Quando a falta de segurança para as mulheres no transporte é manchete

Fonte: The City Fix Brasil Matéria/Texto: Maria Fernanda Cavalcanti Foto: Divulgação O caso de uma gangue agressiva que, em dezembro, estuprou, assaltou e causou lesões internas fatais com uma barra ...

Fonte: The City Fix Brasil
Matéria/Texto: Maria Fernanda Cavalcanti
Foto: Divulgação

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O caso de uma gangue agressiva que, em
dezembro, estuprou, assaltou e causou lesões internas fatais com uma barra de
ferro a uma estudante de 23 anos, dentro de um ônibus público em Nova Deli, tem
causado tumultos em todo o país e provocou um protesto internacional contra a
falta de segurança para as mulheres na Índia. Mas o horrível incidente também
destaca uma questão global que as mulheres enfrentam diariamente: a falta de
segurança adequada para as mulheres e meninas no transporte público. Existem
milhares de histórias, quem vêm à tona ou não, de assédio, estupro e violência
contra as mulheres no transporte público em todo o mundo. Mesmo na Índia, ainda
abalada por protestos que pedem mais segurança para as mulheres, pelo menos,
mais dois estupros de gangues contra jovens mulheres em ônibus públicos foram reportados nas últimas
semanas.

Nações mais
“desenvolvidas” também não estão imunes à violência contra as mulheres no
transporte público. Em novembro de 2012, uma menina de 18 anos, que teria
deficiência mental, foi estuprada em um ônibus público em Los Angeles, enquanto
o motorista continuou sua rota. Foi o terceiro estupro no sistema de ônibus no
ano passado, de acordo com a Los Angeles County Metropolitan Transportation
Authority. E em 2011, uma mulher em Nottingham, na Inglaterra, foi obrigada a
sair do ônibus às 3h da manhã, depois de não ter 20 pence para completar a
tarifa de 5 libras. Ela foi estuprada na rua, de acordo com uma reportagem da
BBC, enquanto esperava sua mãe para buscá-la.

De acordo com
um relatório da Next City, uma mulher foi sequestrada por homens armados, no
ano passado, em um trem de Chicago e levada por dois homens para um
apartamento, onde ela foi estuprada. Em Ciudad Juarez, no México, uma cidade
fronteiriça conhecida pela violência sistemática e brutal contra as mulheres –
incluindo tortura, estupro e assassinato – trabalhadoras relatam que a parte
mais perigosa do seu dia é esperar o ônibus para ir e voltar do trabalho, onde
homens, em carros, sequestram mulheres ou esperam no terminal de ônibus
principal da cidade, onde “pegam” as suas vítimas entre as centenas de mulheres
que entram e saem dos ônibus.

Questões
de gênero na mobilidade são amplamente ignoradas em todo o mundo

O transporte
público é inerentemente mais seguro em termos de acidentes de trânsito do que o
transporte privado, mas para as mulheres – que dependem do transporte público
mais do que os homens e representam mais da metade dos
usuários de transporte público em nível global – o transporte público é menos seguro
em termos de assaltos violentos. Apesar da evidência de que o transporte
público não está atendendo as necessidades de segurança das mulheres, a
segurança das mulheres não é uma prioridade para a maioria dos prestadores de
serviços.

MulherDe acordo com
Anastasia Loukaitou-Sideris, da UCLA, cujo mais recente estudo fala sobre o que
faz com que as passageiras se sintam inseguras (e, assim, decidam não andar de
transporte público), as mulheres têm necessidades específicas como passageiras,
especialmente em relação à segurança. Ela diz que sua pesquisa com as agências
norte-americanas de trânsito, com mais de 50 veículos de transporte coletivo,
revelou que, apesar de dois terços dos entrevistados acreditarem que as mulheres
têm necessidades específicas, apenas um terço pensa que as agências de trânsito
devam realmente fazer algo sobre isso. “A parte mais chocante desta pesquisa”,
observou ela, “foi que apenas 3% das agências tinham programas em vigor para as
mulheres”.

O primeiro
passo para tornar o transporte público mais seguro para as mulheres está em
assegurar o compromisso com os responsáveis pelo transporte para tornar seus
sistemas mais seguros para as mulheres: das agências governamentais e
urbanistas até motoristas de ônibus e policiais. Por exemplo, o ônibus de Nova
Deli, onde o estupro ocorreu, estava funcionando ilegalmente – e tinha sido
apreendido seis vezes nos últimos dois anos. Autoridades distritais multaram,
repetidas vezes, o operador (o principal suspeito no caso do estupro da gangue)
com 2.200 rúpias (cerca de R$ 80) e devolveu o veículo, todas as vezes. Alguns
culparam o departamento de transporte de Deli de ser corrupto e o responsável
pelo ataque brutal, e estão pedindo a demissão do Ministro dos Transportes.

No México, as
mulheres da cidade de Juarez dizem que pediram aos planejadores da cidade para
melhorar as paradas de ônibus e os serviços em áreas marginalizadas por anos,
mas não tiveram sucesso. Enquanto isso, centenas de mulheres e meninas
desapareceram das ruas da cidade, os seus corpos são encontrados
mutilados e jogados no deserto, isso quando são encontrados. Corrupção,
indiferença às necessidades das mulheres e a falta de preocupação com os
usuários de transporte público – que muitas vezes vivem em áreas de subúrbio ou
fazem parte de um grupo demográfico de baixa renda – estabelecem as bases para
um sistema que funciona contra as mulheres.

Exigência
por um transporte mais seguro para as mulheres em nossas vidas e no mundo

Nós, na EMBARQ
México, estamos propondo a “Iniciativa para um Transporte Seguro para Mulheres”
e gostaríamos de ouvir ideias de como outras regiões do mundo gostariam de
estar envolvidas. Nossa lista de pedidos para os fornecedores de transporte é a
seguinte:

 Exigimos que as autoridades de
transporte público reconheçam as diferenças de gênero e necessidades de seus
passageiros.

– Exigimos que
um transporte público eficaz e seguro seja oferecido a mulheres de todas as
classes socioeconômicas.

– Exigimos que
os provedores de transporte público, de agências governamentais a operadores de
transporte, sejam responsáveis por fornecer transporte seguro para as mulheres.

– Exigimos que
os provedores de transporte público, de agências governamentais a operadores de
transporte, sejam responsabilizados por atos de violência contra as mulheres ao
usar o transporte público.

 Exigimos que os provedores de
transporte público incluam mulheres no processo de planejamento de transportes,
a fim de atender e satisfazer as suas necessidades.

Ao trabalhar
para trazer um transporte público de alta qualidade para as mulheres de todas
as classes socioeconômicas, a EMBARQ México deseja inspirar as mulheres a
assumir a direção no desenvolvimento do transporte público em suas próprias
comunidades, e encorajá-las a chegar a seus destinos, na vida e em suas
carreiras.