Fichas de ônibus – Histórico da utilização das fichas

Fonte da Matéria / Autoria do texto: Colecionador Eduardo Cunha E-mail pessoal para contato: [email protected] Do Site Relatos de Viagem: http://www.rdvetc.com/ A instituição da ficha nos transportes ...
Fonte da Matéria / Autoria do texto: Colecionador Eduardo Cunha
E-mail pessoal para contato: [email protected]
Do Site Relatos de Viagem: http://www.rdvetc.com/
digitalizar0001A instituição da ficha nos transportes coletivos brasileiros não é uma idéia ou invenção brasileira. Sua utilização foi decorrente de fatores inerentes aos vários tipos de transporte, as suas necessidades e as circunstâncias específicas de cada um. Você já ouviu falar de fichas de ônibus? Sim, não?! Caso você tenha ouvido falar alguma vez, você irá gostar de relembrar dessas clássicas fichas do transporte público. Mas caso você não sabia da existência, na atualidade ou no passado, desse tipo de ficha, essa matéria tem exatamente tudo a respeito delas. Na foto ao lado, uma antiga ficha da empresa Autoviária Rainha da Borborema, de Campina Grande; possivelmente a atual Empresa de Transportes Borborema, existente até hoje. Não deixem de ver essa matéria completa, cliquem aqui para vê-la inteira e saibam mais sobre as fichas de ônibus!!!

* Prefácio: Antes de começarmos a matéria, nós do Portal OnibusParaibanos.com gostaríamos de agradecer imensamente ao colecionador de fichas antigas Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro, pelo envio da matéria e de parte de sua coleção de fichas em fotos para divulgação, inclusive sua única ficha da coleção de origem paraibana, da empresa Borborema, de Campina Grande exibida logo acima.


Qualquer pessoa que leia essa matéria e saiba ou tenha alguma ficha de ônibus, pedimos por favor que entrem em contato com o colecionador Eduardo Cunha através de seu e-mail: [email protected]
ou entrem em contato conosco clicando aqui e enviando as informações que encaminharemos, pois é algo de grande valor de coleção e histórico sobre parte do transporte público. Se você, caro leitor, de repente não tenha fichas antigas, mas conheça alguém que tenha, não deixe de repassar 🙂

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Continuando a matéria…: Vale salientar que independente das situações específicas também existiram fatores, culturais, “importados” e tecnológicos, que causaram suas adoções. Como exemplos destes fatores, temos:

– evasão de renda;
– diferentes distâncias gerando automaticamente diferentes preços nas passagens;
– empresários estrangeiros operando concessões nacionais e trazendo seus “hábitos”;
– catracas sem mecanismos para contagem da quantidade de voltas dadas etc.
Premissas

Significado: As fichas são reconhecidas mundialmente como objetos de troca (entenda-se aqui a palavra troca, como a substituição por algo de valor, quer seja financeiro ou não). Isto faz com que sejam comparadas as moedas, e por este motivo passam a ter e tem, valor fiduciário legal.
Origem: Sua origem foi diversifica, servindo para vários fins (meios de transporte, comércio em geral (bares, lojas etc.), bancos etc.), porém tendo como objetivo a troca, sendo que em algumas situações sem tempo de validade e em outras restrita ao momento. No nosso caso do transporte coletivo, em épocas passadas restritas ao momento e atualmente com prazo de expiração maior e/ou ilimitado, como veremos adiante.


Materiais Utilizados

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Frota da emp. Borborema, Campina Grande, década de 40

Por sua semelhança e “finalidade” compatíveis com as moedas, inicialmente, foram produzidas com materiais nobres, similares às próprias moedas, tais quais bronze, metal amarelo, cobre, níquel, alumínio etc. Com o passar do tempo, foram gradativamente mudando para materiais mais modernos e também mais baratos, como baquelite, galalite, plástico, plástico flexível, ligas etc. As versões atuais, da década de 90, utilizam uma tecnologia que associa o plástico a códigos óticos, onde são armazenadas informações que serão lidas e validadas por equipamentos de informática. Nessa foto antiga, a frota da empresa Borborema de Campina Grande pela década de 40; possivelmente esses ônibus utilizaram as tais fichas.

