam empresas de ônibus mais fortes que
precisavam de mais veículos.
O
mercado brasileiro exigia ônibus. Importar carrocerias em alguns períodos era
praticamente inviável por causa dos custos, ora provocado por fatores externos,
como conflitos mundiais, no caso dos anos 40, quando ocorreu  a
Segunda Guerra Mundial, ou por internos, como a política nacionalista de
Juscelino Kubitscheck que visava estimular a indústria nacional em detrimento
dos produtos estrangeiros.
Com
a alta concorrência e a profissionalização de alguns investidores muitas
encarroçadoras foram desaparecendo aos poucos. Algumas enfrentaram problemas
administrativos e outras foram incorporadas por maiores, como a 
“Metropolitana ” comprada pela Caio, em 1977.
A
disputa era grande, mas a qualidade dos produtos Eliziário era inconfundível,
segundo os empresários, como Dorvalino Jeremias, da extinta Expresso ABC.
“Eram
os ônibus mais caros que existiam, mas em conforto, luxo, acabamento e
qualidade, nenhum outro chegava perto… Naquela época eram os únicos com
Toalete, cabine separada e poltrona leito a bordo… Pagava-se caro, mas se
pagava por qualidade”.
Devido
a muitos problemas algumas foram desaparecendo do cenário e ao longo do tempo
aos poucos a Nicola de Caxias do Sul ganhava espaço, em seu principal
reduto com o recém-contratado vendedor da empresa Antônio Carlos Zanellato
Hilgert e isto representava certa ameaça a Eliziário. Barbieri fez um convite a
Hilgert na churrascaria Espeto de Ouro, onde costumava levar seus clientes, a
intenção era contratar Hilgert, mas ele pediu muito… Estava fora da
realidade, pois era braço direito do concorrente. Eliziário ficou assustado com
o valor.
“Ele
quer ganhar mais que o fabricante”, disse Eliziário.
“Em
1967 para substituir o Bi-Campeão rodoviário é lançado o ônibus que
simbolizaria as 3.000 unidades produzidas a partir do alumínio, “o “ E-3000 “,
que traria um toque mais moderno e imponente a linha de produtos da empresa.

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O estilo e o charme das Carrocerias Eliziário – Eliziário  ” E – 3000 ” Rodoviário, com chassi Magirus – Deutz, da extinta Viação São Luíz ( SALTUR ) de Caxias do Sul.
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 A INCASEL de Caxias do Sul lança o modelo Continental Diplomata, concorrente direto dos demais ônibus rodoviários.
     Porém este modelo obteve pouca aceitação no mercado.

No
mesmo ano,  Belizário Goulart empossa como seu braço direito o Sr.
Humberto Barbieri.
“Naquela
época levávamos cerca de uma semana para entregar um ônibus pronto, 
a cada dia três ônibus eram produzidos”.


Lembro
que os chassis chegavam de 12 em 12, muitas vezes um em cima do outro,
aguardavam no pátio ao lado, e de três em três entravam na linha
de montagem,  passavam pela ferraria para fazer a preparação do chassi,
após isto eram instalados os tubos que davam inicio a construção da estrutura
do ônibus.


Era
um processo muito engenhoso e no final vinha o orgulho… Lembro como se fosse
hoje, quem trabalhava na Eliziário era tido como ótimo profissional, à época
era muito difícil, ganhava-se muito pouco, mas éramos destaques assim como nas
empresas VARIG e WALLIG.


O  velho
Eliziário como alguns chamavam, era exigente, tudo tinha que sair perfeito. Ele
andava pra lá e pra cá na fábrica, se algo estivesse errado mandava desmanchar
e logo  a equipe ganhava um puxão de orelhas, esta exigência toda
fazia com que a Eliziário estivesse sempre à frente da concorrência, mantendo e
atraindo cada vez mais clientes tradicionais e fiéis à marca como era o caso da
Penha e da Família Bianchi além de vários outros.


Em
sua atividade comercial, vender exigia um incessante exercício de contato e
deslocamento, fazendo com que alguns de seus diretores assumissem também o
departamento de vendas. “A divulgação era de porta em porta dos
transportadores, munidos sempre com fotos mostrando as características de cada
produto fabricado “.
Dirceu
Fernandes da Silva, funcionário da Carrocerias Eliziário de  1960 á 1970.

