Especial de Domingo: João Pessoa nos tempos das Sopas e Marinetes

Fonte: Portal Ônibus Paraibanos Matéria/Texto: Arion Farias Fotos: Pesquisa e Acervo Paraíba Bus Team “Sopa”: Designação genérica do transporte rodoviário coletivo na Paraíba na década de 30, em ...
Fonte:
Portal Ônibus Paraibanos
Matéria/Texto:
Arion Farias
Fotos: Pesquisa e Acervo Paraíba Bus Team
“Sopa”:
Designação genérica do transporte rodoviário coletivo na Paraíba na década de
30, em virtude do transporte ser rápido e bom. No dicionário, “sopa” significa
caldo gordo ou magro com massa, ovos, legumes ou outras substâncias, servido
geralmente como primeiro prato do jantar; coisa fácil, proveitosa. A partir
dessa significação é que se denominou, na Paraíba, caminhão adaptado sobre sua
carroceria assentos paralelos, cada um com cinco lugares, sem portas e janelas
de proteção, com capota, coberta, em madeira forrada com lona e estribos na
lateral (semelhante aos bondes elétricos). Acompanhem aqui nessa matéria
histórica para o domingo mais informações e conteúdo sobre os antigos ônibus na
Paraíba!

A
única opção para os passageiros era a cortina de “ipecalina” ou lonita, envolto
em um cilindro de madeira atado com cadarço e presa à capota. A “sopa” não foi
de verdade o primeiro transporte coletivo na capital paraibana, conforme
depoimento do usuário dr. Hermenegildo D’Lascio-79, mas obteve um impulso muito
importante, tanto na área interestadual quanto intermunicipal.
Carro+04+FordNa
década de 20, quando a capital era Parahyba, circulou nesta capital dois ônibus
adaptados de carroceria de caminhão Chevrolet 1918 (ainda com motor de partida
movido a “manicaca” – manivela manual) totalmente fechada com uma única porta
de entrada e saída pela parte posterior ao motor (traseira) com subida em um
lance de dois degraus de escada bastante alto e por este motivo somente
conduzia passageiros do sexo masculino, pois a altura não convinha para as
mulheres que zelavam muito pela moralidade e decência. O referido ônibus fazia
a linha do “Comércio”, enquanto o da foto fazia “Róger”.
Consideramos
isso normal, pois as mulheres usavam “caçolas” até o meio das pernas e o
vestido longo, e os homens “cilouras”, ou seja, “cuecas” compridas atadas ao
tornozelo, suspensório, chapéu coco ou palheta e o indispensável paletó
“taioba” (jaquetão com 3 botões – aqueles do ex-presidente José Sarney).
Lagoa+anos+50
Antiga “sopa” na Lagoa
Quanto
à 1ª “sopa” que surgiu em João Pessoa, foi oriunda de Recife, em 1935, do
empresário Dr. Causélio, montada em um chassis de caminhão internacional, com
linha regular João Pessoa – Recife, que era conduzido por dois motoristas se
revezando como motorista e cobrador, inclusive, um dos motoristas, foi
assassinado na Praça Álvaro Machado, com uma arma branca, pelo genitor de um
usuário menor, que fora espancado na cidade de Goiana. O paraibano que sucedeu
a linha João Pessoa – Recife do Dr. Causélio foi o proprietário de um caminhão
“misto” de três boleias, Sr José Alves, (tio dos proprietários da empresa Bela
Vista “in memorian” e da extinta Boa Vista, Arnado e Arnoud Azevedo) que
conduzia peixe de João Pessoa para Campina Grande e posteriormente para Recife.
