Excesso de carros prejudica os ônibus

Fonte: Vá de Bike Matéria/Texto: Willian Cruz Foto: Acervo Paraíba Bus Team Final do dia, saída do trabalho. O ônibus demora para passar e, quando chega, vem lotado. Todo mundo que usa transporte ...

Fonte: Vá de Bike
Matéria/Texto: Willian Cruz
Foto: Acervo Paraíba Bus Team

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Final do dia, saída do trabalho. O ônibus demora
para passar e, quando chega, vem lotado. Todo mundo que usa transporte coletivo
já deve ter sofrido com isso.  E qual a solução? Veículos mais rápidos?
Mais ônibus nas ruas? Não necessariamente.

Isso porque problema principal não é o ônibus ser
“lento”. E, em muitos casos, também não é a falta de veículos atendendo a
linha. A maior causa de ônibus lotados e que demoram a passar é, na verdade, a
quantidade exagerada de carros nas ruas.
Não acredita? Eu explico.

Ônibus que não anda lota rapidamente
Imagine um ônibus que está ainda no início de sua
viagem, passando pelos primeiros pontos da linha, relativamente vazio. De
repente, ao virar uma esquina, aquela fila interminável de carros.
Esse ônibus levaria mais dois minutos para chegar
no próximo ponto, mas acabará demorando quinze. Supondo que os veículos que
atendem essa linha saiam a cada 15 minutos, esse ônibus do nosso exemplo vai
acabar coletando o dobro de pessoas ao parar no próximo ponto.
O atraso vai se acumulando e a quantidade de pessoas esperando no ponto também.
Em pouco tempo, o ônibus estará lotado. Quando
passar pelos próximos pontos, pouca gente conseguirá embarcar, aumentando o
acúmulo de pessoas que subirá no ônibus que vem atrás, também atrasado. A
situação vai piorando, até que o congestionamento diminua.

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E quem causa o congestionamento? Um ônibus com 60
pessoas, ocupando uns 15 metros em uma única faixa, ou 60 carros com uma pessoa
em cada um, ocupando todas as faixas em uma ou duas quadras?
Corredores
O exemplo acima reflete uma situação em que não há
faixa exclusiva. Ainda que seja uma faixapreferencial (aquelas
posicionadas à direita da via), os carros que entram “eventualmente” – seja
para virar numa rua, entrar numa garagem ou mesmo para cortar o trânsito das
outras faixas, simulando que vão virar a esquina – acabam impactando em seu
deslocamento.
Mas e os corredores? Bem, para um corredor de
ônibus continuar eficiente mesmo em horários de pico, é preciso, entre outras
coisas, que ele esteja totalmente isolado do tráfego de
automóveis. E geralmente isso não acontece. É muito comum em São Paulo os
corredores terem pontos em que os ônibus sofrem interferência do fluxo de
automóveis.
Um exemplo disso é o corredor Santo Amaro/Nove de
Julho, que tem pelo menos dois pontos críticos. Um deles é onde a Av.
Santo Amaro passa a ser São Gabriel, logo após um túnel, no Itaim Bibi, onde os
ônibus têm de trocar de faixa para pegar os passageiros na direita. Por causa
disso, o corredor some e só reaparece depois do túnel. Com os ônibus parados em
meio ao mar de carros, ocorre um congestionamento de muitas quadras no
corredor. Quem estiver esperando o ônibus dali em diante, vai ter que esperar
mais e pegar um ônibus que vai chegar lotado.
O outro ponto crítico desse corredor é o túnel na 9
de Julho, embaixo da Avenida Paulista. Antes desse túnel, há duas faixas para os
carros e o corredor isolado; no túnel, há apenas duas faixas. O correto seria
manter o corredor, deixando apenas uma faixa para os automóveis, mas aí não
seria São Paulo. As duas faixas se tornam de uso comum, os ônibus empacam atrás
dos carros parados e o corredor entope novamente. Atravessar o túnel pode
chegar a levar 15 minutos.
Carros no corredor de ônibus
São Paulo é uma das poucas cidades onde corredores
de ônibus tem horário de funcionamento e exceções de uso. Essa página da CET informa os dias e horários em que
o corredor de ônibus “não opera” e qualquer carro pode utilizá-lo.
A mesma página informa também sobre a permissão –
temporária mas renovada periodicamente há anos – para que táxis com passageiros
possam circular no corredor. Na prática, muitos taxistas sem passageiros também
circulam na área que deveria ser exclusiva.

Com isso, acaba-se dando prioridade para o
transporte em táxi, em detrimento do transporte coletivo. Isso não deixa de
trazer as mesmas consequências para a cidade que o transporte em carro
individual (excetuando-se apenas a do espaço ocupado para estacionamento): um
táxi também congestiona, também ocupa espaço de circulação, também polui. E,
considerando o deslocamento entre viagens, circula bem mais no viário do que os
automóveis das pessoas transportadas circulariam em viagens individuais, se
somados.
Congestionamento encarece os ônibus
O modelo de cidade priorizando o deslocamento em
automóvel também influi no preço da passagem de ônibus. É o que afirma Rogério
Belda, diretor da ANTP, em entrevista ao Estadão (imagem ao lado – clique para
ampliar).
Em uma resposta curta e direta, Belda explica que o
fato de parar constantemente devido ao congestionamento prejudica “a velocidade
e o desempenho do veículo”, aumentando os custos.

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Não ficou claro se Belda considerou apenas os
custos diretos de cada veículo (combustível, manutenção, desgaste e etc.), mas
é necessário incluir nessa conta os malabarismos operacionais necessários para
tentar conter o impacto do congestionamento, como a disponibilização de
veículos e pessoal adicionais em determinados horários.