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Preparação de um chassi Mercedes – Benz
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Montagem de um ônibus Eliziário Astro Rodoviário
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A esquerda Eliziário Goulart, um pioneiro símbolo de competência e criatividade.

“Considerada
fonte de inovações em transportes, a empresa procurava manter-se sempre a
frente, e assim, em  outubro de 1967 foi  lançado no mercado, o
modelo urbano símbolo das 3.600 unidades construídas em alumínio, o  “ E-3.
600 ” nas versões rodoviário e urbano.
“Mais
tarde,  em 1968 “o “ E-3-600R “,  com faróis quadrados,
este ônibus seria o modelo Luxo da série E-3. 600.
Em
1969 a Irmãos Nicola de Caxias do Sul, lança o modelo rodoviário Marcopolo que
fora exposto no Salão do Automóvel em São Paulo, a Eliziário, sempre seguindo
uma política de prudência e destaque lançaria assim no mercado em 18 de Agosto
de 1969 como forma de homenagem a Missão Apollo o modelo ” Apollo 70
” com a marca recorde de 250 carrocerias por mês e  em dezembro
do mesmo ano  o modelo  ” Astro II ” .

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A Viação
Minuano, sempre primou pelo maior e melhor produto para oferecer a seus
clientes o melhor atendimento.
Na
ocasião do lançamento do Eliziário E -3600 R Leito, a Viação Minuano
adquiriu no mesmo instante, vinte unidades do novo ônibus, equipado com
chassi Scania.
A
parceria, entre Viação Minuano, Scania e Carrocerias Eliziário, era muito mais
do que um simples elo entre clientes .
Fato
publicado nos principais meios de comunicação da época.
Acima um dos materiais publicitários da união destas três grandes empresas.

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Eliziário E – 3600 R – Magirus – Deutz da paranaense ” Princesa dos Campos “.
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Eliziário Apolo Urbano lançado em 1969.
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” Eliziário Astro Rodoviário Super Luxo “
A imponência dos produtos Eliziário, veículo da  Planalto Transportes, equipado com chassi FNM 1969.
( Fonte da Imagem: Planalto Transportes)
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 Eliziário ” Apolo 70 ” – Lançado em homenagem a Missão Apolo 11, este seria o ultimo ônibus produzido pela carrocerias Eliziário.
    O  Apolo 70 da fotografia acima era montado sob chassi FNM e pertencia a empresa Planalto Transportes.
Infelizmente
na década de setenta começaria o fim desta grande empresa gaúcha chamada
Carrocerias Eliziário.

Foi
neste ano que após o término de uma auditoria interna, que o Sr. Eliziário
Goulart da Silva, viria a descobrir uma série de fraudes na administração da
sua empresa.
Esse
grande desgosto, somado a desentendimentos familiares e outros fatores mais,
levaram “Seu Eliziário”, como era conhecido a ter uma atitude
inusitada, a venda da Carrocerias Eliziário.
Convocou
uma reunião em Porto Alegre, com os irmãos Nicola e Paulo Belini e
perguntou-lhes…
“QUANTO ME PAGAM  EM TUDO ISSO”? “.
“O
Sr. Dorval Nicola respondeu “- “ Dou-te tanto “, o valor era equivalente a
quatro décimos do valor real da empresa. De cabeça erguida, voz firme a
resposta foi a seguinte, ” Aqui estão as chaves, podem levar tudo ” .
Dados
não oficiais divulgam que até aquele momento a Carrocerias Eliziário já havia
produzido cerca de dez mil veículos desde a sua fundação.
O
valor arrecadado com a venda da empresa foi investido por Eliziário na
construção de 57 prédios em bairros tradicionais de Porto Alegre, passando
então a viver da renda de seus aluguéis.
Ainda
em 1970, com encerramento das atividades das empresas ônibus Pilares e Cirb e
com a aliança entre a Ciferal e a Metropolitana, no RJ, começava aqui no
sul o processo de desaparecimento do nome Eliziário e o fortalecimento da
Carrocerias Nicola no mercado.