Carro+3O
horário da “sopa” do Sr José Alves, já com carroceria modificada, fechada e com
uma porta para entrada e saída, na parte posterior do veículo, uma escada de
ferro que conduzia ao teto, um porta-bagagem onde eram conduzidas devidamente
amarradas pelo “calunga” ou “chapeado” encarregado e o qual viajava no teto, alguns
deles lembramos: “Mandacaru”, “Zé Preto” e “Zé Galego”, o primeiro fazia
“ponto” na atual estação rodoviária e o último foi, posteriormente, motorista
da empresa Viação Bonfim. Era com saída às 06hrs e chegada ao Recife às 10hrs,
com estacionamento no Parque 13 de Maio, ao lado do Quartel General, mudando
posteriormente para uma pensão com ponto de venda de passagens.
Logo
após o início da linha do Sr. José Alves, o empresário Sabino lançou novo
horário com saída de João Pessoa às 13hrs e regresso às 6hrs da manhã, partindo
do Recife. O ponto de partida dos empresários na capital paraibana na “sopa” do
Sr José Alves era defronte ao Café Alves (transformado posterior em King Jóia),
e a “sopa” de José Sabino com saída e parada no regresso defronte ao Cine
Plaza, posteriormente o empresário Chianca. Os assentos ou lugares mais
disputados e preferidos era na “boleia”, ou seja, no banco ao lado do
motorista.
Campina+Grande+Patos
Um dos que faziam a ligação entre Campina Grande e Patos. Chevrolet “Gigante”

em 1940, o crescimento demográfico obrigou outros empresários a ampliarem suas
atividades do interior do estado para a capital, foi o caso do Sr Manoel Brito,
que iniciou sua vida com um caminhão “misto” (construído com três boleias)
conduzindo 15 passageiros e outra metade da carroceria para carga. Viajava de
Guarabira a Campina Grande e de Campina Grande a João Pessoa no ano de 1947,
logo depois adquiriu um ônibus Chevrolet 46, do cap. Gil, que iniciou uma linha
regular de Guarabira a João Pessoa, tendo posteriormente introduzido uma linha
regular de João Pessoa a Recife e estendendo uma linha de João Pessoa ao Rio de
Janeiro, em asfalto, fazendo este percurso, entre ida e volta, em 20 dias.
1955 Via%252B%25C2%25BA%252B%25C3%25BAo+Dutra+StudbakerManoel
de Brito, hoje um homem tranquilo e religioso, conta que na época trocou a sua
linha de João Pessoa a Recife, com o empresário Severino Camelo, por um horário
de Campina Grande via Brejo a João Pessoa, daí a expansão daquele empresário, e
hoje temos a Empresa Viação Bonfim, atualmente dirigida pelos seus herdeiros. Nessa
época, não existia uma estação rodoviária de apoio de partida ou chegada dos
ônibus no âmbito intermunicipal (exceto de Santa Rita ainda como “sopa”),
fazia-se na Praça Álvaro Machado, ao lado do 1º posto de combustível instalado
na Paraíba, da empresa Texaco, defronte à extinta casa de autopeças Casa do
Leão, quanto ao ponto e partida ou chegada. Da linha Santa Rita, localizava-se
em frente ao Café Popular de Jocelino F. Mola na rua Irineu Pinto, após o IBGE.
Podemos
citar alguns proprietários de ônibus com linha regular para o interior do
estado, de acordo com o motorista cearense, tivemos Pedro Eugênio para a Rio
Tinto, Vicente Bezerra para Guarabira, Aloízio Gomes e Abiatar Vasconcelos para
Santa Rita, Severino Camêlo e Manoel de Brito.
Coletivo
Urbano –
Na década de 50, o transporte mais utilizado era o bonde elétrico, o
desenvolvimento tecnológico exigia maior velocidade e competência comercial. O
homem já estava descobrindo a cabeça – tirando o chapéu – , mas ainda usava o
guarda-sol e cueca samba-canção. Os cantores Vicente Celestino, Sílvio Caldas,
José Mojica, Carlos Carvalho, Pixinguinha, Nelson Gonçalves e outros já estavam
na “parada de sucessos”.