Em função dos tipos de materiais utilizado, fica claro que fichas são peças fabricadas com materiais resistentes, que não podem e nem devem ser confundidas com bilhetes e/ou passagens de papel ou materiais similares.
Algumas Fichas da Coleção

Viação Excelsior: Empresa da Light (companhia elétrica do RJ) que também explorava os bonde do Rio. Foi a primeira empresa de ônibus no Brasil, a utilizar-se de fichas. Esta específica circulou de 32 até 40 aproximadamente em ônibus de dois andares carinhosamente apelidados de chopp duplo.

Empresa Interestadual de Ômnibus de Luxo Ltda. – Limousine Federal: Também do Rio e pela grafia da para notar que é bem antiga. Circulou entre as décadas de 30 e 40.

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Empresa São José (Oliveira Paula): Origem desconhecida, provavelmente interior de São Paulo. Década de 40, pois no reverso a palavra telefone está escrita com grafia antiga (telephone).

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Prefeitura Municipal de Porto Alegre – D.A.T.C. (Departamento Autônomo de Transportes Coletivos): Apesar de estampado o nome da prefeitura de POA, soube que estas foram usadas por uma linha intermunicipal entre POA e Guaíra, na década de 50.

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PAN (Transportes Paranapuãn Ltda.): Também Rio, ligando o centro a Ilha do Governador, com a seção de validade estampada na ficha (Castelo e Bananal). Década de 60.

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Bandeirantes Auto Ônibus S.A.: Também Rio, tendo como curiosidade o formato da ficha, somente usada por duas empresas. Um formato que lembra os biscoitos Maizena. Também década de 60.

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Nomenclatura

Entendemos por transportes coletivos brasileiros que tenham utilizado ou utilizem fichas, os seguintes tipos conforme descritos:
  1. Trem: Meio de transporte ferroviário, que utiliza tração elétrica ou animal;
  2. Metrô, Metro ou Metropolitano: Meio de transporte ferroviário que utiliza tração elétrica;
  3. Barco: Meio de transporte marítimo ou fluvial;
  4. Bonde: Meio de transporte terrestre urbano, que utiliza tração elétrica ou animal;
  5. Lotação: Meio de transporte terrestre urbano, com capacidade máxima de 30 passageiros e uma única porta de acesso;
  6. Ônibus Elétrico: Meio de transporte terrestre urbano, que utiliza tração elétrica, com capacidade superior a 30 passageiros e duas ou mais portas de acesso;
  7. microônibus e/ou Ônibus: Meio de transporte terrestre urbano e/ou interurbano, com capacidade superior a 30 passageiros e duas ou mais portas de acesso.

Utilizações

Como citamos, cada tipo de transporte utilizou (e em alguns ainda utiliza) conforme suas condições e situações, que passamos a expor:
Para tipos 1, 2 e 3: A cobrança da passagem era feita em bilheterias e não no interior do veículo. Por isso eram utilizadas as fichas ou os bilhetes, em função das distâncias percorridas (para trens e metros) e dos tipos de acomodação ou localização do passageiro (para trens e barcos).
Ilustração: Em 1864 a Companhia Nictherói & Inhomerim, uma das operadoras que exploravam a concessão de barcas entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, disponibilizava aos seus usuários aproximadamente 15 preços diferenciados de passagem, em função da localização do passageiro dentro das barcas. Estas fichas no formato ovalado, foram cunhadas em bronze e fabricadas em Londres. Eram verdadeiras medalhas, muito mais bonitas do que muitas moedas circulantes no mundo, na época.
Para tipo 4: Como existiam tipos distintos de bondes, totalmente abertos ou com portas dianteiras e traseiras, existiam também condições diferentes de efetuar a cobrança da passagem:
– para os totalmente abertos, um cobrador circulava pelo estribo do bonde e a proporção que cobrava e recebia o pagamento da passagem, registrava em um marcador tipo relógio. Este controle era totalmente visual e sem nenhum recibo para o passageiro; e
– para aqueles com portas dianteiras e traseiras, o cobrador ao receber o pagamento da passagem retornava ao passageiro uma ficha ou um bilhete, que deveria ser depositado, ao sair do veículo, em uma caixa coletora.
Para tipos 5, 6 e 7: Estes tipos de veículos, apesar de terem diferentes nomenclaturas, possuem uma linha similar como meios de transporte. Suas diferenças básicas são a quantidade de passageiros transportados e as portas de acesso.
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Verso da ficha da Borborema, Campina Grande/PB anos 40

