O Jorge que o passageiro de João Pessoa espera não é o da Capadócia

Fonte: Blog Josivandro Avelar Matéria/Texto: Josivandro Avelar A fotoarte “Chega Jorge”, publicada no dia 24 de outubro em meu perfil do Facebook, trata do tema mobilidade urbana. E atingiu o alcance ...

Fonte: Blog Josivandro Avelar
Matéria/Texto: Josivandro Avelar

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A fotoarte “Chega Jorge”, publicada no dia 24 de outubro em meu perfil
do Facebook, trata do tema mobilidade urbana. E atingiu o alcance que atingiu
porque os moradores de áreas da cidade de João Pessoa não estão satisfeitas com
a atual política de mobilidade urbana da cidade, aqui retratada no caso da
Viação São Jorge, uma empresa que é sempre citada em João Pessoa quando o
assunto é problemas de transporte urbano. As manifestações a respeito dessa
imagem que abordou um tom de humor foi bem recebida até mesmo por quem faz
parte da empresa. Esta imagem teve 856 compartilhamentos de pessoas da Paraíba
que sabem e sentem como a mobilidade urbana de João Pessoa é.

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O motivo pelo qual estou
escrevendo este esclarecimento se deve ao fato de que algumas pessoas (de fora
da Paraíba, ou seja, não sabiam de que Jorge eu estava falando) pediram que eu
tirasse a imagem do ar por conta do Jorge da Capadócia, como se eu estivesse
fazendo uma referência ao personagem. Ou seja, por razão religiosa (antes fosse
a empresa de ônibus, mas por favor, que fique bem claro, não é). Como todo
mundo sabe, existe um certo desconforto de uma parte dos protestantes à novela “Salve
Jorge” (título que dá a entender que se trata de saudação à figura do São
Jorge), chegando a compartilhar imagens pedindo que as pessoas não vejam a
novela por esta trazer referências que ferem aos princípios religiosos destes.
O
logotipo da “novela” utiliza a mesma tipologia usada no logotipo da obra
televisiva, que se chama XXII Arabian
Onenightstand
, desenvolvida pela Doubletwo Studios em 2007 (cinco
anos antes do departamento de arte da Globo usar a tipologia para compor o logo
da novela). E atrás do logotipo, aparece um ônibus da Viação
São Jorge
, de prefixo 0255. E mais: abaixo aparece o crédito do
autor da fotografia, Arthur Gonçalves. As únicas fotos que não levam crédito
nas fotoartes são as que eu tirei. Esses elementos da fotoarte parecem ser
muito visíveis e evidentes para serem passados despercebidos por quem acreditou
que essa fosse uma manifestação ao Jorge da Capadócia.
Só que
o próprio motivo pelo qual a empresa tem esse nome leva muita gente, em especial
de fora de João Pessoa e da Paraíba, a compreender que a fotoarte tenha um
significado que nada tenha a ver com o que quis propor. Não quis fazer nenhuma
manifestação religiosa, nem muito menos propaganda da novela (eu nem a
assisto). Muito pelo contrário. Quis aproveitar todo o buzz em
cima da divulgação da novela para fazer esse comparativo entre a sinopse que a
novela da TV Globo quis propor e o que os passageiros da Viação São
Jorge
 enfrentam todos os dias, comparando a
espera dos passageiros e a rotina dos moradores das áreas atendidas pela
empresa com uma novela a qual os passageiros não podem perder um capítulo (o
ônibus), porque outro vai demorar a passar.
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Em nenhum momento a Viação
São Jorge
 ou a
AETC-JP (Associação das Empresas de Transporte Coletivo) manifestaram-se a
respeito da imagem. Até porque têm a consciência do efeito que a simples
retirada do ar da mesma pode gerar para a empresa, e apesar dos pesares,
demonstram amadurecimento profissional, uma vez que eles sabem que estão
sujeitos à manifestações dos passageiros (e quantos protestos de estudantes
contra o aumento da passagem eles não já enfrentaram?) e esta foi pacífica. A
própria iniciativa da AETC-JP de realizar um prêmio anual de jornalismo
demonstra a atitude da associação em apoiar qualquer manifestação de liberdade
de expressão, já que a imprensa é uma das esferas da sociedade que mais ajuda a
cobrar pela melhoria dos serviços de mobilidade urbana.
Além
de reforçar o motivo pelo qual eu redijo este esclarecimento, gostaríamos de
mais um pouco da sua paciência para que você conheça a história da Viação
São Jorge
, uma das quatro empresas pertencentes ao Grupo
A.Cândido, que controla 90% do transporte público de João Pessoa, dentre seis
operadoras do sistema.
E
tudo começa com a queda de outro império de transportes da cidade, a Etur, uma
empresa de ônibus que quem viveu em João Pessoa nos anos 1980 e 1990 sabe do
que eu estou falando. As linhas que compuseram a empresa atualmente estão
distribuídas entre três operadoras que pertencem hoje ao mesmo grupo
empresarial: a própria Viação São Jorge, a Reunidas e a Santa Maria.
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No