Após
a compra da Carrocerias Eliziário pela Carrocerias Nicola, e também o grande
sucesso obtido após o lançamento dos veículos rodoviários, a Carrocerias
Nicola, passa a se chamar, Marcopolo  – Carrocerias Nicola S.A. .

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Material de divulgação da compra da Carrocerias Eliziário pela Carrocerias  Nicola.

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Eliziário ” E – 3600 ” – Série III – Em 1970 já sob administração da Nicola.
Neste ônibus já nota-se a mudança da janela de emergência lateral, deslocada para o centro do veículo e a reestilização da dianteira.
( Fonte da Imagem: Acervo pessoal de Maria Jeremias )
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1971 – Primeiro ônibus da Nicola, produzido nas antigas instalações da Carrocerias Eliziário no bairro Cristo Redentor em Porto Alegre.

“Trata-se
“do “ Nicola Série Prata “, sob chassi Mercedes – Benz LPO – 334 1971 da Viação
Auto Petrópolis VAP.
Nesta
fotografia estão; José Heck, Humberto Barbiere, Antônio Carlos Hilgert ( Nicola
), Paulo Bellini (Nicola), Guido Raupp, Eliziário Goulart da Silva, João
Rodrigues de Lima e João Brondani (VAP).
Em
1972, Eliziário que acompanhou a transição e os primeiros passos da Nicola em
Porto Alegre, deixa definitivamente a fábrica. Já em 1974 esta detinha 41% do
mercado nacional de carrocerias rodoviárias tendo fabricado juntamente com a
Eliziário e Nimbus 3.065 unidades.
Sendo
assim fabricados em Porto Alegre, modelos urbanos da Nicola, como a Série Ouro
Urbano, San Remo e Veneza, que logo começaram a sair de fábrica com a plaqueta
” Carrocerias Eliziário ” e o logotipo Marcopolo.

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Em 1973 a Eliziário já produzia o modelo Veneza em Porto Alegre, na fotografia acima o registro da entrega de 18 veículos para a Viação Cidade Morena do Rio de Janeiro.
Em
1977 com a aquisição da Nimbus, o Grupo Marcopolo era composto pelas empresas:
Marcopolo S/A Carrocerias e Ônibus, Marcopolo Minas S/A, Carrocerias Eliziário
S/A Indústria e Comércio, Nimbus S/A Ônibus e Veículos Especiais
e Carroceria Nicola S/A Manufaturas Metálicas.

em 1979 a Marcopolo altera a denominação da Nimbus, para Invel S.A Veículos
Especiais, alguns modelos desta marca foram modificados, como foi o caso do
“Nimbus Haragano”, que a Marcopolo modificou-o e rebatizou como San Remo.
No
inicio dos anos 80, o desaquecimento da economia brasileira afetou
especialmente o setor industrial, agravando o nível geral de desempregos,
promovendo uma alta vertiginosa das taxas de juros e constantes majorações nos
preços dos combustíveis.
Estes
elementos associados influíram de forma negativa na renovação nacional de
frotas das empresas de ônibus. A produção de ônibus em 1981, que era de 15.000
unidades foi decrescendo sucessivamente, tendo atingido, em 1985 apenas 6.856
unidades.
Essa
redução em mais de 50% resultou no envelhecimento da frota brasileira, que
naquele período chegou a ter 53,9% dos ônibus com idade superior a oito anos,
considerada exagerada na ocasião.
Em
1983 a Marcopolo decide desativar a fábrica de Minas Gerais, onde era produzido
o modelo Marcopolo San Remo. A crise sofrida nos primeiros anos da década de 80
levou o governo Federal a lançar um plano de estabilização econômica, reduzindo
juros para financiamento de bens de capital, atenuando o nível de desemprego e
instalando a assembleia.
A
Marcopolo, para superar esse período de crise nacional, reavaliou e modificou
seus projetos e sistemas de gerenciamento, bem como linha de produção e
estrutura.
Era
então a hora de fechar as portas da Eliziário em Porto Alegre e a Invel
(Nimbus), transferindo assim toda a linha e maquinários para Caxias do Sul.
Essas
medidas, num esforço conjunto, cooperaram para que a empresa chegasse
revitalizada, ao final da década de 80.
Em
1989 em Braço do Norte, interior Catarinense aos 89 anos o gaúcho Sr. Eliziário
Goulart da Silva faleceu em decorrência de Infarto e fora sepultado em Porto
Alegre no Cemitério São João, no Jazigo da Família ” Goulart “.
O velho
pioneiro símbolo de competência e honestidade aliados à qualidade e pioneirismo
do seu produto que o Brasil e alguns países do mundo conheceram e tornou a
marca Eliziário referência no desenvolvimento do transporte coletivo urbano e
rodoviário nacional.