Para os colecionadores de fichas de transporte estes 3 meios, no Brasil, forneceram e fornecem aproximadamente 97% de todo o material colecionável existente, pois a grande maioria dos fatores para utilização das fichas, para eles se aplicaram. Vamos analisar cada fator citado e, dentro do possível, ilustrá-los:

Importado: Alguns dos veículos comprados no exterior, vinham equipados com caixas coletoras, que tinham como finalidade o depósito do valor da passagem, em moedas e na presença do motorista, pelo passageiro ao embarcar ou desembarcar do veículo (veja item 1 do fator Cultural).
Ilustração: Em alguns países estas caixas coletoras eram e ainda são utilizadas, não só para depósito de moedas como também para fichas, que correspondem ao valor da passagem e são vendidas antecipadamente por um preço mais barato conforme a quantidade adquirida.
Cultural:

1) Associado ao item 1 do fator Importado – O aumento constante nos preços das passagens criou um problema para o motorista: conferir o valor depositado em moedas pelo passageiro na caixa coletora, devido a quantidade das mesmas. Culturalmente falando, a grande maioria das moedas depositadas não era compatível com o valor que deveria ser pago, o que na melhor hipótese significava uma evasão de renda.
2) Em muitas capitais brasileiras, à proporção que elas cresceram, foram adotadas as “seções” pois se a operadora mantivesse um único preço para todo o percurso, somente teria como usuários aqueles passageiros que morassem nas cercanias do fim da linha e estaria perdendo todos aqueles outros intermediários que não iriam querer pagar uma passagem inteira por um percurso menor.
Ilustração: Para solucionar os problemas dos itens 1 e 2, foram adotadas as fichas que são reusáveis, quando comparadas a bilhetes ou passagens. A primeira operadora no Brasil a instituir o sistema foi a Viação Excelsior, do Rio de Janeiro, que na década de 30 substituiu as moedas por grandes fichas de alumínio, confeccionadas artesanalmente em suas garagens.
Nesta ocasião os trocadores receberam a denominação de cobradores, pois inicialmente sua atividade no interior do ônibus era restrita à troca de dinheiro graúdo (cédulas) por dinheiro miúdo (moedas) e após o advento das fichas, começaram entregando as fichas aos passageiros e posteriormente além da entrega das fichas também recebiam o pagamento da passagem.

Tecnológico:

As roletas ou catracas existentes e/ou fabricadas no Brasil, não possuíam mecanismos para contagem da quantidade de voltas dadas, ou seja a quantidade de passageiros que pagaram passagens. Dessa forma eram necessárias as fichas ou bilhetes para contabilizar a quantidade de passagens vendidas e a receita diária de cada veículo.
Ilustração: Inicialmente os trocadores e cobradores trabalhavam em pé, circulando pelo veículo. Com o passar do tempo, os cobradores foram “premiados” com um banco localizado perto da porta traseira, acompanhado de uma pequena mesa com gaveta para guardar o dinheiro e as fichas ou bilhetes. Devido a outro fator cultural, o “calote”, foram colocadas roletas para que os passageiros passassem um a um e pagassem as passagens.
Atualidade:

Em função de procedimentos para unificação dos preços das passagens, independente dos fatores distância entre localidades e principalmente para reduzir os custos da população mais carente que normalmente mora mais longe, a utilização das fichas foi radicalmente reduzida e até eliminada na maioria das cidades brasileiras.
Todavia a criação dos vales transporte, escolar e idoso, reativou novamente o uso das fichas em algumas cidades, pois outras adotaram os vales na forma de papel, ou mais atualmente em forma de cartões inteligentes (smart cards, os conhecidos “Passe Legal” em João Pessoa), que são recarregáveis. Estas fichas modernas, em número infinitamente reduzido em relação à épocas passadas, são feitas em plástico e contém uma liga “ótica”. Elas são reconhecidas por catracas eletrônicas para posteriormente serem contabilizadas por equipamentos de informática e trouxeram mais uma vez a oportunidade dos colecionadores de fichas aumentarem seus acervos, como também e principalmente manterem vivas suas esperanças de conseguirem novos exemplares, que de uma forma bem objetiva, direta e cultural contam e mostram uma história da nossa civilização.