início dos anos 1990, acontece a primeira cisão da empresa Etur. É nela que
surgem duas outras empresas: a Boa Vista, que tinha como área principal o
conjunto Valentina de Figueiredo, na Zona Sul de João Pessoa…
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…E a
Transurb, que atuava na parte oeste da capital paraibana, nos bairros das
Indústrias, dos Novais, Jardim Planalto, Alto do Mateus e operando a linha
Geisel-Epitácio.
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A
compra da Transurb pelo Grupo A.Cândido (proprietário da empresa Transnacional)
é que dá origem a Viação São Jorge em 1997. E em 2002, os A.Cândido compram a
Empresa Viação Boa Vista, a incorporando a Viação São Jorge. O tamanho atual da
empresa gira em 100 veículos no setor municipal. Destes, 21 carros são
adaptados para cadeirantes, média essa bem baixa para a proporção da empresa.
Por conta disso, a empresa figura com três linhas sem acessibilidade no balanço semestral dos adaptados realizado por este blog.
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Além de
operar cerca de 14 linhas urbanas na cidade de João Pessoa, a São Jorge atua
também em fretamentos para obras e empresas (como a Odebrecht e a Vale). Nesse
segmento, atua nos estados de Pernambuco, Piauí e Maranhão. Possui quase 200
veículos no setor de fretamento.
0244 ex 72158 da transurb
É notável que a
empresa não parecia preparada para o crescimento, tanto que os problemas surgem
aí. E some a isso as alterações das linhas feitas pela Secretaria de Mobilidade
Urbana. Os problemas que acontecem com qualquer empresa parecem se multiplicar
quando o assunto é a Viação São Jorge. Entre outros problemas, podem ser
destacados:
· Atrasos na maioria das linhas. O que
quis dizer com novela, foi isso;
· Superlotação dos coletivos, fazendo
com que os passageiros esperem outro ônibus que pode demorar ainda mais. O que
quis dizer com capítulo de novela, foi isso. Se as pessoas perdem um ônibus,
outro demora a passar;
· Conservação da frota, a maioria
composta por veículos usados do sistema do Rio de Janeiro, que muitas vezes
ultrapassam a idade média de uso e em alguns casos, alguns estão
malconservados. O que quis dizer com “os dragões que os passageiros enfrentam”,
foi isso;
· Motoristas trabalhando em
dupla-função, fazendo o papel de cobradores em linhas de demanda de média a
alta;
E os bairros
mencionados na fotoarte são onde a empresa possui ponto final. E muitas vezes
controla sozinha as linhas de ônibus desses locais, fazendo que os passageiros
não tenham outra opção a não ser “esperar Jorge chegar”. Gente, isso é
o que eu quis dizer! Falei de uma empresa de ônibus que tem por coincidência o
nome Viação São Jorge!
E o problema não é
novo. Antes mesmo da Viação São Jorge existir, a antecessora dela, a Transurb,
já fazia a linha 104 ser motivo de dor de cabeça aos moradores do Bairro das
Indústrias. Essa imagem é do início dos anos 1990 e mostra um ônibus lotado da
linha que serve ao bairro.
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20 anos se
passaram, e você ainda verá essa cena no Bairro das Indústrias, só que num
veículo da Viação São Jorge.
O que as pessoas
que entenderam a mensagem espalharam foi um protesto, uma sátira, uma maneira
de expressar a rotina que enfrentam. E isso não importa a religião ou a
condição social: quem utiliza o serviço da Viação São Jorge entende o que é ser
usuário ou funcionário da empresa.
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Se você não gosta
da novela “Salve Jorge”, reclame na página da novela, numa foto da mesma que você
encontrar no Facebook ou no CAT da Rede Globo. Na minha fotoarte o assunto
não é este. Não falei do São Jorge o “santo cavaleiro”, e sim da Viação
São Jorge LTDA
. Portanto, se o blog deve esclarecimentos pela imagem, deve
à empresa de ônibus citada, e a ninguém mais. Se a empresa, seu
proprietário e seus funcionários não questionaram a fotoarte, não há para quê
alguém não relacionado a empresa (ou que nem a conhece) pedir para tirar do ar,
ainda mais por razão religiosa.Este é um país laico e cada um professa a sua
fé. E a quem não professa, cabe respeitar as diferenças (convivo com essas
diferenças, com mente aberta, e sei disso!). Não tenho culpa se uma novela, uma
sátira e uma empresa de ônibus tem o mesmo nome. Tudo o que faço está dentro
dos meus limites de responsabilidade e de liberdade artística e criativa. E não
será isso que me fará desistir de seguir nessa missão de comunicar.
Procure informar-se
antes de tirar conclusões precipitadas. E se você tem algo a espalhar,
espalhe o amor e a verdade, jamais intolerância.

Conheçam um pouco mais do trabalho do Josivandro Avelar e de seu blog em:  http://www.josivandroavelar.com/2012/11/o-jorge-que-o-passageiro-pessoense.html

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