Transporte público e mais rigor para motociclistas

Fonte: Canal do Ônibus Matéria / Texto: Adamo Bazani A questão do aumento do número de motos tem vários planos de fundo entre sociais, econômicos, políticos e de mobilidade. Dos pontos de vista social ...
Fonte: Canal do Ônibus
Matéria / Texto: Adamo Bazani

moto

A questão do aumento do número de motos tem vários planos de fundo entre sociais, econômicos, políticos e de mobilidade.

Dos pontos de vista social e econômico, a moto acaba sendo forma de sustento para várias pessoas que sentiram as oscilações no nível de emprego nos últimos anos, em especial, uma parcela de mão de obra que não conseguiu mais oferecer a qualificação que o atual mercado de trabalho exige. Até as funções mais simples precisam ser exercidas por profissionais que tenham conhecimentos básicos de informática e melhor comunicação.

A moto para serviços de frete acabou sendo uma opção de trabalho para muita gente. Ela representa também um lado do crescimento da economia informal, já que boa parte dos que trabalham com as motos não possui registro e sequer emite um recibo por seus serviços.
Na questão política, muitos administradores públicos e pleiteantes a cargos em esferas do poder enxergaram que a quantidade crescente de pessoas que possuem motos significa uma parcela expressiva de eleitores. Assim, como ocorreu na gestão de Luis Inácio Lula da Silva, foi concedida uma série de isenções de impostos e incentivos para a compra de motos. Porém, como em boa parcela das ações políticas no Brasil, tudo é feito apenas para agradar e conquistar votos e não de uma maneira séria que meça as conseqüências, os incentivos para compra de motos não foram acompanhados de alterações no Código de Trânsito Brasileiro e nos cursos de formação de condutores que pudessem criar condições para que as motos não fossem sinônimos de poluição, acidentes e mortes.
 Em relação à mobilidade, há dois aspectos fundamentais apontados por especialistas.
O primeiro é que deve haver mais rigor nas leis e fiscalização em relação às motos. É verdade que muitos entregadores que trabalham com motos precisam fazer vários trabalhos por dia, sendo necessária a alta velocidade, para que no final do mês estes motoqueiros tenham um rendimento próximo do que pode ser considerado digno. Mas isso não deve ser justificativa para que vidas sejam colocadas em risco.
 Equipamentos de radares que captem as imagens de motos, inclusive com fotografias da parte traseira, onde as motos têm placas, que consigam multar os motociclistas que em regiões de radares passam bem perto de ônibus e caminhões, cujo grande peso anula a percepção das motos, precisam ter o número ampliado.
A formação dos novos motociclistas precisa ser mais rigorosa, assim como para os que já conseguiram a carteira de habilitação, cursos especiais de reciclagem.
O tráfego de motos nos corredores entre os carros também é uma questão polêmica. É neste momento que ocorre uma parcela considerável de acidentes.
O aumento do número de motos também mostra uma nova fase da mobilidade urbana: não há mais espaço para que os carros de passeio ofereçam a mesma velocidade e o mesmo conforto de alguns anos atrás e os transportes públicos não recebem a atenção que a população merece.
Não são somente os entregadores e pessoas que fazem do veículo seu meio de vida que constituem o universo de motociclistas.  O número de pessoas que usam a moto para trabalhar ou estudar também é crescente.
Muitas destas pessoas têm carros de passeio e serviços de transportes públicos à disposição, mas por conta dos congestionamentos, acabam comprando uma moto para se deslocarem.
 E sem hipocrisia, isso é um problema grande sim pelo número de acidentes maior e pelo fato de as motos poluírem proporcionalmente e em números absolutos mais que os carros de passeio e os ônibus com tecnologia que seguem os padrões Euro V e que usam o diesel S – 50, com menor teor de enxofre.
Para especialistas, não há pulmões das pessoas e espaços nas cidades para que a malha viária seja ampliada para receber tantos carros de passeio.
A solução é uma política de transportes públicos que atue em várias frentes desde a ocupação do solo até o financiamento da operação de transportes.
Na ocupação do solo, o transporte coletivo deve ter prioridade. A questão é óbvia, os ônibus transportam muito mais pessoas num menor espaço e por terem capacidade equivalente a mais de 40 carros cada ônibus, possibilitam menos veículos nas ruas e menos poluição.
E a alternativa mais rápida de implantação e economicamente mais viável é a construção de corredores de ônibus concomitantemente à expansão bem planejada do metrô.
No corredor, os ônibus ganham velocidade operacional e oferecem mais conforto. Em sistemas do tipo BRT (Bus Rapid Transit) é possível usar ônibus maiores, que substituem inclusive uma quantidade maior de ônibus convencionais, e oferecer aos passageiros estações com acessibilidade, informação quanto a linhas e horários e proteção de intempéries em estruturas guarnecidas.
Ao mesmo tempo que o ônibus deve ser mais rápido ele tem de se tornar mais barato.
Hoje muita gente prefere a moto porque a prestação de um veículo deste tipo usado e o abastecimento saem mais em conta que o gasto no acumulado do mês com passagens.
O corredor de ônibus deixa a operação mais barata. Há menor gasto com diesel, com desgaste de peças no para e anda dos congestionamentos e a eficiência do sistema é maior já que com menos ônibus é possível fazer mais viagens.
Além disso, os transportes públicos devem receber incentivos para o barateamento das passagens. Assim, boa parte das pessoas que deixaram de se locomover por meios públicos por conta das tarifas voltaria a usar os transportes coletivos.
Estes incentivos poderiam vir por fontes como tarifação da circulação de carros de passeio em áreas de grandes congestionamentos, como o pedágio urbano, e redução direta de alguns impostos. O que o poder público economizaria com saúde por conta da diminuição da poluição e do número de acidentes e também com grandes obras viárias deixaria qualquer incentivo para o barateamento das passagens de ônibus vantajoso para os cofres públicos.
Assim, para resolver o problema do crescimento do número de motos, sua poluição, acidentes e mortes, o transporte público é uma das principais alternativas. Caso contrário, sem usar de pessimismo, mas de realismo, estes trágicos números de mortes e acidentes só tendem a aumentar.
Os dados se referem ao período entre 2005 e 2011 somente na Capital Paulista.
  
MORTOS POR TIPO DE VEÍCULO
Carros de Passeio:
2005 – 653 mortos
2011 – 708 mortos
Crescimento de 8,4% de óbitos
  
Motos:
2005 – 421 mortos
2011 – 627 mortos
Crescimento de 48,9% de óbitos
Ônibus:
2005 – 267 mortos
2011 – 225 mortos
Queda de 15,7% de óbitos
  
Caminhões:
  
2005 – 166 mortos
2011 – 187 mortos
Aumento de 12,6%
  
Bicicletas:
  
2005 – 99 mortos
2011 – 52 mortos
Queda de 47,4% de óbitos.
  
QUANTIDADE DA FROTA INFLUENCIA OS NÚMEROS DE MORTES:
O crescimento no número de motos e as poucas atenções e políticas que beneficiem os transportes públicos para que estes se tornem mais rápidos e baratos justifica parte da quantidade de acidentes e mortos com carros de passeio e motos.
Enquanto na cidade de São Paulo, nos últimos seis anos a frota de ônibus municipais ganhou apenas 28 veículos a mais, no universo de 15 mil ônibus, a quantidade de motos aumentou em 133% e a de carros, 36%.
  
Carros de Passeio:
2005: 3,4 milhões
2011: 4,34 milhões
Aumento de 36%
  
Motos:
2005: 322 mil
2011: 750 mil
Aumento de 133%.