em 1990 as instalações da Eliziário foram vendidas e em 1994 iniciou-se ali a
construção de um grande condomínio residencial, ficando apenas o paredão
de pedras intacto na lateral da fábrica, a placa de inauguração no Hospital
Cristo Redentor e a lembrança na memória viva de cada um que teve o privilégio
de trabalhar, admirar e até mesmo andar em um ônibus da Eliziário.
As
fotografias abaixo fazem uma analogia entre o passado e o presente, mostrando
como era a área onde era situada a Carrocerias Eliziário, entre as décadas de
50 e 60 e como ela esta nos dias de hoje.
Essas
fotografias foram feitas pelo Marcos Jeremias em Março do ano passado.
Esta
memória ficará para sempre guardada, principalmente por aquelas pessoas que tem
ligação direta com o transporte de passageiros como Marcos Jeremias e Salomão
Golandski que desenvolveram esta matéria exclusivamente para recordar e
resgatar a memória do transporte coletivo nacional.
Muitas
vezes, nem vivemos estas épocas e muitos não se identificam com estas fotos
mais antigas, mas elas são de extrema importância para vermos como  o
transporte urbano coletivo se desenvolveu e chegou ao nível que estão. Nível
este que não é o ideal, aliás, está longe disso, mas, convenhamos melhor em
algumas regiões que há alguns anos.
Muito
mais  interessante do que estudar esta história, é poder estar por
dentro de uma trajetória, pois momentos adversos marcaram muitas épocas e
indústrias.
Em
tempos atuais que muitos nem sequer sabem dessa história toda, ainda é comum
avistar alguns veículos produzidos pelas antigas encarroçadoras.
Muitos
Eliziários ainda rodam pelas ruas e avenidas do país, algumas empresas e
colecionadores ainda preservam alguns de seus modelos, como é o caso das
empresas Nortran Transportes Coletivos (resultado da união das empresas Viação
São João, NSª Trabalho e Educandário) de Porto Alegre e a Sociedade de Ônibus
Gigante SOGIL.
A
Sogil mantém ainda preservado um Eliziário Bi-Campeão Rodoviário Scania-Vabis
B-75 1966, o mesmo foi usado na comemoração dos 55 anos da empresa  em 25
de Maio de 2009 fazendo o trajeto Gravataí x Porto Alegre, com 37 passageiros e
tripulação vestida a rigor a época do modelo.
Este
modelo da Sogil havia sido vendido pela empresa ao encerrar seu prazo de vida
útil, mas anos depois o Diretor Fernando Ribeiro da Empresa Viação Santa Tereza
– VISATE de Caxias do Sul – RS empresa do Grupo VISATE/SOGIL localizou-o no
interior do estado, restaurou e o colocou para rodar novamente nas
cores da SOGIL.

a Nortran de Porto Alegre, por sua vez adquiriu de Alegrete um de seus
primeiros ônibus, no caso, de uma das suas antecessoras a NSª Trabalho, o
modelo E-3. 600 Urbano Mercedes-Benz LP-321 1968 foi comprado e trazido a
Garagem da empresa em Porto Alegre onde se encontra em processo de
restauração.

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Eliziário  ” E -3000 “, aguardando processo de restauração em Porto Alegre.

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Eliziário Bi – Campeão Urbano série III – à venda na cidade de Santa Maria/RS em Outubro de 2009.
(Fonte da Imagem: Acervo pessoal de Michel Santos)

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Flâmula, pertencente ao acervo de Salomão Golandski, guardada com todo cuidado desde a década de 60 durante visita a Carrocerias Eliziário.

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