Alguns
empresários lançavam ônibus urbanos, com linha regular para diversos bairros,
como Mandacaru, Tambaú, Cruz das Armas, Jaguaribe, Torre e Expedicionários (foto acima),
cujos proprietários lembramos: Luiz Venâncio, Sebastião Bronqueiro, Luiz Titica
, Oscar, Orlando Saboeira, Galinha Velha, Manoel Costeira, Delegado, Bomba
Rouca, Wilson Santos e outros. Como a demanda dos transportes coletivos foi
aumentando, principalmente com a classe estudantil, foi utilizado meio de
transporte de “meio termo” entre ônibus e os bondes: a “Marinete” – uma
carroceria de automóvel, adaptado em madeira, para acomodação para 10 ou 12
passageiros. Por ser mais rápida, e de pouca altura, foi denominado
popularmente de “marinese” em virtude da passagem por esta capital do
conferencista de fama internacional o intelectual prof. Marinete, cultuador do
futurismo.
Acervo+Stuckert+%25288%2529
Antigo bonde elétrico com reboque, de 1938
Os
pontos de parada obrigatórios para as “marinetes” não existiam, o usuário
aguardava em seu percurso, estirava o braço e a parada era de acordo com a
necessidade, em algumas ocasiões, em época invernosa, dizia-se: “aí na porta de
casa” e o proprietário com interesse de continuar com a preferência obedecia.
Podemos
citar alguns proprietários de “marinetes”: Nego Ferreira, Luciano Wanderley
(Cine Municipal), Geraldo, Manoel Noite de Rosa, Varela Liga, José Pereira,
Nino Nicolau, Wilson Santos, Manoel 54, Domingos Ramos, Geraldo Pinto, entre
outros.
Carro+10+mercedesA
Beliscada –
O aumento do preço das passagens sempre foi problemático na
capital, em virtude desses aumentos, na década de 50, surgiu a figura
“beliscada” (semelhante ao “pau de arara”), um meio de transporte de baixo
custo, porém, sem a devida segurança e conforto, que fazia linha regular para
os bairros em horários de maior movimento, inclusive aos domingos para a praia
de Tambaú. Era composto de um caminhão com carroceria de madeira, com tábuas
nas laterais das grades servido de assento, uma cobertura de lona e uma escada
rústico na parte posterior. A denominação de “beliscada” era em virtude das
peças de madeira que serviam de assentos imprensar a parte do corpo que quando
sentava, fazia contato com elas. As “beliscadas” tiveram vida curta, e
ressurgiam quando em caso de greve de coletivo e que os proprietários de caminhão
se aproveitavam da ocasião.
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confecção da carroceria das “sopas”, ônibus e “marinetes” eram feitos na parte
de madeira e estofados por Manuel Bitu, com oficina na Pedro II, defronte ao
jornal O Norte; mecânico de feixes de mola Ferreiro e Dedé, na rua Gameleira.
Entre outros tivemos José Vicente e Zequinha.
Posteriormente
a “marinete” e a “beliscada” surgiram o “lotação”. Ou seja: uma “marinete”
aperfeiçoada, com conforto, bancos estofados (molas), com encosto e couro e
capim, com acomodação para 20 passageiros, oriundas do Rio de Janeiro,
adquiridas pelo empresário Neco do Róger e vendidas nesta capital, e conforme
depoimento do motorista profissional Manoel Nogueira Filho, Cearense, Neco
vendeu cerca de 100 destes coletivos e alguns recebiam denominação popular de
acordo com sua conformação como: “tatu”, “brabo de pavão”, etc.
Acervo+Stuckert+%25285%2529
As
lotações foram ficando deficitárias, em virtude doo surgimento de várias empresas
organizadas, como a Progresso, Róger, Rodoviária do Dr. Coralho Soares,
Mandacaruense, fundando empresas menores, sem contar com a participação do
Governo de José Américo que adquiriu uma frota de ônibus, numa situação
semelhante ao surgimento da Setusa, no governo de Tarcísio Burity.